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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

coisas do mundo vistas por alguém da roça II


Ontem eu vim da roça pra cidade.
5:30 da manhã a bicharada da noite está indo dormir e a bicharada do dia, levantando pra mais um dia de lutas.
Tudo igual ontem. Tudo igual amanhã.
Na cidade as coisas são diferentes, com certeza. Nem sempre para o mal.
Pessoas fazem a "troca da guarda" também, pois a cidade não dorme. O turno noturno volta pra casa, e o diurno acorda para o trabalho. Até aí tudo igual.
Mas a semelhança com o mundo da roça termina ai. Nada mais na cidade é natural.
Para começar, a quantidade de gente que circula pelas grandes cidades é um absurdo. Na roça anda-se muito para encontrar alguém. Os cães vão junto com a gente, cheirando o chão e o ar atrás de pistas. De vez em quando ouve-se o ruído de alguma folha mais pesada despencando pelas árvores, caindo no chão. Um pássaro responde ao outro. O som de água da cachoeirinha do "Seu" Isaías é um dos mais gostosos de se ouvir.
Na cidade, tudo lotado.
Hotel cheio. Conversei com o moço do estacionamento, que me disse que é sempre assim. Chega cliente cansado de rodar a cidade atrás de vaga em hotéis. Não tem lugar. E é claro, assunto em toda parte: como vai ser na COPA. Ele fez uma careta: "-Vai ser um inferno, dona (odeio quando me chamam de dona). Se durante a semana, em dias normais, sem evento ou convenção, já é cheio, imagine na COPA." 
Na roça, a cidade é mais calma. Pode não ter lugar na praça principal, mas nas ruinhas ao redor tem sempre uma vaga. Na rua da Igreja é onde eu mais gosto de parar. Rua calma, com o velório á esquerda e o cemitério ao fundo.
Nos semáforos da cidade, a moça sempre risonha entrega o jornal "Metrô", que eu sempre leio. Na roça, faz pouco tempo a farmácia da rua principal começou a vender jornal. Tem só a FOLHA e a revista Veja de vez em quando. Mas, se eu quiser notícias fresquinhas, vou na padaria da Carmem. Lá tem sempre novidade do bairro, da cidade, das estradas.
Na cidade, o crack está em toda parte. Na roça também está invadindo os rincões mais afastados, levando jovens e "não tão jovens" para um buraco sem fundo. Assim como o álcool, que crianças e jovens tem livre acesso. Pinga aqui na roça se dá pra criança beber, sem problema. Os pais de vez em quando dão uma risadinha, como quem diz que não tem jeito mesmo. Uma pena. Ficam moles. indolentes, perdidos. Acabam roubando galinhas, celulares, câmeras digitais pra venderem por uma pedra ou duas. 
Na cidade, as pessoas fazem greve de fome para melhorar a educação. Na roça, os professores falam errado e não sabem que falam errado. Perpetuam, ás vezes com amor, um erro, por não saberem que estão caindo em erro. ( "Menas" PRESSA, gente... seis tão na roça...) Sabe??
Pra comer, tem de tudo. Tem padarias 24h, tem comida de todo lugar do mundo, tem as melhores pizzas. Na minha cidade, eu tenho do melhor. Tem um restaurante japonês, um sushimen de primeira (é professor desta arte em São Paulo). Restaurante sempre vazio (só com alguns turistas mais inteligentes) ou moradores (inteligentes) como eu, que não é turista mas não é "nascido e criado" lá, sabe?? Salmão com capa de gergelim é a melhor pedida. E tem a Pizzaria Cabocla, que tem a melhor pizza de São Paulo, mesmo!!
Não precisa se preocupar com lugar pra estacionar, nem em dar dinheiro pra alguém "guardar" o carro.
Mundos diferentes, mas iguais em muitos pontos.... :)
Roça, roça que te quero verde. Amanhã volto pra roça, se "deusquiser"...
E Ele quer... sempre.

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