Fui andar. É bom caminhar pela estrada do sítio. Dá pra ver os seres pequenos que habitam no mato, dá pra acompanhar o crescimento dos pinheiros que brotaram todos em linha reta, como soldados de madeira. Dá pra brincar com os cães, que adoram brincar no rio e chegam molhados e cheirando mal...
E por falar em cheirar mal, roça também tem bezerro morto no meio a estrada, cujo dono largou lá apodrecendo porque dá trabalho recolher bicho morto. O povo aqui costuma jogar tudo no rio. Coisa medonha de ser fazer. O cadáver vai afastando , se enroscando nos galhos e pára, invariavelmente, numa curva de rio.
E eu com isso??? É que eu tenho uma curva de rio na minha propriedade. E isso quer dizer que tudo pára lá. Mas isso é outra estória.
E lá fui eu, andando pela roça, quando viro a esquina de terra e vejo quem?? Silvio e Vivi, meus queridos amigos e Maluá e Cristiane.
Ai começa minha estória;
Coisa de gente diferente, de amigos que se misturam na natureza e inspiram outros a dar valor ao verde e à vida.
Maluá é dedo verde. Caboclo rústico, anda descalço, pegou uma preá morta do chão com os dedos e foi jogar na mata. Já tava cheirando mal. Ufa, pensei. Rústico.
Eles moram em casa simples, casa de gente da roça. Mas já foram pra Suíça, plantar cerejas. A Cris, quando chegou lá, teve um AVC. Veio de maca pro Brasil. Perderam tudo pra voltar pra casa. Sabe como é...gente sem documentos, em hospital da Suíça, acaba pagando muito. Aí voltaram pra roça, aqui na terra brasilis.
E foram morar perto do sitio do Pica-pau amarelo. Por isso eles acham que moram num vortex de maluquice, fruto da aproximação com o Sítio, local já conhecido pelas maluquices.
Maluá e Cris é um casal comum, só que não são comuns em sua vida comum. São seres diferentes dos outros que caminham pelo asfalto ou terra.
Quer ver?? Eles tem uma ovelha, a Méh, que anda com os cães como se fosse um deles. Quando os cães se agitam, correndo atrás de carros ou motoqueiros pela roça afora, a Méh sai quicando nas 4 patas, durinha, correndo aos pulos com os cães, engrossando o caldo da gritaria.
Quando a Cris e o Malúa chegam de carro, é a Méh quem chega primeiro pra festa no pelo macio e branco.
O galo adora um pato, que se entrega feliz aos prazeres com o galináceo, que procura pelo amante pato no meio dos animais. Se adoram.
Tem também um bode que adora as vacas. Não pode ver uma no cio, que sai feito doido atrás da tal, achando que é um boi dos bons. E aí do boi que for reclamar da diferença de espécies... aí do boi, que leva chifrada na barriga. O Bode já quase matou um assim.
Ninguém comenta estas coisas, porque aqui é assim..tem passagens para locais e pessoas diferentes do normal, tem lugar pra bode trepar com vaca, pra bater em boi. Tem lugar pra galo trepar com pato sem problema de consciência. Tem lugar pra ovelha que pensa que é cachorro.
Tem lugar pra sentar na varanda e pitar um pitinho da roça, destes que fazem figuras de fumaça no ar.
Tem lugar e tempo pra viver, e viver bem...
Vem, vem pra roça você também.