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domingo, 15 de maio de 2011

seres alados


Saí estes dias para dar aula e quando voltei já era noite. Vi que havia deixado as janelas abertas, como sempre, mas desta vez esquecera a luz acesa. E isso quer dizer que meu quarto/sala deveria estar cheio de monstrinhos alados. E foi o que eu encontrei: dezenas de seres voadores, de vários tamanhos, cores, aspectos. Que droga. Estava cansada e tudo aquilo ainda para lidar. E varrer a casa aqui na roça não começa no chão. Começa nas paredes e teto. Varrer olhando pra baixo só não adianta. Fica coisa importante pra varrer, como pequenas borboletas que ficam com suas pequenas patas presas em minúsculas entrâncias nas paredes. Não dá pra ver, mas elas ficam presas por toda a parte, morrendo grudadas ali. Algumas ainda vivas se debatendo em teias, escondidas nos cantos das paredes, tecidas do dia para a noite. Fico com medo das aranhas por causa do aspecto de algumas, nada que lembre Shelob, é claro, embora minha mente não dê muita importância pra isso. Aranhas com grandes símbolos vermelhos na barriga gigante me dão medo colossal.
Um destes seres alados era tão grande que arrastava os potes de água dos gatos, fazendo um barulho nervoso das asas batendo sem conseguir mais levantar vôo, cansada. Confesso que não tirei esta borboletona. Ficou pela casa. Acho que descansou um pouco e saiu voando, finalmente, para ser apanhada numa teia. Encontrei a tal borboleta presa e morta numa teia bem no canto do meu Box. Putz. A aranha até que era pequenina em relação á presa morta e grudada na teia.
Fui para cama cansada naquela noite.
Na roça não tenho rádio nem televisão, e as notícias chegam pela boca de amigos que contam, cada um do seu jeito, sobre o que vai acontecendo no mundo.
Ela chegou com a família pra me visitar, e foi contando que o tal do Bin Laden tinha morrido. Falou dos americanos que entraram na casona dele, de helicópteros. Disse que os EUA estavam em festa. Parei de mexer nas plantas pra ficar ouvindo a amiga contar a notícia, num tom apocalíptico, muito usado por aqui ultimamente. Umas amigas até me procuraram para pedir aulas de vela. Querem aprender a fazer velas com cera de abelha, que segundo dizem, será a única luz vista no fim dos tempos, já que parafina não haverá por falta de petróleo,sem energia e nem árvore para todo mundo. Serão vistas, nas noites pós-apocalipse, velas feitas com cera de abelha e tão somente isso.
Fala-se muito em fim dos tempos aqui na roça. Em cada canto da cidade tem alguém num grupo comentando sobre a terceira revelação de Fátima, sobre grupos de pessoas empenhadas em assegurar lugares mais afastados das áreas de provável destruição, construindo templos e casas na esperança de tempos melhores na fase crucial de mudança do planeta. Religiões atestam com veemência das coisas finais, dizendo sua própria interpretação do livro de João, recebido na prisão, na ilha de Patmos, há 2 mil anos atrás. Dizem que por estar absolutamente só, João falava com os peixes, que pulavam para fora d’água, querendo escutá-lo melhor. Dizem também que todos os soldados romanos, escalados para a escolta na ilha (era um por ano) voltaram cristianizados por ele. Acredito que deveria ser demais mesmo, ficar um ano com João numa ilha isolada do mundo. Alguém que escreve O Apocalipse daquela forma deveria ser uma pessoa especial de qualquer forma. “E no início era o Verbo, e o Verbo se fez carne e habitou entre nós.” Isso me lembra tanto o Mestre Tolkien. A sua Gênese, com o som como Principio Criador. Acho demais. Arrepia os cabelos da nuca, faz remeter ao Cosmos, ao Princípio de tudo, e aí, neste Universo gigante, olhar nosso lindo planeta azul dessa distância, fica simples o dilema do final dos tempos. Somos tão pequeninos, e isso de acabar em grandes águas e fogos é tão galático, é tão universal. Em toda a parte do Universo, planetas se criam e se transformam pelas forças naturais que movimentam este infinito balé. Somos seres insignificantes navegando no Universo na nau Terra, azul e linda, Mãe de São Francisco e Hitler, minha Mãe linda, Terra amada.
É bom andar com pés descalços, lembrando que ela esta lá, viva, embaixo e por toda parte.
E se houver batalhas entre os homens, pequenos ainda em Amor e Compreensão, bem, eu estarei aqui, fazendo meu melhor todo dia. Compreendendo que sou ligada a cada um de vocês, por fios invisíveis que tecem nossa existência. E sou ligada á Bin Laden, e a cada um daqueles soldados, seja de que lado for que estejam protegendo com suas vidas mortais. Eu sou ligada a cada ser que transita no orbe Terra, irmãos de jornada.
Faço minha parte pequena, mas necessária, assim como a sua, e a daquele outro, e a de todos juntos. Esta é a Lei.
De novo, o Mestre Tolkien fala que na grande batalha entre o bem e o mal, cada pequeno ser tem enorme importância. Desde Gandalf e os reis até as borboletas, todos somaram um exército só. E assim vencemos a guerra, juntos. Mas a guerra do Espírito é diferente da guerra dos homens. Juntos na Guerra do Espírito pela Evolução.
E ai talvez, a palavra “guerra” possa ser substituída por outra, como “conquista”, como “degrau”, algo que nos eleve a alma e nos mostre que somos verbos criadores também, feitos á imagem e semelhança de tudo o que vive no Universo.