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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Nada demais

Hoje não tenho nada demais pra dizer. Não que eu não tenha feito nada; ao contrário, trabalhei, e muito, o dia  todo.
E como foi meu dia? Maravilhoso.
Acordei cedo, e fui ver na janela o ar lá fora..se chuva, se sol...e tinha neblina, e isso é sinal de dia com sol forte, abrasante, na verdade. As 9 da manhã, 8 no horário normal, já estava quente aqui na roça.
Aí, como é de praxe, um café pretinho, na porta da cozinha.
Depois, ração dos gatos.
Roupa de guerra. Tá quente, então, roupa leve, mas não vestido, porque eu vou sentar no chão, pintar, subir escada...melhor calça curta, blusinha leve, cabelo preso porque ontem eu deixei ele solto e ficou cheio de fios manchados de tinta.
Desci a montanha. Enquanto minha casinha lá embaixo não fica pronta, eu durmo aqui na casa sede. Ela um dia já foi minha, mas agora não é mais.
Ração dos cães.

A montanha não é alta, mas a descida é brava. O chão estava úmido por causa do sereno da noite. Ainda tinha muito mato molhado, meu carro saiu da fita de concreto da estrada interna e "puff" bati numa pedrinha, que, se olhar pelo lado positivo, impediu que meu carro saísse deslizando montanha abaixo.
Seja lá como for, cheguei na minha casinha, que aqui no sítio Santa Roça recebeu o nome de "casinha da Curva", porque foi construída numa curva...(erghhh!!)
E aí, pintei uma porta, quatro janelas, patinei um aparador, uma janela, arrumei caixas e mais caixas, fui pra Monteiro, 11 km daqui. Fui olhando pro ponteiro do combustível, que estava cada vez mais perto do zero. Acho que imaginei as "tocidas" que o carro deu, perto da cidade. Foi perto. Cheguei no bafo.
Lá eu fui ver se meus caixotes de feira tinham chegado..nãooooo..buááááááá...
Mas peguei a roçadeira, enchi o tanque e fiz compras.
Entrei no carro e fui pra outra cidade, São Chico, que fica do lado de Monteiro.
Lá fui direta no depósito de material de construção. Comprei mais tinta, avisei que meu caseiro iria sair depois do almoço. Eu sabia que isso cancelaria o caminhão que estava pronto pra sair e fazer uma entrega lá no sítio. Marquei para amanhã de manhã cedo.

Voltei correndo pra casa. Deixei Dona Francisca arrumando a roupa da casa sede e já estava atrasada para juntar-me a ela lá na casinha da curva.
Era hora do almoço, mas nem eu nem ela paramos para comer.
A casinha da curva durante um bom tempo serviu de moradia para os caseiros que trabalharam aqui. E o estado das paredes, do banheiro, do chão, dos móveis..nossa. Que lixo, que sujeira, que nhaca. E tanto trabalho numa casinha tão pequenina.
Móveis reformados, alguns sem chance de reforma foram dados. Aqui na roça, o que não serve pra alguns pode muito bem servir para outros. Mas acho que isso não é privilégio da roça.
No final da tarde, descobrimos que as vacas do vizinho entraram pela porteira aberta...que droga. Dona Francisca me ajudou. Chamou meus cachorros e lá foi ela, pulando feito uma gazela pelo mato, tocando as vaquinhas fedidas que saíram correndo quando Melão e Zica saíram correndo atrás delas.
Fechei a casinha da curva. Eu já não aguentava mais. Meu celular, que não pega na roça, marcava 19:17 quando eu entrei no meu super cupê fiat way economic e subi a montanha, morta e louca pra tomar um banho.
Depois do banho, lazanha Sadia 4 queijos, enquanto falava com minha irmã pela net, MSN.
Aí, a hora do descanso. 
Beijei meus gatos, desliguei todas as luzes da casa, desliguei os aparelhos das tomadas e fui dormir.
Bem, antes, é claro, sentei aqui pra escrever, nada demais.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Qual sua primeira lembrança??

Qual a sua primeira lembrança?? A primeira lembrança...Depois que se vive muito, quase como se várias vidas em uma só, lembrar a primeira memória é quase um desafio da alma.

Pensar em memórias guardadas quimicamente também é um desafio de alma para mim. Resgatar estas memórias através de um elemento químico, ou deixar de faze-lo por falta de oxigenação no cérebro..tudo isso é muito louco pra mim.
Por incrível que pareça, para mim fica bem mais fácil acreditar que, em algum lugar no cosmos, existe espíritos e mundos alternativos em outras dimensões. E que guardamos nossas memórias em alguma caixinha sagrada em algum cofre nestas dimensões. um coração talvez.

A minha primeira lembrança é clara.
Eu estava sentada no chão. Na altura dos meus olhos, uma tesourinha de plástico cor-de-rosa em cima de uma mesa baixa. Eu lembro de olhar para a parede e ver a janela fechada com persianas, embora fosse dia ainda e eu visse o sol passando pelas frestinhas de madeira.

Lembro da minha alegria em cortar pedaços de uma revista ou algo feito de papel que eu achei sobre esta mesa. Passar a tesoura quase sem mexer os dedos, deslizando rapidinho pelo papel.

Lembro do som dos passos de minha mãe e alguns gritos que eu não entendi. Mas para mim estava tudo bem. Eu tinha me divertido pacas com aquela tesourinha.

Contei para minha mãe, minha companheira nesta lembrança. Ela esteve comigo e saberia dizer se eu estava mesmo lembrando ou inventando.

Conforme fui contando com os detalhes do sol pela janela, cor da tesoura, persianas, minha mãe ia arregalando os olhos: Putz..era verdade. Eu havia ganhado esta tesoura de uma tia, que mora no Rio de Janeiro. Enquanto minha mãe trancava a casa e fechava as janelas para sair, ela me deixou no chão da sala, com minha tia e a tesoura, mas colocou também o seu título de eleitor, pois estava se preparando para votar para presidente. Eu picotei o título dela... 

Colou com durex e o mesário entendeu.
Eu tinha um ano e meio.

Hoje, ainda tenho viva a sensação das persianas ensolaradas e o prazer de picotar o título da minha mãe.

Química?? Em que elemento químico ficou grudado aquele sol pela janela?? Em que neurônio eu guardo as sensações daquela tarde de votação??

Eu não sei nada disso... Vocês guardem suas memórias onde quiserem...  ... eu guardarei numa caixa, guardada num cofre, guardado numa dimensão onde os espíritos vivem.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A índia e a ayuasca

Não que eu goste de novidades. Puxa, no horóscopo chinês eu sou coelho, ou gato. Isso quer dizer que ou gosto de me enfiar na toca, medrosa de novidades, ou gosto muito de almofadas, dentro da toca, com pouca novidade, por favor. No mundo de Tolkien, eu seria uma ótima hobbit, com nome de flor, feliz por ter minha toca de porta redonda, cheia de flores no jardim, horta no quintal.

Mas a vida tem grandes novidades para quem nem pensa em ter experiências diferentes, com grandes aventuras.

E, como se algum Gandalf da vida tivesse batido na minha toca de porta redonda, eu fui levada a viver estas aventuras.

E lá fui eu para uma reunião em Ubatuba, com pessoas amigas, com o intuito de tomar a bebida feita pela junção de um cipó com uma folha. E eu bebi a ayuasca, em um lindo ritual no meio da mata, numa casinha linda feita de vidros. Esta foi a primeira vez.
Depois desta, mais algumas aconteceram. Em cada uma, uma estória.

A que eu venho contar se deu em uma propriedade em Piedade, na casa de uma amiga, depois de algumas horas da ingestão da ayuasca. Eu me deitei, e fechei meus olhos..e tudo aconteceu.

Uma linda floresta foi se formando bem na minha frente, com árvores que nasciam de pequenas sementes e que, em segundos, já estava gigantesca..e assim eu ia andando, e a floresta ia se formando. Quando já estava bem fechada a mata , uma clareira se abriu e eu estava nela, vendo o céu estrelado lá em cima, na brecha redonda que a floresta me abria.

Com a luz que vinha da lua, eu pude ver, no meio de uma casca de árvore (eu sei que parece estranho, ma eu estava tendo uma alucinação provocada pelo dimetil..alguma coisa), dois olhos, finamente pintados como os egipcios pintavam..e juro, estavam no meio da casca da árvore..aí aproximei meus olhos e ví sua boca, e depois o contorno do rosto..e assim, uma índia foi surgindo do meio da casca da árvore...e foi crescendo, como se ela fosse uma árvore gente, agigantando-se até ficar bem maior do que qualquer uma daquelas árvores. E aí eu voltei, quando minha amiga entrou na casa, convidando-me para um lanche para esperar o sol nascer..é claro que eu fui. Café preto, pão torrado com manteiga derretendo na fatia cheirosa, e o sol nascendo, com a cabeça cheia de ayuasca..foi realmente interessante.

Mas não foi isso o interessante. É que semanas depois, outro amigo, de Atibaia, convidou-me para uma exposição de quadros que ele havia pintado ao longo de alguns anos. Seu retorno ás artes. Claro que fui. Estacionei o carro numa praça deliciosa perto do casarão que a prefeitura havia reformado para estes eventos. Fui subindo as escadas e bem lá no alto, posto para receber os convidados da vernisage, estava um quadro grande, com uma índia pintada. Estava nua, sentada pudicamente numa pedra num curso raso de água. Ela segura uma espada, que divide o quadro em 2 triângulos. E dando a volta na cena, a figura do Ouroboros, a cobra que morde o próprio rabo, indicando um ciclo finito, quando a cobra por fim entende que pode quebrar o ciclo vicioso e mudar..Como a roda das encarnações..várias vidas, várias vidas até que o ser enfim entende que pode parar com isso..melhorar..quebrar o erro que o faz repetir incontáveis vezes porque ainda nao havia entendido.

E lá estava eu meditando sobre tudo isso quando vi seus olhos.Os mesmos que eu havia visto na "viagem" com ayuasca. Pintados como na visão...me olhando.

O quadro hj esta em cima da lareira, no centro da sala. Eu estou me separando. Mas o quadro vai comigo.

Vou levar este quadro em cada toca de hobbit que eu for morar. Ninguém precisa conhecer a estória toda do quadro. Só eu.

sábado, 9 de outubro de 2010

Sabe a emoção da primeira vez??

Todo mundo já teve suas "primeiras vezes" em tudo, isso é claro. Mas tem "certas" primeiras vezes que ficam na mente, pelo menos na minha..ficam numa região de fácil acesso, inclusive. Memória fácil de recuperar.

Eu estava em Ubatuba, passando uns dias na casa de amigos. Conversávamos no deck amplo da casa de madeira no alto de um morro, cheio de árvores e com vista pro mar..puxa, casa linda a deles.

Falávamos sobre livros. Perguntei pra Lígia: "-Você já leu "O Senhor dos Anéis", do Tolkien??". Ela me dirige um olhar meio triste, meio safadinho e diz"-Ai, menina..infelizmente sim..eu nunca mais vou ter aquela sensação de quando eu o lí pela primeira vez..entende??".

Eu entendi, na hora. Concordei. Não poderia ter dito melhor. Nas outras vezes, quando relí suas obras, eu sabia que aquela sensação estava lá..já era minha conhecida. Na primeira vez, eu não tinha com que comparar minha sensação..era novinha em folha..magia pura.

Eu adoro sentir esta sensação..São raras, é claro. Mas por isso mesmo, são esperadas com alegria..e quando chegam..ahhhhh..que delícia, deixar-me levar nas ondas novas deste descobrir, do contentamento..do prazer.

Rarindra Prakarsa, um fotógrafo indonésio, me deu este presente estes dias.
Fotos que traduzem poemas,milhões de palavras que se calam diante daquelas imagens do cotidiano de crianças, senhores de pele em papiro, pescadores em lugares paradisíacos, raios de luz entre árvores gigantes, ents que falam aos ventos suas memórias e seus medos...

Lindo..vale a pena compartilhar gente assim..aliás, só gente assim se vale compartilhar..

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma odisséia na roça


Tudo bem..

Vivo numa área de proteção ambiental..não posso passar trator pra arrumar 600 metros de estrada interna..tem que fazer na enxada...mas pra quem nunca tentou, enxada em estrada de terra, depois de uma madrugada de chuvas, é um tesão..a terra tá macia e a enxada desliza como faca na manteiga. E o cheiro então?? Putz.."parece que eu to abrindo um presente" (esta frase foi dita pelo pedreiro mais lindo que eu já vi..pele bronzeada, cabelos negros, olhos azuis, cavando uma fossa aqui ao lado da casa..me disse "Dona, que cheiro de terra bom aqui em baixo...parece que eu to abrindo um presente"...vê se pode isso?? Não é louco??

Tenho comunicação via rádio, ainda precária aqui no alto da montanha, nos meses de fortes chuvas e raios e trovões e ventos fortes...mas quando o espetáculo da Natureza acaba, o homem se põe a correr e a religar o que caiu e pronto..algumas horas depois, tudo aceso novamente.. :D

Para comprar uma aspirina tenho que rodar kms de estrada para chegar numa farmácia pequena, cujo dono é deputado e tem uma pequena pousada nos fundos da farmácia, única da cidade..ainda corro o risco de não ter.. :D Chás ajudam e terra não me falta...eu resolvo com a natureza em volta.

Se alguma coisa queimar, tipo a minha geladeira, bem..não vou encontrar ninguém pra arrumar...ai fico semanas usando a dita cuja só como armário..e estranhamente deu certo...não estragou nada nestas semanas...e água gelada aqui tá garantida sempre..vem da mina..fria como Deus gosta.

Sou da roça..descobri meu mundo..mas..e daí??
como qualquer ser desde os tempos das cavernas, meu olhar se ergue aos céus em êxtase quando vê tanta estrela lá em cima..adoro astronomia..olha só isso:
o veículo se chama Lunar Eletric Rover (LER) e será testado agora em setembro no deserto do Arizona.. que é isso?? que maravilha..parece 2001- Uma Odisséia no espaço..estamos chegando lá, Kubrick, estamos chegando lá...

Mankiller


Tem dias que as coisas vão acontecendo e me levando para lugares diferentes, inusitados e portanto, fortes candidatos à serem interessantes para mim.

Domingo na televisão é um lixo, e mesmo nos canais à cabo tem momentos negros, gaps de lixo..deixei de ver em que canal estava e fui simplesmente zapeando , ouvindo um pouco do programa, vendo s gostava...e assim, achei um programa que falava sobre uma mulher, índia cherokee, chamada Wilma Pearl Mankiller.
Que nome maravilhoso, eu pensei. Que presença forte e linda desta mulher. Pérola e matadora de homens... :D
Ela foi chefe da Nação Cherokee por 10 anos, lutando pelo seu povo junto a nação "branca"...
Filha de índio nativo e holandesa..combinação perfeita... Tudo bem, vou puxar um pouco pro meu lado holandês.. sou fã destes malucos.
Morreu em abril deste ano.
Lutou para que homens e mulheres construissem juntos um mundo melhor, literalmente... Conseguiu os canos para fazer o sistema de esgoto das casas cherokee, mas quem cavou, arrastou, colou, uniu e tapou de volta foram os moradores..juntos...

Putz..forte exemplo do que pode ser feito quando no unimos...

é mágico ver como a realidade desperta em mim as mesmas sensações de prazer e felicidade que os livros quando falam de heróis e gente diferente da massa...não é bom saber dos heróis reais??