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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Para amar Tolkien.


 A reportagem é antiga, o assunto, atual.


Minha família paterna é composta de ex-combatentes da Segunda GGM. Posso contar algumas estórias sobre guerra, estórias que não são minhas, mas de gente bem próxima á mim. Mas sempre que eu perguntava algo sobre campos de concentração ou batalhas, me perguntavam o que eu queria mesmo saber? Qual era a minha intenção? O que eu não sabia? O que eu faria com as revelações de dor deles? Saber das atrocidades eu já sabia... Precisava de mais “Cor” nos relatos? Por que?

Escrever, para mim, muitas vezes, é exorcismo. Não de demônios bíblicos entranhados no meu corpo (ou de alguém próximo) mas de ideias, sentimentos, que, estes sim, entranhados em mim, ficam me atormentando de quando em quando. Escrever põe estes demônios nos devidos lugares. Fazê-lo publicamente é outra estória. É apenas questão de escolha a quem deixar plantar sementes em solo sagrado (eu mesma). Que quero eu saber de guerras e escarros e sangue e merda que eu já não saiba? Porque sentir a necessidade de colocar essa dor e esses sofrimentos (tão “romanos” aliás...estórias de Roma antiga, tão bem descritas e filmadas por ai, nunca mudaram a concepção que as pessoas tem da guerra. Não passam a mensagem que deveriam passar: guerrear não compensa. A realidade da guerra e da “vida”, contada nua e crua (... com soldados defecando e escarrando...), portanto, não melhora ninguém.) para as pessoas??

Falar de minha escolha (pessoal) de encontrar em Tolkien, muitas forças e exemplos, que não vejo muito difundidos por ai. Qualidade. Qualidade que encontro nos relatos de Tolkien. Relatos de guerras sangrentas, SIM, de soldados lutando em batalhas cruéis, SIM, de defecados e ensanguentados, SIM, de muita dor e sofrimento, SIM, de expressão da realidade, SIM, sem utopismos ou fugas, SIM, com a realidade nua e crua PARA QUEM QUISER VER.
Mas escritas de uma forma (PENSO EU) premeditadamente velada: que tipo de mensagens quero passar para as gerações que não viram com os próprios olhos as dores de uma guerra? COMO eu passo uma mensagem de que guerra é ruim, sem mais traumas, sem mais dor, Que livros quero escrever para que meus filhos leiam?

Da primeira guerra, tenho apenas os relatos, as fotos e a documentação de um dos episódios mais dolorosos passados pelo nosso planeta e pela humanidade (estúpida) que nele vive e se mata.

Alguém já ouviu falar na batalha do Somme?

“A Batalha do Somme foi uma das mais terríveis da 1ª Guerra Mundial, senão de todos os tempos. Em nenhuma guerra, antes ou desde então, o Exército Britânico perdeu tantos homens no primeiro dia de uma batalha – cerca de 58.000. Em Waterloo, as baixas foram de cerca de 8.500 homens; durante o “Dia-D”, na 2ª Guerra Mundial, houve cerca de 4.000 baixas britânicas e canadenses. No primeiro dia da Batalha do Somme, as baixas britânicas excederam a todas as suas baixas nas guerras da Coréia, Boers e da Criméia juntas. Todos os países da Commonwealth estiveram envolvidos nela e, portanto, por todo o mundo, a palavra "Somme" tornou-se sinônimo do grande e insensato derramamento de sangue da Grande Guerra.”.

Na época, o 2º tenente Tolkien serviu em Somme.

Viu a morte, a dor, soldados que escarravam, choravam pedindo por suas mães e esposas, que morriam cheios de merda e sangue, com doenças advindas da sujeira, da água que não saía do solo (causando a doença “pé de trincheira”, onde as carnes se descolam dos ossos dos pés)...

... ajudado pela invenção do arame farpado, que propiciava mais proteção aos soldados. Só que os estrategistas do conflito não contavam com as novidades tecnológicas que surgiram em cena: a metralhadora, a granada e os bombardeios aéreos. Criadas durante o desenrolar do embate, acabariam por transformar as trincheiras em túmulos a céu aberto. Os gases tóxicos, por exemplo, tornaram a soldadesca alvo fácil. As doenças, causadas pelas péssimas condições sanitárias, eram outro tormento. Em uma época em que a penicilina ainda não havia sido inventada, morria-se de tudo – de disenteria, doença muito comum, gripe e toda a sorte de infecções. A grande guerra deu origem até a uma nova moléstia: trench Foot, ou pés de trincheira. Quando chovia, a água acumulava-se nos fossos e os soldados não tinham meias para trocar. No frio e na umidade, os pés gangrenavam e, em alguns casos, eram amputados.

Como um homem como Tolkien, inteligente, jovem, poderia deixar passar as informações que tinha em primeira mão, afinal viveu tudo aquilo, sobre os campos de batalha? O que ele (Tolkien) estaria querendo dizer aos seus leitores, quando escolheu a forma que escolheu para escrever seus livros?

Arwen, recatada. Não sei vocês, mas elfos parecem ser bem libidinosos, algumas vezes. Ou poderiam ser...têm tempo, corpos perfeitos, sabedoria, saúde, comida de primeira, bebida de primeira, não devem ter “nossos” recatos, “nossos” problemas de sexualidade, “nossos” limites. Não creio que eles tivessem algum problema com sexo. Nasceram sem aquele peso, que todos nós carregamos, do pecado original. Não havia cobras e maçãs no imaginário deles, nem pecado e culpa. Isso muda tudo. Se ela escarrava ou não, eu dou até risada.
( Duvido que estuprassem alguém. Afinal, quem quer transar, á força ainda, com uma orc suja, feia e fedorenta? lol)

Não acredito que nas vilas humanas não havia prostitutas, mercadorias roubadas (ou seja, ladrões)... Não falar delas não quer dizer que não existiam. Quer dizer apenas que, naquele contexto, não fariam diferença.

Uma questão de escolha: tem um bloco branco á frente: o que acontece a um pescoço quando uma espada passa por ele? O que isso muda minha vida? Eu vejo fotos do campo de concentração e ainda custo a acreditar naquilo tudo. Estas mensagens são fortes. É realidade estampada em pele e osso. Que outras dores eu preciso ver para entender? Batalhas, como a que Haldir perdeu a vida, dão mensagens outras do que como um pescoço se comporta quando uma espada passa por ele. Falam de outros componentes da mesma guerra sangrenta. Que cena linda. Como comparar isso com um pescoço cortado e jorrando sangue? Porque escolher estupros e infanticídios?

Já viu algum documentário que fale da vida das crianças de campos de refugiados em Uganda? Quer saber o que é estupro e infanticídio?
Quer ver realidade? VEJA. Ela esta ai, estampada em vídeo, documentário real. Não precisa de guerra do trono.

Escolha pessoal. Intransferível poder que Erú Ilúvatar me concedeu em Sua Força e Poder.
Tem mais 9 pontos, de 10, para eu escolher Tolkien como BEM MELHOR do que GRRM.