Eu escrevo no blog de forma "meio" aleatória, esquecendo se o assunto já foi contado ou não.
De qualquer jeito o fato ocorreu, não importa de que forma venha. Se já foi contado, sei que foi muito parecido com o que esta abaixo... ;D
Eu pintava quadros, dava aulas de pintura e durante algum tempo minha vontade era de expor minhas obras nas calçadas, como qualquer bom artista que se preze.
Eu queria estar nas praças, levanto arte, a minha interpretação de arte, para o povo. Queria contato, ver o rosto das pessoas entrando nas telas, conhecer novas pessoas, outros pintores, artistas de rua...cores.
Me inscrevi para ser um dos primeiros artistas para expor telas na praça da Liberdade, que era só para comida e artigos orientais. A prefeitura estava expandindo o alcance da praça, convidando artistas para exporem seus trabalhos nas imediações.
Depois de alguns meses, já havia até esquecido do fato, quando recebo um comunicado da prefeitura dizendo das condições para expor meus trabalhos na praça, definindo o padrão de listras vermelhas que eu deveria adotar no toldo de minha barraca, quais as condições de segurança (lembro que minha parte era pagar R$10,00 aos seguranças da praça para que passassem algumas vezes por domingo no quarteirão onde nós estávamos). Meu coração veio parar na garganta. Me armei dos documentos, dos R$ 10,00 levantei cedíssimo, pois a praça deveria estar pronta antes das 7 da manhã e fui para a realização de um sonho. Iria expor minhas obras na calçada de uma praça. Eu não podia me conter de felicidade.
Durante meses eu fiz a mesma rotina, todos os domingos. Acordava bem cedo, saía disparada com o carro (uma brasília branca, 'quase" nova, "quase" silenciosa, "quase" limpa), já carregado na noite anterior com telas, telinhas e telonas, com pequenos artigos com telas minúsculas pintadas com esforço de mãos e olhos. Estacionava longe da praça, pois os flanelinhas que "trabalham" lá ODEIAM quando os "artistas" estacionam os carros, "roubando" vagas que ficarão "ocupadas" o dia todo, sem render grana para eles. Afinal, eles ganham toda vez que saí um cliente e entra outro. Para evitar que aparecesse outro risco na lataria já gasta da brasília, estacionava longe, não tão longe que me causasse desconforto, nem tão perto que "desconfortasse" os tais flanelinhas..
Punha minhas peças e toldo num pequeno carrinho de mulambeiros, (sabe?? Descobri à duras penas que são os melhores para carregar pacotes desengonçados, em distâncias pequenas, e que possam ou não pesar mais do que conseguimos carregar nas mãos ou nas costas) e lá ia eu, alegre, levando o fruto do meu trabalho para o local de maior contato entre criador/criatura e o outro, aquele que contempla, que observa e participa da obra: a praça.
Vestido, pois a época era de calor insuportável, como descobri logo, e filtro solar, porque mesmo debaixo do toldo, a vida se esvai em calor e chamas, que sobem do asfalto e descem do céu, em forma de raios quentes e radiações de todo tipo. Mesmo sendo desconfortável, eu precisava ir de vestido. O calor era mesmo de lascar. Pensava em Lawrence das Arábias nos momentos mais quentes do dia, quando o calor que sobe desfaz a paisagem, criando impressões de movimentos e ondulações nas pessoas e coisas. Ria sozinha, vivendo aquilo tudo com a mesma emoção que o tenente inglês viveu nas areias de Damasco. Com vestido eu não poderia me sentar no chão sujo e rústico da praça, mas teria que sentar em ridículas cadeiras de Camping onde mais se equilibra do que senta, tentando fingir conforto e segurança num objeto pequeno e titubeante no chão pouco liso e cheio de alterações de altura e textura.
Fiz amigos estranhos, como tem que ser as pessoas que frequentam este meio. Somos todos muito estranhos, não só no vestir, mas principalmente no agir. Diferentes.
Conheci um mágico, que nos domingos expunha lindos quadros infantis. Me deu seu cartão assim que me apresentei, e logo ficamos amigos. Me ajudou com a barraca (-Como se monta isso, sr mágico?) e começou a falar sobre a praça e seus frequentadores. Contou-me que havia chegado na praça fazia uns 4 meses, e que havia sido chamada para cobrir as desistências desta primeira leva.
-Foram muitos??
-Humm.... alguns!! - e me deu uma olhada marota - "-Aqui não é fácil, menina.... tem que ser louco!!".
Quando o sol se punha, pegava meus quadros (os que eu não havia vendido) já guardadinhos no tal carrinho de muambeiro, minhas sacolas (garrafas de água vazias, meu lixo, como restos de papéis e lencinhos umedecidos, um pote plástico com restos de algum lanche ou doce...lenços de papel, e é claro, um rolo de papel higiênico, disputado aos tapas quando o assunto é banheiro público) meus óculos escuros, minha pochete com trocos e cheques, moedas e balinhas de goma e lá ia eu, ás vezes acompanhada de alguém, conversando sobre alguma peça de arte, algum acontecimento do dia (e estes acontecimentos eram muitos...e todos os domingos...), algum comentário de um transeunte, uma festa ou uma cerveja.
Os domingos seguiram assim durante um bom tempo.
Aos poucos vou contando (até para eu mesma ler) tudo o que passei.
Vai ser divertido lembrar daquilo tudo.
De qualquer jeito o fato ocorreu, não importa de que forma venha. Se já foi contado, sei que foi muito parecido com o que esta abaixo... ;D
Eu pintava quadros, dava aulas de pintura e durante algum tempo minha vontade era de expor minhas obras nas calçadas, como qualquer bom artista que se preze.
Eu queria estar nas praças, levanto arte, a minha interpretação de arte, para o povo. Queria contato, ver o rosto das pessoas entrando nas telas, conhecer novas pessoas, outros pintores, artistas de rua...cores.
Me inscrevi para ser um dos primeiros artistas para expor telas na praça da Liberdade, que era só para comida e artigos orientais. A prefeitura estava expandindo o alcance da praça, convidando artistas para exporem seus trabalhos nas imediações.
Depois de alguns meses, já havia até esquecido do fato, quando recebo um comunicado da prefeitura dizendo das condições para expor meus trabalhos na praça, definindo o padrão de listras vermelhas que eu deveria adotar no toldo de minha barraca, quais as condições de segurança (lembro que minha parte era pagar R$10,00 aos seguranças da praça para que passassem algumas vezes por domingo no quarteirão onde nós estávamos). Meu coração veio parar na garganta. Me armei dos documentos, dos R$ 10,00 levantei cedíssimo, pois a praça deveria estar pronta antes das 7 da manhã e fui para a realização de um sonho. Iria expor minhas obras na calçada de uma praça. Eu não podia me conter de felicidade.
Durante meses eu fiz a mesma rotina, todos os domingos. Acordava bem cedo, saía disparada com o carro (uma brasília branca, 'quase" nova, "quase" silenciosa, "quase" limpa), já carregado na noite anterior com telas, telinhas e telonas, com pequenos artigos com telas minúsculas pintadas com esforço de mãos e olhos. Estacionava longe da praça, pois os flanelinhas que "trabalham" lá ODEIAM quando os "artistas" estacionam os carros, "roubando" vagas que ficarão "ocupadas" o dia todo, sem render grana para eles. Afinal, eles ganham toda vez que saí um cliente e entra outro. Para evitar que aparecesse outro risco na lataria já gasta da brasília, estacionava longe, não tão longe que me causasse desconforto, nem tão perto que "desconfortasse" os tais flanelinhas..
Punha minhas peças e toldo num pequeno carrinho de mulambeiros, (sabe?? Descobri à duras penas que são os melhores para carregar pacotes desengonçados, em distâncias pequenas, e que possam ou não pesar mais do que conseguimos carregar nas mãos ou nas costas) e lá ia eu, alegre, levando o fruto do meu trabalho para o local de maior contato entre criador/criatura e o outro, aquele que contempla, que observa e participa da obra: a praça.
Vestido, pois a época era de calor insuportável, como descobri logo, e filtro solar, porque mesmo debaixo do toldo, a vida se esvai em calor e chamas, que sobem do asfalto e descem do céu, em forma de raios quentes e radiações de todo tipo. Mesmo sendo desconfortável, eu precisava ir de vestido. O calor era mesmo de lascar. Pensava em Lawrence das Arábias nos momentos mais quentes do dia, quando o calor que sobe desfaz a paisagem, criando impressões de movimentos e ondulações nas pessoas e coisas. Ria sozinha, vivendo aquilo tudo com a mesma emoção que o tenente inglês viveu nas areias de Damasco. Com vestido eu não poderia me sentar no chão sujo e rústico da praça, mas teria que sentar em ridículas cadeiras de Camping onde mais se equilibra do que senta, tentando fingir conforto e segurança num objeto pequeno e titubeante no chão pouco liso e cheio de alterações de altura e textura.
Fiz amigos estranhos, como tem que ser as pessoas que frequentam este meio. Somos todos muito estranhos, não só no vestir, mas principalmente no agir. Diferentes.
Conheci um mágico, que nos domingos expunha lindos quadros infantis. Me deu seu cartão assim que me apresentei, e logo ficamos amigos. Me ajudou com a barraca (-Como se monta isso, sr mágico?) e começou a falar sobre a praça e seus frequentadores. Contou-me que havia chegado na praça fazia uns 4 meses, e que havia sido chamada para cobrir as desistências desta primeira leva.
-Foram muitos??
-Humm.... alguns!! - e me deu uma olhada marota - "-Aqui não é fácil, menina.... tem que ser louco!!".
Quando o sol se punha, pegava meus quadros (os que eu não havia vendido) já guardadinhos no tal carrinho de muambeiro, minhas sacolas (garrafas de água vazias, meu lixo, como restos de papéis e lencinhos umedecidos, um pote plástico com restos de algum lanche ou doce...lenços de papel, e é claro, um rolo de papel higiênico, disputado aos tapas quando o assunto é banheiro público) meus óculos escuros, minha pochete com trocos e cheques, moedas e balinhas de goma e lá ia eu, ás vezes acompanhada de alguém, conversando sobre alguma peça de arte, algum acontecimento do dia (e estes acontecimentos eram muitos...e todos os domingos...), algum comentário de um transeunte, uma festa ou uma cerveja.
Os domingos seguiram assim durante um bom tempo.
Aos poucos vou contando (até para eu mesma ler) tudo o que passei.
Vai ser divertido lembrar daquilo tudo.
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