Não que eu goste de novidades. Puxa, no horóscopo chinês eu sou coelho, ou gato. Isso quer dizer que ou gosto de me enfiar na toca, medrosa de novidades, ou gosto muito de almofadas, dentro da toca, com pouca novidade, por favor. No mundo de Tolkien, eu seria uma ótima hobbit, com nome de flor, feliz por ter minha toca de porta redonda, cheia de flores no jardim, horta no quintal.
Mas a vida tem grandes novidades para quem nem pensa em ter experiências diferentes, com grandes aventuras.
E, como se algum Gandalf da vida tivesse batido na minha toca de porta redonda, eu fui levada a viver estas aventuras.
E lá fui eu para uma reunião em Ubatuba, com pessoas amigas, com o intuito de tomar a bebida feita pela junção de um cipó com uma folha. E eu bebi a ayuasca, em um lindo ritual no meio da mata, numa casinha linda feita de vidros. Esta foi a primeira vez.
Depois desta, mais algumas aconteceram. Em cada uma, uma estória.
A que eu venho contar se deu em uma propriedade em Piedade, na casa de uma amiga, depois de algumas horas da ingestão da ayuasca. Eu me deitei, e fechei meus olhos..e tudo aconteceu.
Uma linda floresta foi se formando bem na minha frente, com árvores que nasciam de pequenas sementes e que, em segundos, já estava gigantesca..e assim eu ia andando, e a floresta ia se formando. Quando já estava bem fechada a mata , uma clareira se abriu e eu estava nela, vendo o céu estrelado lá em cima, na brecha redonda que a floresta me abria.
Com a luz que vinha da lua, eu pude ver, no meio de uma casca de árvore (eu sei que parece estranho, ma eu estava tendo uma alucinação provocada pelo dimetil..alguma coisa), dois olhos, finamente pintados como os egipcios pintavam..e juro, estavam no meio da casca da árvore..aí aproximei meus olhos e ví sua boca, e depois o contorno do rosto..e assim, uma índia foi surgindo do meio da casca da árvore...e foi crescendo, como se ela fosse uma árvore gente, agigantando-se até ficar bem maior do que qualquer uma daquelas árvores. E aí eu voltei, quando minha amiga entrou na casa, convidando-me para um lanche para esperar o sol nascer..é claro que eu fui. Café preto, pão torrado com manteiga derretendo na fatia cheirosa, e o sol nascendo, com a cabeça cheia de ayuasca..foi realmente interessante.
Mas não foi isso o interessante. É que semanas depois, outro amigo, de Atibaia, convidou-me para uma exposição de quadros que ele havia pintado ao longo de alguns anos. Seu retorno ás artes. Claro que fui. Estacionei o carro numa praça deliciosa perto do casarão que a prefeitura havia reformado para estes eventos. Fui subindo as escadas e bem lá no alto, posto para receber os convidados da vernisage, estava um quadro grande, com uma índia pintada. Estava nua, sentada pudicamente numa pedra num curso raso de água. Ela segura uma espada, que divide o quadro em 2 triângulos. E dando a volta na cena, a figura do Ouroboros, a cobra que morde o próprio rabo, indicando um ciclo finito, quando a cobra por fim entende que pode quebrar o ciclo vicioso e mudar..Como a roda das encarnações..várias vidas, várias vidas até que o ser enfim entende que pode parar com isso..melhorar..quebrar o erro que o faz repetir incontáveis vezes porque ainda nao havia entendido.
E lá estava eu meditando sobre tudo isso quando vi seus olhos.Os mesmos que eu havia visto na "viagem" com ayuasca. Pintados como na visão...me olhando.
O quadro hj esta em cima da lareira, no centro da sala. Eu estou me separando. Mas o quadro vai comigo.
Vou levar este quadro em cada toca de hobbit que eu for morar. Ninguém precisa conhecer a estória toda do quadro. Só eu.
Um comentário:
prima, não li tudo, mas adorei sua idéia... fiz um blogspot em LP, num curso e nunca mais mexi...
voltarei a ler tudo com calma!
bjs e.. continue postando.. está ótimo!
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