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domingo, 12 de setembro de 2010

Deus na roça


Sabe, nesta cidade tem mesmo tudo.
Ontem fui convidada para um jantar num sítio na estrada da Santa Bárbara, no quilometro lá longe mantiqueira acima comer pizza feita em casa.
E lá fui eu. Noite já. Logo depois de passar o trevo de São Chico eu já sabia que eu ia me perder. è diferente de cidade. Na cidade vc tem mapa, tem guia on-line que te da a direção certa, as ruas á esquerda e direita pra se entrar.
Putz... na roça não tem mapa..as ruas são de terra, os números são longas seqüências de números, mostrando que os quilometros estão a passar. As casas, geralmente, estão longe da porteira e perguntar fica impossível. Então, com o presentinho no banco ao lado, é pisar no acelerador e se perguntar se , da última vez, aquela lixeira, ou aquele poste, ou aquela porteira, estava lá... se é conhecido o terreno...aiii. Segue em frente com o coração na garganta, aquela escuridão com o céu mais estrelado do que nunca.

E sobe montanha. Sobe. Sobe. Sobe. Vira à direita na lixeira depois do bar e vai subindo.
Depois de um tempo, virei na igreja. Era óbvio, naquele momento pelo menos ficou, que eu havia me perdido outra vez.
Desci..e na lixeira depois do bar, virei à esquerda. E subi, subi, subi, e subi mais um tanto.
Á direita ví a porteira dos amigos.

Casinha de caboclo, pequenina. Fogão á milhão, com torradas, vinho..bom papo..e papo vem e papo vai, um amigo da roda conta que foi visitar o atelier de um vizinho. Ele faz máscaras venezianas, lindas e coloridas, naquele visual chique do carnaval da cidade italiana.
Meu amigo disse que ficou um bom tempo lá, batendo papo com o artista, que é budista. Falaram sobre os vários caminhos de Budha.

Poxa, eu tava gostando tanto de ouvir, que até levei um susto quando o amigo disse que o artista levantou a blusa e mostrou um revolver calibre 38 que estava na cintura. E apontou para detrás da cortina mostrando uma escopeta calibre 12, encostada na parede. E ai meu amigo notou os dois rotweillers na porta, parte da mesma estratégia de "segurança".

Budista.

Roça escura, estrada vazia de gente, com casas distantes. Na floresta em torno, só escuridão.
Não culpei o budista fajuto.

Pensei em mim mesma, na solidão da montanha.

Deus na roça é para os corajosos e os ingênuos.
Deus é confiar no Universo, que tudo vai dar certo.
Deus é se jogar do despenhadeiro de braços abertos e acreditar que lá embaixo é tudo rosa.
E é.