Na praça vai todo tipo de pessoa. Acho até que é um dos bons motivos para a praça aparecer em hinos, poemas, dividindo com condores os espaços das rimas.
Na minha humilde opinião, aos domingo, muitas famílias "desovam" seus filhos menos agraciados mentalmente, ou seja, todo domingo alguém larga um louco pra ter uma folga. E os loucos são rapidamente reconhecidos no meio da uma multidão. Estranhei isso. Mas foi assim em todos os casos em que reconheci um louco andando por lá.
Tanta gente passando pelas barracas... tantas cores... muito movimento, muita coisa pra se ver. Mas ela ficava clara no canto do olho, dançando no meio da multidão exprimida para lhe dar espaço para as voltas da dança solitária. Amarrava um prato de sobremesa de plástico, destes de festa de aniversário, sabe?? Então, amarrava um em cada pé, e dançava! Cabelos soltos, olhos fechados, seu braço direito descansava no ar como se descansasse nos ombros de um homem. O esquerdo segurava nas mãos deste companheiro invisível e, ao som de músicas que só ela poderia ouvir, rodopiava na praça da Liberdade todos os domingos. Sempre limpa e bem vestida, com certeza. Silenciosa. Mansa. Nunca a vi observar uma banca ou segurar algum item nas mãos pensativa se comprava ou não. Ela parecia não perceber que o salão onde ela estava era, na verdade, uma praça lotada, quente e cheia de ruídos de todos os tipos (ruídos de vozes humanas, carros, ônibus, apitos, objetos de todas as cores, pendurados em pontas de barracas....)
O mágico, meu amigo artista do lado, comenta que ele já tentou dançar com ela, mas foi em vão.
Outro louco aparecia como uma mancha verde, homem em uniforme de guerra, com uma fita na testa e uma metralhadora de plástico, se escondendo atrás das barracas, procurando por inimigos em todas as partes. Não me lembro de ter ouvido sua voz. Ele também era manso, apesar de vir como soldado empunhando uma arma (plástica)... Não importunava, não atacava ninguém. Só atraía a atenção de todos pelo inusitado de ver um baita homão correndo como Rambo pelas calçadas cheias de gente. Sempre sério. Sempre com cara fechada, focado na busca inútil e infinita de cada domingo.
Tinha também um mendigo magro, sempre vestido com terno sujo, fedorento e rasgado. Um chapéu surrado na cabeça imunda, uma sacola nojenta nas mãos nojentas. Este sim interagia com as pessoas. Sempre rindo, conversava com os artistas, transeuntes, declamava versos como homem erudito. Falava sobre filmes, artistas, escritores, poemas. Eu me encantava com seu conhecimento, muito estranho de se encontrar num mendigo tão sujo. Mas... No meio da conversa, sem avisar, ele tirava o pênis para fora da calça, e sacolejando a criaturinha feia e suja, ele mirava em qualquer um, e urinava sem piedade nos sapatos, calças e meias do desavisado que ria ou se encantava com seus dizeres.
Ele urinou numa tela minha um dia. Sensação horrível de ver aquele louco nojento mirando o pinto na tela tão bonita, colorida com céu azul, nuvens brancas e lindo arvoredo refletido na lagoa mansa. Confesso que deixei a cena bucólica no lixo da feira, no final da tarde.
O segurança tirou o tal mendigo, mas já era tarde. A urina amarela, forte, escorria pelo céu!!
Foram dias de estranheza, mas a Praça era do povo, e aquilo era o povo.
Gente diferente.
Com todo tipo de problemas. Soluções.
Vida doida.
Mas devem ir e vir, como eu um dia fui para nunca mais voltar.
Hoje novos loucos, para novas eras...
Na minha humilde opinião, aos domingo, muitas famílias "desovam" seus filhos menos agraciados mentalmente, ou seja, todo domingo alguém larga um louco pra ter uma folga. E os loucos são rapidamente reconhecidos no meio da uma multidão. Estranhei isso. Mas foi assim em todos os casos em que reconheci um louco andando por lá.
Tanta gente passando pelas barracas... tantas cores... muito movimento, muita coisa pra se ver. Mas ela ficava clara no canto do olho, dançando no meio da multidão exprimida para lhe dar espaço para as voltas da dança solitária. Amarrava um prato de sobremesa de plástico, destes de festa de aniversário, sabe?? Então, amarrava um em cada pé, e dançava! Cabelos soltos, olhos fechados, seu braço direito descansava no ar como se descansasse nos ombros de um homem. O esquerdo segurava nas mãos deste companheiro invisível e, ao som de músicas que só ela poderia ouvir, rodopiava na praça da Liberdade todos os domingos. Sempre limpa e bem vestida, com certeza. Silenciosa. Mansa. Nunca a vi observar uma banca ou segurar algum item nas mãos pensativa se comprava ou não. Ela parecia não perceber que o salão onde ela estava era, na verdade, uma praça lotada, quente e cheia de ruídos de todos os tipos (ruídos de vozes humanas, carros, ônibus, apitos, objetos de todas as cores, pendurados em pontas de barracas....)
O mágico, meu amigo artista do lado, comenta que ele já tentou dançar com ela, mas foi em vão.
Outro louco aparecia como uma mancha verde, homem em uniforme de guerra, com uma fita na testa e uma metralhadora de plástico, se escondendo atrás das barracas, procurando por inimigos em todas as partes. Não me lembro de ter ouvido sua voz. Ele também era manso, apesar de vir como soldado empunhando uma arma (plástica)... Não importunava, não atacava ninguém. Só atraía a atenção de todos pelo inusitado de ver um baita homão correndo como Rambo pelas calçadas cheias de gente. Sempre sério. Sempre com cara fechada, focado na busca inútil e infinita de cada domingo.
Tinha também um mendigo magro, sempre vestido com terno sujo, fedorento e rasgado. Um chapéu surrado na cabeça imunda, uma sacola nojenta nas mãos nojentas. Este sim interagia com as pessoas. Sempre rindo, conversava com os artistas, transeuntes, declamava versos como homem erudito. Falava sobre filmes, artistas, escritores, poemas. Eu me encantava com seu conhecimento, muito estranho de se encontrar num mendigo tão sujo. Mas... No meio da conversa, sem avisar, ele tirava o pênis para fora da calça, e sacolejando a criaturinha feia e suja, ele mirava em qualquer um, e urinava sem piedade nos sapatos, calças e meias do desavisado que ria ou se encantava com seus dizeres.
Ele urinou numa tela minha um dia. Sensação horrível de ver aquele louco nojento mirando o pinto na tela tão bonita, colorida com céu azul, nuvens brancas e lindo arvoredo refletido na lagoa mansa. Confesso que deixei a cena bucólica no lixo da feira, no final da tarde.
O segurança tirou o tal mendigo, mas já era tarde. A urina amarela, forte, escorria pelo céu!!
Foram dias de estranheza, mas a Praça era do povo, e aquilo era o povo.
Gente diferente.
Com todo tipo de problemas. Soluções.
Vida doida.
Mas devem ir e vir, como eu um dia fui para nunca mais voltar.
Hoje novos loucos, para novas eras...
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