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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Os Sete pilares da sabedoria e outros escritos

Hoje fui fazer uma limpeza em parte de meu armário. Aquelas coisas importantes para deixar minha vida mais leve, mais gostosa de caminhar: menos roupas, menos tranqueiras uteis que não são usadas (então não estão na "plenitude de suas forças"), papeis velhos lidos pela enésima vez e, por fim, jogados fora. Alguns acabam sendo copiados (estavam velhos, manchados ou presos em algo que vai pro lixo já já).

Vou escrever aqui algumas destas frases, tiradas do livro Os sete pilares da Sabedoria, de T.E. Lawrence. Simplesmente perturbador ler sobre cultura tão diferente da minha.
Gente, que livro incrível escrito por esta figura não mais crível: Lawrence da Arábia, famoso tenente da Rainha, em missão na arábia, um participante ativo e fundamental no nascimento do que hoje se conhece dos Países Árabes.

"Sofrer por outro na simplicidade, proporcionava uma sensação de grandeza. A redenção sincera devia ser espontânea e infantil. Quando o "expiador" estava consciente de 2ªs intenções e da glória posterior do seu ato, ambas as coisas se desperdiçavam".

"O homem podia se elevar à qq altura, mas havia um nível animal abaixo do qual ele não podia cair".

"Sentimentos e ilusões estavam sempre em guerra dentro de mim. A razão era forte o bastante para vencer, mas não suficientemente forte para aniquilar o vencido ou se abster de gostar ainda mais dele".

"Eles falavam de comida e doenças, diversões e prazeres, logo comigo, que achava que reconhecer a posse de nossos corpos já era degradação suficiente, sem que fosse preciso ampliá-la com suas falhas e atributos".

"Para o homem racional, as guerras de nacionalidade eram tão fraudulentas quanto as guerras religiosas, pois não valia a pena lutar por qualquer coisa; a própria luta, o ato de lutar, também não se expressava qualquer virtude intrínseca."

De outros escritos, infelizmente anônimos, cito:

"O Corpo,

É escrínio divino gerado para conter, no espaço e no tempo, tesouros de luz, que os séculos foram trazendo à Essência Divina;

É parte visível e palpável de outro ser, bem maior e mais sábio, que utiliza essa parte material para crescer;

É o limite, a fronteira entre meu ser e o próximo, mostrando até onde eu posso ir e até onde posso deixar que os outros cheguem;

É o templo onde não consigo aprisionar Deus, onde meu Espírito se manifesta e mergulha no mundo das formas;

Por fim, será a casca de divino fruto, que rompida, projetará a Essência, para continuar uma jornada que não tem fim, crescendo no seio do Próprio Criador."

Coleção primavera/verão na roça

Aqui na roça dormir e acordar é algo feito com milhares de outros seres que, invisíveis ou não, estão em toda parte.
A rotina, para mim, é deitar na cama, depois de um longo dia (quente, diga-se de passagem!!), e ouvir o "silêncio" da noite... Mas morcegos, pássaros noturnos (tem vários aqui por perto) e outros seres das matas me chamam a atenção, e eu acabo dormindo nesta busca pelos sons, passado muuuuto tempo depois de deitar na tal cama...

Morcegos andando no forro, juntamente com várias espécies de pássaros, saindo quando a noite chega. Dá para saber em qual telha estão. Não se importam com o barulho que fazem, mas reconheço que suas casas devem ser mais limpas que a de meu vizinho que cria porcos, lá no vale, pois os cocôs estão por toda parte no chão aqui de casa. Afora isso, não atrapalham em nada. Com seu sonar eficiente, passam a dar um show de manobras arriscadas entre árvores e pessoas.

Os pássaros que vivem no telhado são mais barulhentos... o ninho do lado de fora do escritório está bombando, e eu sei que, daqui a pouco, terei que colocar um veneninho básico nas paredes, evitando assim aquela onda de carrapatos descendo do ninho até quase direto meus pés, sabe??? Estão nidificando, multiplicando-se, e até aí, tudo bem.... daqui a pouco ensinam seu(s) filhote(s) a voar(em). Apesar do tamanho, estes pequenos seres alados tem grande valentia. Dão vôos rasantes em cabeças desavisadas, levando fios de cabelo e provocando um estalo no ouvido. Gosto de andar com desavisados urbanóides pela lateral da casa, onde o bombardeio é maior...

Tudo bem...sacanagem né??

Tem pássaros diurnos (e noturnos) aparecendo de montão, e os observadores estão em alvoroça. Com a maior preservação do meio-ambiente, os alados estão voltando.

Tem lobo guará com filhote na serra, tem jaguatirica nervosa (deve ter filhote também), tem ariranha (já comeu o galo do meu vizinho no final de semana. Na verdade, comeu a galinha no sábado. O galo foi no domingo), tem muriqui (este eu nunca vi, mas já apareceu um, que ficou na torre da igreja, olhando para o povo na praça que se espantava do tamanho do bicho)...tem bicho gente, que chega de toda parte.

Tem a Cris, que é cantora, cantora boa, de verdade. Perdeu tudo na virada da vida. Tá morando num casebre lá no bairro dos Ferreira, feliz. Arrumou casa, móveis os amigos estão dando. E ela senta, quase á moda da roça, acende seu pito e diz: "-Já vivi muito nesta vida e ainda vou viver muitas mais...". Conta seus causos, conta o porquê de lá estar, entre um canto e outro. Vai pintar e viver feliz, pois já conheceu o Silvio, que faz letra pra música...e vive só na casinha ao lado do rio, onde toma banho pelado quase todo dia. Silvio agora está trabalhando pro "Cézinha", que quer ser vereador aqui pra "ajudar os amigos da roça".

Tem a Índia, que está morrendo com AIDS. Minha amiga está indo embora, e eu sei que a Natureza vai ficar mais pobre quando ela se for.

Tem a Lelê, que com a vinda da Cris, sofre de ciúmes, pois o marido, Bambuíra, toca violão e faz música de montão com a nova vizinha. Fica brava, pelos cantos, catando roupas dos filhos, que largam tudo pela casa.

Tem a Rebeca e o Marcus, que acordaram de manhã com uma gata nova dentro de casa. Entrou por alguma coisa aberta, porque aqui na roça é assim: algo sempre fica aberto para bichos entrarem , mesmo que você feche tudo antes. Entende? E a gata deu 4 filhotinhos semana passada. Fui ver os rebentos, poucas horas depois do parto. Lindos. Marcus e Rebeca vão morar na própria terra. Vão viver na roça de verdade.

Tem o Humberto, que voltou de férias. Foi ganhar a vida no nordeste. Já conheceu a Cris, que já conheceu o Humberto. Sacou??

Tem a Zê, que acorda 8 da manhã e vai fazer budas para o templo ser construído. Só lembra de comer quando a noite chega. A médica me chamou e disse "-Você tem que fazer sua amiga comer!!! Ela está magérrima e com um buraco no estômago". "Putz, pensei eu, fazer a Zê comer vai ser duro!!". Dei bronca.... falei firme....perguntei se tinha entendido. Tudo certo. Ela entendeu. Mas eu sei, lá no fundo, que não comeu ainda do jeito certo.

Tem o Armando, que separou da Sandra, por causa de bobeira. Sofre demais. Não sorri e anda mole pelas ruas. Ela, ao contrário, remoçou. Deu pena de ver o amigo assim murcho. Mas vai reviver logo, logo!!

Tanta gente...
Gente de toda cor e dor,
de todo tamanho e altura,
de todo jeito!!
Nem sempre em convivência pacífica...mas ali, na mesma onda que a vida dá.
E esta primavera, que nem começou, promete muita estória....