Real Time Web Analytics

domingo, 27 de março de 2011


Estes dias eu revi o Filme "O óleo de Lorenzo".
Adoro Susan Sarandon. Gosto de quase todos os filmes que ela faz. Gosto da pessoa dela, da imagem ruiva na tela.Nick Nolte também é um ótimo ator.

Posso dizer, sem medo de errar, que os dois garantem um bom filme.
Mas saber que os personagens são reais, e que a vida alí retratada em dolby system é vivida no mesmo mundo que o meu, e não de um imundo imaginário, irreal.

Me fez pensar na força do amor entre pais e filhos, na força do ódio entre pai e filhos. Não saberia dizer qual o mais forte, mas certamente posso dizer qual o que faz milagres.

Eu nunca tive filhos. Desde minha infância, reclamo com a vida da obrigatoriedade de parir um ser, e cuidar dele, e zelar pela sua educação e boa conduta moral e espiritual. Por não me sentir capaz de realizar tal intento, ou por achar que o planeta já tem gente demais, pouca água, pouco espaço, sei lá. Não quis viver esta missão.

Missão, por motivos óbvios. Filhos são para a vida toda. Amigos, parentes, companheiros, podemos ter vários durante um espaço de vida. Mas filhos, carregamos em nossa alma para sempre, e se vida houver depois da morte, até lá eles estarão nos corações de pais e mães.

Mães que perdem filhos sabem que a dor caminha lado a lado com elas. Conheci algumas mulheres assim. Mesmo no riso franco, a dor pode ser vista nos olhos que não brilham com a mesma intensidade, nos cabelos que ficaram opacos e brancos mais cedo.

Elas eu não vejo mais, estão vivendo suas vidas, como todos. Mas eu tenho seus semblantes e suas estórias firmes dentro de mim.

Nunca me senti capaz de viver tamanha intensidade de dor, ou de alegria. Sei lá.

Vendo o filme, pensei logo na família Odone. Quis saber quem eles eram. Olhei algumas fotos na internet e me envergonhei da pesquisa.
Eu não precisava fazer aquilo. Naqueles rostos risonhos da foto, eu sabia, viviam intensas emoções. Nos olhos do menino, projetei meus próprios temores, alegrias.

A lição que eles dão já foi apresentada ao público. O aprendizado disso é por nossa conta.
Dia 30 de maio de 2008 Lorenzo morreu, 30 anos depois de ter "morrido".

A vida é divina, que acontece na natureza como algo ainda inexplicável. Vai continuar assim, até depois da morte.

E viver bem, com alegria e paz, é uma tarefa que devo realizar com sabedoria.
Não reclamar.
Fazer uma coisa nova por dia.
Aprender uma nova língua.
Fazer novos amigos.
Recuperar velhos amigos.
Plantar.
Escutar mais.
Viver plenamente.

Verdade, o agora e Hemoterapia


Não tem jeito.
Verdade é verdade.
Realidade é relativa, assim como tudo, depois da Física Quântica.
Eu já vi milhares de vezes a verdade de um fato ser pintada de várias cores, algumas até que não tinham nada a ver com a situação.
Tudo que me serve pode não servir para meu companheiro.
Tem tratamentos que ajudam determinadas pessoas, e outras não.

Tem gente que gosta de alcachofra, outros não.
E assim, é a lente dos olhos.
Dependendo de nosso humor, de como acordamos naquele dia, podemos ver a cena com cores fortes ou fracas.
"Não, não foi bem assim. Ele brecou em cima, mas brecou. Deu tudo certo. Foi uma batidinha de nada. Na borracha, viu??".

Na roça também. Uma cobra andando no mato pode ser nada pra quem já viu, ou pode significar um acontecimento selvagem de grande vulto, principalmente para quem vive na cidade e nunca viu uma vaca de perto.

Quem nunca viu uma vaca de perto, perdeu os cílios mais longos e os olhos mais mansos do mundo, numa tarde sonolenta debaixo de uma árvore.

Mesmo já sabendo de tudo isso, ainda me agrado muito com os sons da mata, principalmente á noite. Sons diferentes dos de dia. Pássaros noturnos, mágicos e misteriosos. Os cães agitados, correndo pela lateral da casa.

Meus gatos levantam as orelhas, e se viram com olhos arregalados na direção dos sons. Eu paro por segundos de respirar.

Como não sei que pássaros são (pois não conheço nada do assunto), fico brincando que são dragões e harpias, unicórnios e seres estranhos. Ás vezes, são elfos que de tão silenciosos, não deixam rastros nenhum de ruído. Tem noite assim, de silenciosa escuridão. Ás vezes, saio na varanda cheia de insetos para ver se vislumbro algo na noite.

Misturo minha realidade á fantasia, sabendo que, de tanto acreditar, não são mais fantasia. Mas eu não sou louca, não.

Mesmo minha realidade fantástica não tira de mim o prazer enorme de ver a vida como ela é.

Aqui na roça, eu aprendo isso, entre muitas outras coisas. Ver a vida como ela é, viver no agora.
Vai andar por lá sem prestar atenção no chão, nos galhos... no que esta fazendo. Roçar sem estar "presente" pode ser bem perigoso, tanto para quem roça quanto para as árvores, que devem gemer de medo.

E, mesmo quando tudo parece que não vai dar certo, parar e crer que vai passar e um novo segundo vai aparecer para uma nova chance de mudar meu destino.

Eu comecei a fazer hemoterapia, aqui na roça mesmo. Faz parte das minhas crenças de que algo muito bom pode acontecer quando se segue a sincronicidade.

Vamos ver. Vou postar por aqui de vez em quando falando disso. Acho que vale a pena tentar.

Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
:)

A noite do acidente em Cocoon


Eu era adolescente. Minha irmã mais nova e eu íamos, nas férias, com nossos pais, numa cidade do interior, perto de Minas Gerais, que eu chamava de Cocoon, por causa do filme Cocoon, onde velhos num asilo encontravam ovos de ETs dentro de uma piscina e tomando e freqüentando aquelas águas, eles rejuvenesciam.
[IMG]http://images.quebarato.com.br/T440x/dvd+exclusivo+cocoon+1+e+2+dublados+com+frete+e+capa+gratis+sao+jose+dos+pinhais+pr+brasil__2B6DD4_1.jpg[/IMG]
Esta cidade me dava a mesma sensação. Muitas pessoas idosas vão ainda lá, em busca dos efeitos milagrosos das águas mornas ou sulforosas que saem da terra e se derramam nos copinhos coloridos, vendidos lá dentro do complexo.
Quando menor, minha irmã e eu adorávamos o local. Cheio de águas, piscinas deliciosas de freqüentar. Aos poucos fomos crescendo e o local ficou velho e manjado. Com as mesmas idosas pessoas em toda parte.
Tínhamos um pequeno apartamento nesta cidade, comprado por meu pai, no sonho de, na velhice deles, morarem em Cocoon. Com a morte prematura de minha mãe, o sonho se desfez e o apartamento foi vendido.
Mas, na estória que vou contar, real, ainda tínhamos o apartamento, e minha irmã e eu estávamos em nosso quarto, já nos preparando para dormir. A luz do quarto estava apagada e falávamos sobre besteiras, quando ouvimos um pequeno avião passar pelos céus da cidade. Lá isso é comum.
Incomum foi minha reação diante do fato: me sentei na cama e disse para minha irmã: Paulinha, os dois moços que estão dentro deste monomotor vão bater e morrer, bem perto da área de pouso, que é para onde eles estão indo.
Minha irmã ficou muda. Ela e eu fizemos um pensamento de luz e paz para o avião, rezamos e dormimos.
No dia seguinte. Minha mãe levou a família toda para uma cidade vizinha, onde fomos ver roupas e outras tranqueiras, fruto do artesanato local.  Sempre fazíamos isso. Paula e eu fomos nos distanciando, entrando em outras lojas, quando ouvimos os sinos da igreja matriz tocarem muitas vezes, fora da hora.
Paula perguntou numa loja o que a igreja anunciava, e a lojista nos disse que o filho do prefeito (ou algum político da região) e seu primo haviam morrido num acidente de avião, naquela noite passada. A igreja anunciava a morte dos dois jovens.
Nunca mais me esqueci disso. Como e por que aconteceu, eu não sei.
Passei a respeitar mais assuntos como intuição, energias, e respeito pela vida, sem dúvida, o melhor e maior bem de todos nós.

A rotina da roça e a jaguatirica


A rotina em uma roça é mágica, porque o “sempre fazer a mesma coisa” parece que não rola do mesmo jeito que na cidade.
Aqui também pega-se ônibus, embora nunca se saiba o que vai subir no próximo ponto.



Pessoas e animais passeiam pelas rotas feitas pelo homem, que aliás, se dissolvem com as chuvas; Impressionante como o asfalto vai embora debaixo de forte aguaceiro, barreiras caem por todo lado e metade da pista, em muitos trechos, é engolida pela força do rio.
Nas noites de viagem, quando volto pra casa depois de alguns dias em Sampa, eu sinto aquela vontade de chegar logo na roça. Venho pela estrada curva e perigosa da Mantiqueira, saguezaqueando sem saber ao certo o que vou encontrar pela frente.
Porque da última vez, 3 vacas no meio da estrada, quase as 22h, depois de uma curva, não é nada bom de se encontrar. Brequei com força, o que fez com que elas corressem pro outro lado da curva. Aqui é de lei os carros piscarem os faróis sempre que tem “boi na linha”. Ver um carro piscando os faróis quer dizer que posso encontrar vacas, búfalos, lobo guará, gatos do mato...
Estes dias falei com o Juninho, um moço bonito aqui da roça, pele branca, olhos azuis como o céu e cabelos negros e ondulados. Moço lindo mesmo, que na juventude, sonhou em ser modelo. O pessoal da cidade levava fotos, mas não sei o que faziam com elas. Ficava só a promessa pro moço de que ajudariam no processo. Vou dar as fotos pra um amigo...que nunca ligou de volta, sabe?? Juninho tá ficando velho, cansado da lida da roça, dura e pesada, em sol quente, todo santo dia levantar cedo, e cuidar da terra de outra pessoa pra ganhar 40 reais por dia.
E  ele é moço sensível, gosta do cheiro da terra, da cor das flores, dos bichos, e foi com ele que fiquei sabendo que tem jaguatirica, sim senhor, na mata lá na frente. Ele já viu uma, que chegou bem perto deles, que emudeceram e fizeram “estátua”, lá no regato onde tomavam água. Lambeu os becinhos cheios de dentes pontudos e foi embora, como se eles fossem parte da decoração selvagem da floresta.
Que tesão...jaguatirica, gente, gato lindo e selvagem, criados por hábeis engenheiros da Mata. Porque deve ter engenheiro da Mata, Engenheiro dos insetos, Como na grande música dos Valar, que encheram de vida este planeta lindo onde moramos, brutos que somos ainda no lidar com as belezas naturais.
Hoje acordei com os animais. Ontem também. E amanhã, se o Universo me permitir, acordarei mais uma vez, para minha rotina na roça.
Obrigada, Universo, por todas estas belezas que eu vejo e ouço. È mesmo mágico morar na terra, assim tão repleta de vida.

Há muitas formas de ser adulto


Gosto de parar aqui de vez em quando para colocar minhas idéias em ordem. Assim como só consigo começar a cozinhar se não tiver louça suja. Tudo tem que estar limpo e guardado para que eu consiga descascar o primeiro dente de alho.

Na minha cabeça é a mesma coisa. Aqui eu limpo, lavo, coloco em ordem, guardo, descarto, penso ou nem penso muito... já saio escrevendo para ver no que vai dar.

Eu estava lendo um texto sobre independência e autonomia quando me deparei com esta frase: "É precisamente porque há muitas formas de ser adulto que o conceito precisa ser relativizado".
Adorei isso. Há muitas formas de ser adulto. Tudo bem, ele falava da econômica, social, legal, mas a frase é ampla. Abarca muitos itens numa lista de coisas que nos tornam adultos.

Vou fazer minha lista e, com certeza, vou pensar um bocado sobre o assunto.
O que no faz adultos? Eu conheço o Fulano, homem maduro, com jeito de menino, montado em sua super moto. Mas não posso chamá-lo de adulto, não. Faz cada uma, de menino mesmo. Adulto Peter Pan, com medo de se tornar chato e carrancudo, como um adulto.

Mas eu não quero ser um adulto chato ou carracundo. Então estas coisas não podem constar da minha lista.

Leveza, com certeza vai estar na lista.

Quero ser criança, como Nietzsche falou. Nem adulto-camelo, nem adulto-leão.
Quero ser adulto-criança.

Diz ele que o homem, ao nascer, é como o camelo. É obrigado a comer, assimilar e armazenar, por um bom tempo, grande parte dos dados, histórias e ensinamentos acumulados pela humanidade ao longo de séculos. Grande parte da humanidade é camelo. :(
Uns poucos entre os camelos chegam ao estado de leão. Normalmente, os grandes felinos se insurgem contra isso tudo que está aí. São líderes.O problema do leão é que, na maioria dos casos, ele ainda está preso ao que ele é contra. Pode dedicar sua vida e até morrer por seu ideal.

Já para se formar a criança é preciso uma formidável revolução interior. A criança é a pessoa que passou por uma transformação interna absolutamente radical. Ela tornou-se um outro ser, renasceu. É pós-mental e pós-egóica. O camelo vive no passado, o leão no futuro e criança no aqui-e-agora.

Adulto-criança.
Adulto- Fernão gaivota

Afinal, há muitas formas de ser adulto, não é??