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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Damien Hirst




Damien Hirst é um artista britanico e terá a primeira retrospectiva de sua carreira na Grã-Bretanha, entre 04 de abril e 09 de setembro de 2012, financiada pela Autoridade dos Museus de Catar, reunindo mais de 70 obras de Hirst. 

For the Love of God, que arrecadou o equivalente a 100 milhões de dólares em 2007 quando foi vendido a um consórcio de investidores incluindo o próprio artista, é um dos seus trabalhos mais famosos e controversos. Um crânio humano com forma de platina, do século 18, foi coberto com 8,6 mil diamantes, incluindo um rosa de 52,4 quilates estimado em 4 milhões de libras (6,3 milhões de dólares). Assim como boa parte da obra de Hirst, a escultura é um comentário sobre a mortalidade, a morte e as forças do mercado.

Até ai tudo bem. Qualquer site de notícias pode comentar muito parecido com o que eu escrevi em cima.
Mas olhar as obras de um artista é uma experiência bem louca, porque é única e intransferível. Pode contagiar, como qualquer emoção faz, como um bocejo... Pode mudar a vida de alguém, ou marcar um acontecimento para sempre. 

Um dia eu assisti um filme de terror, chamado "A Cela". Ideia era bem legal. Uma especialista em autistas entra na cabeça de um assassino em série para saber se consegue ler os pensamentos do moço, que esta em coma e com uma vítima, possivelmente ainda viva, em algum lugar. Na cabeça deste psicopata, ela encontra um universo bem estranho, incluindo (e é ai que eu quero chegar) uma cena onde um cavalo é fatiado em centenas de fatias finas por dezenas de lâminas que saem não sei de onde e, quando se recolhem, o corpo fatiado do cavalo cai em sangue e coisas nojentas espalhadas para todo o lado.
Esta cena do cavalo é muito parecida com a obra de Hirst. Suas ovelhas, vacas, tubarões, nadando em líquidos conservantes é como entrar na cabeça de um artista e sentir o que ele sente quando se fala (em imagens) sobre a morte, a vida...

Olhar sua interpretação de Adão e Eva é, no mínimo, desconcertante. Um exercício de mórbida curiosidade para saber se debaixo daqueles lençóis azuis estão nossa origem bíblica: dois buracos mostram os sexos dos corpos, com seus pelos e tudo. É o que se desvenda de Adão e Eva: o fato de que o casal primevo da humanidade foi reduzido a um impulso sexual, que move a todos nós desde então.

A vaca crucificada numa parede branca me faz pensar seriamente em ser vegetariana. Ver a carcaça escancarada e vazia da vaca, que doou tudo para a humanidade se refestelar, ali pendurada faz pensar, não é??

Então um artista não está no mundo para que estes rompantes artísticos nos perfurem a casca grossa, e nos atinjam em cheio no âmago do ser? 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

piolho de passarinho

Estava combinando com minha irmã, pelo telefone, minha viagem para a cidade. Falávamos sobre frio e calor, roupas para levar, horário melhor por causa do trânsito...tudo tem que ser avaliado numa viagem da roça para a cidade, pelo menos por mim.
Eu esqueço itens importantes, como roupas de baixo, pijamas, chinelinho, calça...escovas de dente, de cabelo. Eu esqueço tudo. Reconheço que devo ter algum miolo a menos neste mar de miolos.


Enfim, falávamos muito, quando ela interrompeu para dizer: nossa, estou ouvindo os pássaros ai da sua casa. EU respondi que os passarinhos estão no forro da casa, e quando os pais chegam com comida no bico é uma barulheira danada. Lembro que falei também que a casa estava cheia destes hospedes plumados e barulhentos e que eu ficava imaginando os bicos abertos e as goelas laranjas gritando por mosquitinhos.
Rimos, e eu me cocei pela milionésima vez.

Então, eles já estavam lá, quase invisíveis, mas em toda parte.
Escorrendo pelas paredes, descendo do forro para os tapetes, camas, tecidos moles e macios que tenho espalhados pela casa toda. Chão de madeira e cimento, cheio de tapetes e tapetinhos formam uma passarela longa pela casa toda, como pequenas ilhas onde estes piratas de sangue roubado ficam ávidos de fome esperando pela vítima quente passar despreocupada por lá.

Corri com sprays, destes de matar baratas, nas mãos. Um tubo daqueles, sem SFC, á base de água e terrível contra os insetos, mas só contra os insetos, foi despejado sem dó nem piedade nas paredes de tijolos, que se cobriam com centenas destes monstrinhos vorazes. De manhã, ahhh doce surpresa, quando eu passei as mãos na mesa e elas voltaram repletas de corpos mortos e minúsculos do inimigo.

TEM MUITO PASSARINHO fazendo ninho no forro da minha casa. Fui aconselhada e não me desesperar, que vida na roça é assim mesmo e que as bolinhas pequenas e vermelhas que coçam, pelo corpo todo, só duram 15 dias.

Sinto as pestes no meu couro cabeludo, nas entranhas da calcinha, atrás dos joelhos, na nuca branca e arrepiada de nojo.
Agora o Maluah chegou e vai ajudar.
Cavaleiro branco da roça, vem de moto pra trabalhar na Santa Roça. Vai espalhar pelas paredes veneno ecológico (veneno eu não sei se é algo tão ecológico assim... afinal chama-se veneno e acaba matando, eventualmente, quem se colocar em seu caminho, não respeitando nada nem ninguém...vai matando tudo, né??? )

Mas atente para algo: o veneno NãO vai fazer mal aos pequeninos plumados, que continuam abrindo desmesuradamente suas bocas para ganhar o pão de cada dia. Não. O veneno matará tão somente ácaros, pulgas, formigas, carrapatos e piolhos.
Posso ouvir enquanto escrevo os pássaros no forro.
Tem famílias inteiras, de várias cores e formatos, tudo habitando o forro da minha casa.

Vou pegar o conselho de não me desesperar e ver se consigo segui-lo.
Afinal, vida na roça é assim mesmo... ou não é???

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

... e por falar em gente

... tenho um vizinho que está chamando a atenção do bairro ultimamente.

O pai tem um restaurante em São José dos Campos.De 3 em 3 dias, os funcionários vinham pra roça, largar aqui no sítio dele os tambores gigantes repletos de restos para os porquinhos, que depois de alguns meses iam para as panelas do dito restaurante, e o que sobrava deles vinha em tambores gigantes para alimentar os novos porquinhos que corriam roliços pela estrada de terra que dá na minha porteira.

Até aí tudo bem. Ruim era o cheiro do que sobrava disso tudo, junto com os dejetos suínos...que ía tudo pro rio que margeia muitos sítios aqui na região. Cetesb, IBAMA, polícia ambiental...meses de telefonemas, raiva, descrédito, e os técnicos do meio-ambiente finalmente vieram e intimaram a limpeza, a ordem naquela pocilga.

Meses depois o filho do dono do restaurante sai da cadeia. Vem pra roça, pra não criar encrenca para o pai, que tem medo dele.

Fica lá na casinha suja, que nunca levou uma tinta naquelas paredes velhas, de muitos e muitos anos de estória vividas com os humanos que nela habitaram. Consome crack, bebida. E dá tiros pro alto, pro lado.

Vem policia, mas não pode entrar, porque ainda não viram nada estranho lá..só denúncias que ninguém entende porque não surtem efeito junto ás autoridades, que alegam não terem provas para pedir um mandato de busca atrás do danado do revólver do moço.

Estes dias criou encrenca com os vizinhos de frente, que desde a época que ele ainda usava fraldas usam água que vem pródiga do alto da montanha, do lado do dono do restaurante. "-Saiu o cano da mina, Paulinho. Deixa eu entrar pra arrumar?".
O diabo do moço cortou o cano, e com o revolver na cintura ameaçou o João de morte caso tentasse entrar pra arrumar.
Não adiantou ligar para o dono do restaurante... é pai mas morre de medo do orc do filho.

Por que fazer isso, né??
Eu fico aqui sozinha no alto da montanha. Triste porque agora fico como na cidade..com medo de bala perdida. E eu não vou deixar isso acontecer. Não mesmo.


Por isso eu digo que tem hora na vida que enfrentar faz parte da estória.
Tem hora que ficar quieto é o mais inteligente, mas com arma não se brinca.
E eu acredito no invisível, sabia?
Confabulando com a Natureza, podemos mudar muita coisa.
Hoje acendi meu fogão a lenha..coloquei intenção na chama que queima tudo o que é ruim.

E como disse Dumbledore: "è claro que esta acontecendo tudo em sua mente, Harry...mas por que significaria não ser real?".
Me armar de força pra "lutar", sabe??
Assim fica mais forte minha intenção de agir neste mundo aqui, lidando com orcs em forma de gente.
ahh roça..
te adoro.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Bendita roça

Sabe, viver na roça nunca foi fácil. Vida diferente daquela que vivia na cidade, longe da Natureza, achando que mato era só para bicho...e bem longe.
Depois que eu vim pra cá, achei o contrário. Natureza é a vida mais próxima da realidade, fugida de um monte de concreto, na matrix louca que faz o tempo correr, e eu junto com ele.
Agora eu vejo as coisas novamente de outro jeito.
Natureza: estamos desconectados dela. Mesmo morando aqui, a vida hoje em dia está estruturada para asfalto, vida plugada numa tomada.
Cidade: matrix, com certeza. Loucura total, apesar de cinemas, comidas de todos os lugares do mundo... Matrix.
Mas o que eu encontrei "comum" aos dois universos chama-se GENTE.

E aí, eu não sei onde fica pior encontrar pessoas de todo tipo: se na roça, onde podemos ter mais distância uns outros, ou se na cidade, quando vivemos grudados casa com casa.
Gente é ruim ou bom?
Gente é o grande desafio da vida.
Vizinhos, amigos, tudo com opiniões diferentes, formas diversas de viver em comunidade..uns mais simpáticos, outros mais duros, alguns mais alegres, outros depressivos. Aí tem os doentes de várias patologias, os maluquinhos, os que gostam de THC e os que não gostam. Os que procuram Deus numa igreja ou nas explicações de um semelhante, ou os que encontraram Deus na flor ou no regato.
Tem crianças de todas as idades, do 0 aos 100, tem adultos de todas as idades, do 0 ao 100...afinal eu já conheci crianças mais maduras que muito adulto avô por ai.
Tem gente que anda armado, em cidade ou roça. Armado de revolver, de palavras duras, da falta de perdão, de julgamentos.
Tem gente que não respeita a idéia do próximo, que não entende a ideia daquele que pensa diferente...
GENTE...gente que maltrata animais, gente que maltrata gente, gente que só gosta de bicho e gente bicho.

Saber viver na roça tem como saber... tem ajuda de manual... vem tudo explicadinho no verso dos produtos pra horta..vem tudo marcado no verso. Na cidade também. É só olhar os outros num supermercado, você vai descobrir que tem que pegar os produtos, por num carrinho, passar pelo caixa e mostrar aquele monte de papel para sair com aquilo que vc quis na mão.

Saber viver com bicho também é mais fácil. Eles são sempre os mesmos, fazem sempre as mesmas coisas, reagem praticamente do mesmo jeito sempre que estão em perigo, ou caçando, ou fugindo. Pêlo arrepiado, espinhos levantados, rosnados e grandes rabos preparados para atacar ou defender. Atacar é dificil, sem ser atacado primeiro. Coisa de bicho, que se pode, sai correndo.

Gente não. Gente não vem com manual, não tem rótulo com explicação, não é só olhar pra saber como lidar, porque somos absolutamente diferentes uns dos outros. Fomos criados por familias diferentes, com crenças diferentes, com medos e explicações cada um de acordo com seu entender e querer.

Gente é diferente. Leva-se eternidade para lidar bem com alguém, e quando isso parece que vai acontecer, morre-se. A vida passa bem depressa, e o lidar com gente é lento, inexorável.

Ás vezes, lidar bem significa deixar que o tempo e a vida mostrem como deve ser o certo.
Outras, a posição firme e forte, ainda que com risco de vida, deve ser tomada, defendida.
Hoje corre, amanhã enfrenta.
E isso quem decide é a própria pessoa que esta vivendo.

E na hora de escolher que palavra dizer, que gesto fazer, pensar bem. Pensar se eu gostaria de ouvir aquilo que vou falar..pensar se eu gostaria de viver aquilo que eu vou fazer a outra pessoa passar. Ou seja, na hora de lidar bem com tanta diferença, o melhor mesmo é olhar para o interior da alma. Fazer o melhor que estiver ao meu alcance, já é o bastante.

Pois uma coisa é certa, na cidade ou na roça: eu estarei comigo mesma. Só isso. Simples assim.

Gente muda de estação, muda de casa, muda de prioridade.
Eu não. Eu estarei sempre comigo, até o final.
E eu posso dizer de barriga cheia: meus olhos, com os problemas e as diferenças que as vezes causam tanto stress, olham para a montanha verde, para a Natureza exuberante, para o céu grandioso, para o rio que corre, e eu me acalmo. Minha alma descansa.
Viver, para mim, é mais alegre, colorido e saudável quando meus olhos podem ver tudo isso.