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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Festa Literária


Começou com a estrada...o povo aqui ate estranhou..há tantos anos ninguém ligava pra esta estrada..tinha buraco atrás de buraco;uns remendados outros escancarados....E acabava ano entrava ano e nada de arrumar.

De repente, caminhão a não poder mais..com pedronas, pedrinhas, asfalto novo..cheiro de pixe no ar..os cães curiosos.. apareciam pra ver que era aquilo..e tinha gente tb..nunca tinham visto "fazer asfalto".

Ficou pronto na sexta-feira. No sábado, o helicóptero do Serra baixou na roça. Hoje fui no supermercado da dona Maria e ela disse: "-Os homé olharam nóis la de cima.tinha que vir aqui no chão, pra ver como é bão...". E riu. Foi ela que perdeu tudo no supermercado quando o rio encheu e deixou a praça do coreto debaixo dágua..Não apareceu ninguem pra ajudar..só nós mesmo.. vizinhos!

Mas neste sábado a praça do coreto tava em roupa de gala..tinha gente de fora...Loyola, Serra, gente "de berço", com carrão todo preto, último modelo, estacionado na praça, que nunca viu tanta gente. Feira Cultural, Literária, com autores do Vale, de Sampa, do mundo.

Tinha câmeras da Cultura, da Globo..tinha gente de montão..que eu nunca vi. Comeram bolinho caipira, famoso aqui da região, de farinha de milho e carne moida com gengibre..tomaram quentão e vinho quente.

Mas sabem o que tava faltando? O povo da roça, gente. Não foi ninguém. Fiquei horas por lá, procurando Dona Maria, "seu" Isaías, "Seu" João do Açougue, Dona Olivia, a Queila com a criançada...nem o Cowboy do Xandinho tava lá com seus cavalos pra alugar. Não sei o que deu neste povo da cidade, que vem comemorar livro na roça e esquece do "povo da roça".

Povo que não sabe escrever, que tem vergonha de ser quem se é...seja homem ou mulher, criança ou velho, é obra de arte, marcado na pele enrugada prematuramente pelo sol e pela enxada puxada desde cedo.
Gente que não foi comemorar coisa de "gente de bem". Fui embora.
Fui pra casa do Bambuíra e da Lelê que tocaram viola pro governador e sairam pelos fundos, pra não atrapalhar as conversas dos políticos.

Coisa doida. Agora fica a estrada lá, pros carrões voltarem nos finais de semana. "Seu" Isaías ainda anda pelas estradas de terra mesmo, no "pois é" vermelho que custa pra pegar.

Minha festa tem outra cara. Daquelas de tirar a palavra da boca. Fica so o sorriso de quem ta de bem com a vida. Sorriso que eu não sorri na Festa Literária.

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