quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Volta para a roça, Marcelo!
Hoje acordei com os raios de luz.
Deixei uma das duas cortinas do quarto aberta ontem de noite.
Queria acordar cedo e, para mim, não tem melhor despertador do que a luz do sol incidindo no rosto, logo de manhã... Aconchegante, silencioso, manso.
Acordo também com chuva e vento muito forte. Aqui na roça, na região onde moro, é muito "ventoso", pois estamos nos altos montanhosos aqui do começo da Mantiqueira. Nem é tão alto, mais é montanhoso. Vejo as vaquinhas pastando por aí e penso na carne dura e musculosa que comemos vem disso: vacas estão acostumadas a subir e descer morros, montanhas... como nós humanos, "malhando" nas academias..
Aliás, falando em academias, tem uma figura aqui na roça, "Marcelo Raizeiro". Homem franzino, com rosto escondido atrás de barba e cabelos longos mais um chapéu que nunca lhe sai do topo da cabeça. Pele bronzeada e profundos olhos azuis.
Só anda a pé e, quando a distância é longa, vai de ônibus mesmo.
Um dia veio pescar aqui no Rio do Peixe. De tarde, na hora da chuva, olhei pela janela e ele havia sumido. Quando a chuva parou, tornei a olhar e ele estava lá. Sentadinho na margem, em absoluto silêncio, pescou o dia inteiro e, quando a água começou a cair do céu, tirou toda a roupa, guardando num saco plástico, e esperou a chuva passar, "... escondido numa moita mais adiante para não me assustar!", disse ele mais tarde, quando a noite mal começava, batendo na minha porta com os peixes guardados numa cumbuca.
"-Esses peixes são para a senhora cozinhar e comer", disse ele me oferecendo a cumbuca. "-Eu não como peixe.", me confessou. "-Sou vegano".
Peguei a cumbuca e agradeci.
"-Quer entrar, seu Marcelo Raizeiro?? Faça o favor.... ". Ele não quis, agradecendo. Deu as costas e sumiu no escuro.
Entende tudo de raízes, árvores, arbustos e animais, insetos e outros assuntos mais.
Gosta de uma birita e brilha os olhos sagazes no escuro quando a "branquinha" aparece num cálice bonito.
Faz anéis e esculturas em pedra, pois também conhece a arte dos metais e minerais.
Um dia comentou bravo que abriu um academia de ginástica na cidade. Estava indignado. "-Onde já se viu, abrir uma academia aqui na roça, quando tudo por aqui nos fala de saúde e, por certo, esporte não falta. Vai subir e descer montanha, respirar ar puro, fazer caminhadas, nadar nos rios, percorrer trilhas...".
Saía cuspe feroz da boca que esbravejava... Seus olhos cuspiam também, mas fogo.
Não aguenta tanta energia e sai andando, quase sem se despedir.
Desaparece durante longos períodos para surgir de repente.
Faz tempo que não vejo "seu" Marcelo Raizeiro. Tá na hora dele aparecer!!
Volta pra roça, Marcelo!
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