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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O bebe pássaro na janela e Deus na Natureza

Hoje, de manhã bem cedo, quando o sol já estava deixando tudo claro lá fora, eu percebi, pelos movimentos da Tequila, minha gata, que um dos passarinhos da varanda havia começado as aulas de voo de seu filhote. Pensando bem, escrevendo agora (acho que é o único jeito de eu pensar bem - assim como a única forma de saber se eu pinto ou não determinado tema é pegar na massa e sair pintando, com pincel em riste) eu acho que saber que Deus existe é a mesma coisa do passarinho...eu não vejo, mas sei, pelas reações que vejo na natureza, que Deus existe.




Voltei a dormir, porque vi que Tequila relaxou as costas, apoiou o corpo no tapete e fechou os olhos. Ótimo, pensei. Voaram em paz e tudo ficou bem na roça, pelo menos agora de manhã. Não foi verdade exatamente, pois algum tempo depois, lá estava a Tequila, mostrando através de sua expressão corporal, que algo estava errado (para o pássaro).

Sou da Natureza e acho que esta tudo certo nela (apesar de ter concordado com a Emília, na Reforma da Natureza, que alguma coisa poderia ser mudada..kkk). Então, gatos fazem exatamente o que a Natureza determina, cães também, e cobras e todo o resto de seres mortais que caminham pela Terra abençoada..todos somos aquilo que somos. E ponto final.

Ouvi o bater assustado das asas no vidro: o passarinho estava dentro de casa. Havia entrado pela pequena abertura do vidro, que eu havia deixado para a gata sair e fazer suas necessidades lá fora. Afinal, gatos tem um coco e um xixi forte demais para deixar fazerem isso em meus tapetes.

Sabe qual foi minha primeira reação?? Agarrar a gata, porque era o principio do problema. Ela é muuutio boa em caçadas, e aquele bebe emplumado não teria chances em suas primeiras tentativas aladas. Seria uma pena não dar uma segunda chance ao lindo emplumado que se debatia no vidro, louco para sair. Triste ver a situação da mãe, que ficava exatamente no mesmo lugar do filhote, só que do outro lado da transparente cortina que os separava.

Encantei-me um segundo com esta visão de amor entre mães e filhos. Lembrei de grandes e pequenas tragédias humanas, onde pais veem seus filhos morrerem antes deles, na sequencia natural da vida. Dor maior. Pensei nas famílias que tem seus filhos levados por estranhos, e passam o resto de seus dias com o coração na garganta, tentando respirar um ar pesado de dor e separação, insegurança e medo por seu rebento tirado à força de seus braços por homens cruéis.

E somos uma raça bem cruel. Somos capazes de coisas horríveis, em nome de qualquer assunto, seja Deus ou futebol. Prender alguém com requintes de crueldade, torturar, arrancar seis, enfiar coisas pontudas nos corpos, fazer o irmãos gemer e enlouquecer de dor....o que é isso, minha gente?? Somos feitos de poeira cósmica, somos filhos das estrelas, temos a semelhança do Criador e, ainda assim, temos as trevas carregadas ao extremo dentro de nós mesmos. Somos monstros muitas vezes.

Muitas vezes.

Bem, depois da digreção (obrigatória), volto ao passarinho, que depois de voar, debater, voar de novo e se debater novamente, conseguiu, com meu empurrãozinho, sair pela única janela que deixei aberta: a única onde a Tequila não entra com seus pulos incríveis: ela ficou do lado de fora da casa, gritando nas janelas para entrar. Durante a tentativa de colocar o bebê para fora, ela fechou as patinhas duas vezes, exatamente no lugar onde o passarinho estava, e foi engraçado ver a cara dela quando não viu pássaro algum nas unhas. Engraçado ver como o vidro separa mas não deixa isso claro, né?? Pelo menos não aos animais, que não entendem nada do funcionamento de uma janela.

Voou aliviado. A mãe dele ficou aliviada.
Eu fiquei aliviada.
Tequila está lá fora, no sol, ainda sem entender bem como conseguiu perder, duas vezes, uma refeição fresquinha, já garantida, ali bem na frente dela.

Coisas da vida, minha gatinha, coisas da vida.

Sigo com as coisas da roça.
Sigo verde.
Feliz.





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