Metade de mim é holandesa, por causa de meu pai, que veio para o Brasil aos 19 anos de idade, depois de dias em um navio cheio de imigrantes de várias partes do mundo. Os espanhóis, italianos e portugueses ficavam no porão do navio e, segundo meu pai, sempre brigavam entre si, sempre barulhentos. Os franceses, holandeses e ingleses ficavam nos primeiros andares do navio, embora fossem tão pobres quanto os outros, lá no porão.
Preconceito puro contra os imigrantes "menos nobres" da Europa. Um absurdo, não é??
Somos seres preconceituosos, isso eu não tenho dúvida.
Temos preconceito contra doenças, também. Tratamos de forma diferente os que não são parecidos, não conseguimos olhar nos olhos, nos sentimos mal, meio que envergonhados por termos que olhar, falar...
Me lembro de quando eu precisei andar com cadeiras de rodas, num evento público. Era a feira do livro, aqui em Sampa, que, de dois em dois anos, me enchiam de prazer. Lembro que quando eu ia nestes eventos do livro, eu saía com uma sacola cheia deles, comprados com enorme satisfação, não importasse preço, ou tamanho. Eu saia feliz com meses programados para a leitura e degustação de cada um deles.
Mas numa cadeira de rodas, eu senti a enorme dificuldade de andar elas standes, pelos tablados armados para receber milhares de pessoas "normais", sem rampas de acesso. Hoje tem, mas na minha época, não tinha nenhuma rampa..Era uma enorme dificuldade andar pela feira. E as pessoas ficavam com dó de mim, me olhavam rapidamente, algumas de canto do olho, e assim eu recebi dezenas de revistas, de pessoas que vinham de todos os lados, dizendo "querida, você ai, numa cadeira, fique com estas revistas"...e meu colo ficou lotado delas, quase numa torre titubeante de papel e informação.
Temos medo de pronunciar certos nomes de doenças, como câncer, AIDS, e assim vamos tampando com a peneira coisas que são comuns e podem acontecer com qualquer um.
Tive um amigo anão. Paulo era forte, tinha um sorriso lindo e uma simpatia de fazer inveja. Dentes brancos, riso franco. Mas era anão. Isso quer dizer que ele tinha uma anomalia genética, um defeito que proporcionava a pequeno tamanho físico, com membros deformados: pernas tortas, braços tortos, mãos pequenas, coisas assim. É ruim? é. Nenhum anão gosta de ser anão. Mas reconhecer que se é anão, e que nanismo é uma anomalia genética NÃO TEM PROBLEMA NENHUM.
Não é xingar alguém...
Minha mãe teve câncer. Morreu por causa do fígado destruído pela doença.
Mas ela tinha CÂNCER, ela sabia e falava nisso sem preconceito. Não havia tempo para melindres, para palavras sussurradas. Era falado, claramente.
Meu amigo era assumidamente, um anão. Eu era jovem, menina mesmo, e foi a primeira vez que eu via uma pessoa assumir uma anomalia óbvia, que não se esconde enm se impede de ser visto pelos outros. Está lá, óbvio e não pode ser negado. Tem NOME: NANISMO. é uma doença, uma anomalia.
E Paulo era maravilhoso. Ele sabia como mostrar bem a diferença entre o ser atrás do corpo e o corpo, na frente do ser. Inseparáveis enquanto vivos, mas um era uma anomalia, e o outro era a luz, a felicidade, a energia positiva de uma alma forte e gigante em amor.
Não podemos confundir doença e doente. Um se cura ou mata, o outro é luz, embora enfraquecida pela dor.
Não xingo a memória de meu querido amigo se eu digo a ele que ele era anão. Aliás, ele "estava" anão.
Agora ele está livre de corpos, livre no espírito.
Uma frase dele que eu não esqueço é que as doenças da alma não são vistas e, portanto, não são consideradas devidamente. E são as únicas deficiências que devemos, de todas as formas, olhar e combater.
As físicas se aprende com o tempo a lidar com elas.
Aprendi com ele a não temer o físico.
A não confundir as coisas.
Somos luz.
Luz.
Preconceito puro contra os imigrantes "menos nobres" da Europa. Um absurdo, não é??
Somos seres preconceituosos, isso eu não tenho dúvida.
Temos preconceito contra doenças, também. Tratamos de forma diferente os que não são parecidos, não conseguimos olhar nos olhos, nos sentimos mal, meio que envergonhados por termos que olhar, falar...
Me lembro de quando eu precisei andar com cadeiras de rodas, num evento público. Era a feira do livro, aqui em Sampa, que, de dois em dois anos, me enchiam de prazer. Lembro que quando eu ia nestes eventos do livro, eu saía com uma sacola cheia deles, comprados com enorme satisfação, não importasse preço, ou tamanho. Eu saia feliz com meses programados para a leitura e degustação de cada um deles.
Mas numa cadeira de rodas, eu senti a enorme dificuldade de andar elas standes, pelos tablados armados para receber milhares de pessoas "normais", sem rampas de acesso. Hoje tem, mas na minha época, não tinha nenhuma rampa..Era uma enorme dificuldade andar pela feira. E as pessoas ficavam com dó de mim, me olhavam rapidamente, algumas de canto do olho, e assim eu recebi dezenas de revistas, de pessoas que vinham de todos os lados, dizendo "querida, você ai, numa cadeira, fique com estas revistas"...e meu colo ficou lotado delas, quase numa torre titubeante de papel e informação.
Temos medo de pronunciar certos nomes de doenças, como câncer, AIDS, e assim vamos tampando com a peneira coisas que são comuns e podem acontecer com qualquer um.
Tive um amigo anão. Paulo era forte, tinha um sorriso lindo e uma simpatia de fazer inveja. Dentes brancos, riso franco. Mas era anão. Isso quer dizer que ele tinha uma anomalia genética, um defeito que proporcionava a pequeno tamanho físico, com membros deformados: pernas tortas, braços tortos, mãos pequenas, coisas assim. É ruim? é. Nenhum anão gosta de ser anão. Mas reconhecer que se é anão, e que nanismo é uma anomalia genética NÃO TEM PROBLEMA NENHUM.
Não é xingar alguém...
Minha mãe teve câncer. Morreu por causa do fígado destruído pela doença.
Mas ela tinha CÂNCER, ela sabia e falava nisso sem preconceito. Não havia tempo para melindres, para palavras sussurradas. Era falado, claramente.
Meu amigo era assumidamente, um anão. Eu era jovem, menina mesmo, e foi a primeira vez que eu via uma pessoa assumir uma anomalia óbvia, que não se esconde enm se impede de ser visto pelos outros. Está lá, óbvio e não pode ser negado. Tem NOME: NANISMO. é uma doença, uma anomalia.
E Paulo era maravilhoso. Ele sabia como mostrar bem a diferença entre o ser atrás do corpo e o corpo, na frente do ser. Inseparáveis enquanto vivos, mas um era uma anomalia, e o outro era a luz, a felicidade, a energia positiva de uma alma forte e gigante em amor.
Não podemos confundir doença e doente. Um se cura ou mata, o outro é luz, embora enfraquecida pela dor.
Não xingo a memória de meu querido amigo se eu digo a ele que ele era anão. Aliás, ele "estava" anão.
Agora ele está livre de corpos, livre no espírito.
Uma frase dele que eu não esqueço é que as doenças da alma não são vistas e, portanto, não são consideradas devidamente. E são as únicas deficiências que devemos, de todas as formas, olhar e combater.
As físicas se aprende com o tempo a lidar com elas.
Aprendi com ele a não temer o físico.
A não confundir as coisas.
Somos luz.
Luz.
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