Ufa... sentada hoje navegando na net com um café quentinho para esquentar no frio da roça bem cedinho, me deparei com algo, e eu ainda não sei o que exatamente, que me fez lembrar um acontecido, há 40 anos atrás, comigo. Foi uma viagem psicológica, vamos dizer assim..algo visivelmente criado pela minha mente.
Eu deveria ter uns 8 ou 9 anos. Havia brigado com minha irmã por besteira, mas o mundo naquela hora havia se transformado em algum lugar muito nervoso para viver. Como todas as besteiras que provocam brigas, eu não me lembro que besteira era. Minha irmã entrou na casa da rua Princesa Leopoldina e eu fiquei na calçada, decerto balbuciando impropérios para a mana mais nova.
Aí eu não lembro muita coisa..me sentei na escada que levava para o hall de entrada, com suas enormes portas de vidro e devo ter adormecido. Lembra de um episódio do Dr.House, quando ele começou com alucinações e não sabia mais diferenciar o que era falso do real? Então, eu entrei em alguma zona mental assim, eu acho...
... Porque eu adormeci, eu acho. Eu estava deitada nas pedras São Tomé, grandes e quentes da escada, e a luz veio de cima, de um pequeno disco dourado que sobrevoava a minha casa.. Como seu eu fosse uma observadora externa (porque a partir desta luz, eu me via mas sentia tudo o que "eu sentia" dentro do corpo da menina..sabe??), vi quando o facho de luz iluminou meu corpo deitado e o transportou para cima, como num teletransporte...como nos filmes de abdução. Mas imediatamente após puxar o corpo, a luz desapareceu e o corpo estava lá, deitado, na mesma posição de quando subiu.
Vi quando eu acordei olhando para cima, sem ver nada. O disco não estava mais lá, e obviamente foi um sonho passageiro, vivido como real naqueles segundos de apagão. Me levantei e subi o resto dos degraus, estranhando encontrar a porta de vidro fechada com chave. Não havia ouvido minha mãe ou meu pai trancar a porta, mas acho que foi porque eu dormi... Bati na porta, que estava trancada mesmo.
Nada. Desci e apertei a campainha. Era alta e dava para ouvir do lado de fora. Era ruim, porque minha casa era passagem de escola e aí já viu..dezenas de meninos apertavam a campainha e ficavam escutando ela apitar como sirene de bombardeio aéreo. Quando minha mãe chegava na janela, eles corriam felizes com a traquinagem.
Meu pai apareceu na mureta que havia antes do hall. Parávamos lá para observar quem tocava a campainha. Como as portas eram de vidro, minha mãe colocou plantas, numa época, para disfarçar nossas cabeças entre as folhagens para não sermos vistos. Esta tática materna me fazia sentir ridícula, olhando entre folhas a pessoa lá fora que por sua vez, fazia esforço para achar alguém entre as folhagens..kkkkkk
A chave girou. A porta abriu, e a pergunta que eu ouvi me desconcertou:
"-Pois não, menina, o que você quer? Está perdida?
-Pai??"
Ele se abaixou para ficar na minha altura. Não fez menção de sair e vir até mim. Ficou na soleira, parado, com cara de dó.
"-Você não sabe onde está?"
Eu não me lembro se eu falava algo diferente de pai, pai, pai, ficando cada vez mais nervosa por ver que ele estava me ignorando, brincando que não me conhecia mais.
Meus olhos foram até a direção da mureta. Vi minha irmã, com uma roupa de bailarina rosa, com enormes fitas rosas na cabeça. Quando foi que ela ganhou esta roupa?? Que laços eram aqueles?? Que vestido estranho, que eu nunca havia visto..e por que eu não ganhei um igual???
Digreção: minha mãe não era nenhuma maluca, e não criou Normam Beates por ai.... mas quando éramos pequenas, minha irmã e eu recebíamos dos pais roupas iguais.. ela de uma cor e eu de outra. Então porque eu não ganhei uma roupa daquelas?? Por que só a Paula ganhou uma roupa rosa de bailarina??
Minha mãe veio até a porta. Eu pensei que ela me reconheceria, mas não. Ficaram os três, na soleira da porta, me oferecendo um prato de comida ou ajuda para encontrar meus pais, enquanto meu desespero aumentava até quase desmaiar de medo.
Foi assim que eu acordei, com minha mãe na porta perguntando se eu estava bem??