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sexta-feira, 21 de março de 2014

Vamos esperar o mundo acabar???

Eu venho uma vez por mês para a cidade grande, pegar meus remédios no SUS. Eu tenho Polimiosite, e meus músculos, sem este remédio, viram geleia. E aí tudo dói, para falar, para piscar, para coçar os cabelos, para andar e viver em paz. Venho com dor no coração, de largar todo mundo (meu sítio, meu cão, meus gatos) por lá dias a fio, e eu aqui. Eu agradeço por isso (pelo SUS dar meu remédio, que é bem caro), mas meu coração fica lá no mato. Eu converso muito com os taxistas. Quase não encontrei um que não ficasse com vontade de largar tudo e morar no mato. Se a única verdade que sabemos, desde que nascemos, é que vamos morrer, porque continuamos na luta maluca por dinheiro, por uma "vida melhor" (????? como assim melhor??? Aqui??? Como podemos achar que a vida aqui é melhor???? E que nunca chega!!) numa cidade tão perturbada como São Paulo? Vejo milhares de pessoas andando pelas ruas de rostos fechados, olhando para os lados assustados... Vejo que vão e vem sem muita energia, apenas caminhando pela inércia, porque precisam do dinheiro, do trabalho... É assim que vivemos. Na ilusão. Na loucura. Nossos corpos se acostumam com a dor. Se acostumam com o aperto, na multidão que força a passagem no metrô. Se acostumam a desviar os olhos de mendigos e drogados, fechando a janela para fugir do cheiro forte de urina debaixo das passarelas e viadutos. Tristeza feia. Tem coisa boa?? Será que estas coisas boas não poderiam estar espalhadas nas cidades do interior?? Para todos?? Vamos esperar o mundo acabar?? Queremos ser felizes hoje, certo??