Aqui o Melão era "filhotinho", se bem que ele nunca foi exatamente "inho"...
Tem 3 meses que o Melão manca da pata traseira direita...
Ai eu chamei o Fernando, veterinário porreta, gente boa. Nas conversas com ele, mostra o carinho pelos animais que trata. Chora por causa dos maus tratos em vacas, cães e cavalos, aqui pelo pessoal da roça, "rústicos" e duros no coração quando o assunto é bicho. Para eles, bicho não tem alma, nem sentimentos, nem merece consideração.
Meu vizinho, em dia de festa, se veste com espora prateada, com fivela igual á do cinto. Chapéu combinando com a capa, e cavalo lustroso e escovado. Num dia de festa, falando comigo, levanta o pé num gesto de chute e, quando eu menos espero, chuta o focinho do fila do vizinho, que se aproximava lento e bonachão. Com o gosto de sangue que saía da ferida da espora na carne, o fila sai correndo e ganindo, para nunca mais voltar. Continua a conversa exatamente do ponto em que parou antes do chute, como se nada tivesse acontecido. Confesso que perdi a vontade de conversar e saí chateada com tudo aquilo.
Fernando faz exames no Melão, dá remédios. Ajudam na dor, ele manca menos, mas não resolve. Aí Fernando me passa uma guia e diz sério: "Tem que tirar chapa". Melão faz cara de dor no chão. Meu coração se fecha. Tadinho dele. Será que é displasia? Aiii..
E logo vem a pergunta: "- Mas Fernando, tem como fazer isso aqui na roça? O Melão tem 50 quilos, uma mandíbula de fila (o pai dele foi o que correu da esporada que levou) e nunca chegou perto de um carro nos seus quase 5 anos de vida, aliás, morre de medo...".
Fernando é homem da roça, acostumado com isso. Disse que não tinha problema. Ia chamar a Helen. Sacou do celular e me deu o número. É só agendar com a moça e com a clínica em São José dos Campos.
Tudo agendado, no dia certo a Helen chega, com sua pick-up e a "caixinha" de transporte.
Foi uma luta louca colocar o bichão lá dentro da caixa, que cada vez que a gente empurrava o bicho, menor ficava.
Ele fazia força pra não entrar..patas grudadas no chão da pick-up...corpo retesado e duro, não se mexia.
Nós duas empurrando, puxando, levantando as patas do chão pra ver se ele desgrudava...
Suadas, paramos as duas para pensar num jeito melhor. A Helen deu a idéia: vamos enfiar o Melão de ré na caixa.
Foi o que fizemos. Viramos e, olhando cara a cara com a fera, fomos empurrando o bichão caixa adentro, até que o focinho passou pela porta, e mais do que depressa, a Helen fechou a caixa, com nosso trunfo preso, tremendo mais do que vara verde.
Coitado. Tremia mesmo, com aqueles olhos pidões, com medo.
Caixa bem amarradinha lá trás, fomos para a cabine do carro e estrada afora, conversando, nem vi o tempo passar.
Tirar o bicho da caixa, entrar na clínica, ficar na sala de espera SOZINHO, para não assustar nem ficar mais assustado ainda. Isso tudo em quase 20minutos de puxar e empurrar. Ele simplesmente não se mexia.
Na hora do raio-x, outra luta.
Colocado o Melão na maca, de barriga para cima, eu de colete, segurando as patas da frente junto ao rosto dele, que olhava amedrontado para mim. O moço segurava as patas traseiras e a veterinária acionava os comandos.
"Vamos Melão, esta acabando"... "-Isso mesmo, converse com o animal, deixe o animal o mais relaxado possível...já esta acabando..espere até ver se deu tudo certo....deu tudo certo..podem desvirar o animal".
Alívio. Para ele e para nós.
Colocar o Melão na caixa, de ré, na volta foi bem mais fácil do que na ida.
Nós três já estávamos sabendo o que ia dar..um empurra-empurra, caixa, viagem, soltar no sitio.
Correr, correr e não chegar perto da "mamãe" por um tempo.
Já fizemos as pazes.
Ontem o remedinho dele eu dei no caldinho do que sobrou com um pouquinho de pão velho. Amou.
Tem 3 meses que o Melão manca da pata traseira direita...
Ai eu chamei o Fernando, veterinário porreta, gente boa. Nas conversas com ele, mostra o carinho pelos animais que trata. Chora por causa dos maus tratos em vacas, cães e cavalos, aqui pelo pessoal da roça, "rústicos" e duros no coração quando o assunto é bicho. Para eles, bicho não tem alma, nem sentimentos, nem merece consideração.
Meu vizinho, em dia de festa, se veste com espora prateada, com fivela igual á do cinto. Chapéu combinando com a capa, e cavalo lustroso e escovado. Num dia de festa, falando comigo, levanta o pé num gesto de chute e, quando eu menos espero, chuta o focinho do fila do vizinho, que se aproximava lento e bonachão. Com o gosto de sangue que saía da ferida da espora na carne, o fila sai correndo e ganindo, para nunca mais voltar. Continua a conversa exatamente do ponto em que parou antes do chute, como se nada tivesse acontecido. Confesso que perdi a vontade de conversar e saí chateada com tudo aquilo.
Fernando faz exames no Melão, dá remédios. Ajudam na dor, ele manca menos, mas não resolve. Aí Fernando me passa uma guia e diz sério: "Tem que tirar chapa". Melão faz cara de dor no chão. Meu coração se fecha. Tadinho dele. Será que é displasia? Aiii..
E logo vem a pergunta: "- Mas Fernando, tem como fazer isso aqui na roça? O Melão tem 50 quilos, uma mandíbula de fila (o pai dele foi o que correu da esporada que levou) e nunca chegou perto de um carro nos seus quase 5 anos de vida, aliás, morre de medo...".
Fernando é homem da roça, acostumado com isso. Disse que não tinha problema. Ia chamar a Helen. Sacou do celular e me deu o número. É só agendar com a moça e com a clínica em São José dos Campos.
Tudo agendado, no dia certo a Helen chega, com sua pick-up e a "caixinha" de transporte.
Foi uma luta louca colocar o bichão lá dentro da caixa, que cada vez que a gente empurrava o bicho, menor ficava.
Ele fazia força pra não entrar..patas grudadas no chão da pick-up...corpo retesado e duro, não se mexia.
Nós duas empurrando, puxando, levantando as patas do chão pra ver se ele desgrudava...
Suadas, paramos as duas para pensar num jeito melhor. A Helen deu a idéia: vamos enfiar o Melão de ré na caixa.
Foi o que fizemos. Viramos e, olhando cara a cara com a fera, fomos empurrando o bichão caixa adentro, até que o focinho passou pela porta, e mais do que depressa, a Helen fechou a caixa, com nosso trunfo preso, tremendo mais do que vara verde.
Coitado. Tremia mesmo, com aqueles olhos pidões, com medo.
Caixa bem amarradinha lá trás, fomos para a cabine do carro e estrada afora, conversando, nem vi o tempo passar.
Tirar o bicho da caixa, entrar na clínica, ficar na sala de espera SOZINHO, para não assustar nem ficar mais assustado ainda. Isso tudo em quase 20minutos de puxar e empurrar. Ele simplesmente não se mexia.
Na hora do raio-x, outra luta.
Colocado o Melão na maca, de barriga para cima, eu de colete, segurando as patas da frente junto ao rosto dele, que olhava amedrontado para mim. O moço segurava as patas traseiras e a veterinária acionava os comandos.
"Vamos Melão, esta acabando"... "-Isso mesmo, converse com o animal, deixe o animal o mais relaxado possível...já esta acabando..espere até ver se deu tudo certo....deu tudo certo..podem desvirar o animal".
Alívio. Para ele e para nós.
Colocar o Melão na caixa, de ré, na volta foi bem mais fácil do que na ida.
Nós três já estávamos sabendo o que ia dar..um empurra-empurra, caixa, viagem, soltar no sitio.
Correr, correr e não chegar perto da "mamãe" por um tempo.
Já fizemos as pazes.
Ontem o remedinho dele eu dei no caldinho do que sobrou com um pouquinho de pão velho. Amou.