Sabe, aqui todo mundo anda armado, ou tem armas em casa. E não pensem que são revolveres tão somente. Não.
Tem de tudo. Tem armas antigas, que foram do avô da criatura que a carrega agora, já dizendo que vai deixar para os filhos, que ja contam com ela.
E para que usam??para tudo. Principalmente caçadas, o que é absolutamente proíbido aqui.
Cães treinados desde pequenos para perseguir o animal pela noite. Daqui consigo ouvir os latidos pelas montanhas, e sei que a capivara vai dançar nesta estória.
Mas agora não vou falar de capivaras, mas de um porco selvagem, há muito comentado pelas bandas onde moro.
Mas uma dessas estórias de cozinha, que no meu dia-a-dia descobri que era real.
Pois não é que tem um porco que chega sorrateiro pela noite nas plantações e faz miséria...bem, faz o que um porco deve fazer: chafurdar, raspar o chão, arrancar raízes, comê-las. O "problema" é que a raiz em questão é daquele milho amarelinho, que foi plantado com tanto carinho, trabalhão danado pra ele germinar.
Quem nunca lidou com enxada, não sabe o duro que é cavocar a terra, tirar o mato e trazer esterco, e cobrir tudo com cisco, e deixar serenar, e depois de dias plantar, e cuidar..tudo na hora certa.
Aiii...a mandioca, amarelinha, plantada no ano passado, já linda, com seus talos compridos subindo, magia mesmo como aquele tronquinho fino pode gerar debaixo da terra uma raiz tão gostosa e macia.
E faz quatro anos que ouço falar no porco, que ataca as plantações de todos por aqui.
"Seu" Isac ficou duas noites de tocaia, com sua espingarda em punho, em cima da árvore, aguardando o bicho e nada.
Disse ele que o porco "sentiu" e foi embora.
"Seu" João Gomes fez uma cabana de mato, se tocaiou nela por várias noites, com sua arma em punho, e nada...
O porco não apareceu. "-Parece que ele sabe que nóis tá lá, de tocaia".
Fui gostando deste porco, mesmo quando minhas plantações foram atacadas por ele. E não adiantou meus cães, nem o som de guizos nas plantações, nem o fedor da blusa suada depois de dias de trabalho duro...
Lá vinha o porco, vinha e ia embora, sem que ninguém conseguisse matá-lo.
Achei que o porco era um herói. Homens armados, tocaiados e acostumados á caça, sendo enganados por um porco.
Nestes anos de roça, o porco povoou meu imaginário, como um animal saído dos contos do Mestre Tolkien.
E voces não sabem a dor que deu quando me falaram que andaram matando um porco selvagem, no bairro vizinho.
Não se sabe se era o meu "porco", mas o fato é que minha plantação de mandioca tá lá, linda, crescendo todos os dias um pouquito mais. E ninguém mais reclamou de ter sua plantação destruída por ele.
Ainda hoje pergunto da plantação, se foi mexida durante a noite. Não falo pra ninguém que é do porco que quero ouvir notícias.
Que doido, né??? Sinto falta deste porco.
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