Estes dias ví na televisão, aqui na casa do meu pai, uma reportagem sobre religião e suas diversas manifestações entre as culturas.
Os polinésios, os asiáticos, europeus, a religião nas américas... No final, deu aquela impressão de que somos filhos mesmo de um mesmo pai, só que de mães diferentes, sabe?? Ninguém se entende, "criação" diferente para cada mãe.
Lembrei da minha época de escola. Na adolescência, quando a vida que pulsava naquele corpo jovem parecia que não se acabaria nunca. Eu pensava que na velhice eu seria uma velha com a mesma energia de quando fora adolescente... Não percebia, naquela época, que o inevitável chega, sem que tenhamos muita participação neste ponto. A não ser, é claro, quando a consciência desperta mais cedo, faz com que este adolescente viva de modo a deixar reflexos positivos para o futuro . Comer, transar, beber, exercitar-se, comprometer-se, tudo deixa marcas no corpo, que se refletem no futuro.
Minha liberdade de escolher o que eu como, como eu como, é minha.. Ninguém pode tirar isso de mim. Só eu mesma posso abrir mão. E, porque a liberdade de ir e vir sempre foi tão importante pra mim, é que eu fiquei PUTA naquela tarde.
Era pra escola. Um trabalho que eu já nem lembro mais para o que era. Quem foi que pediu aquilo? Foi o professor de Português? Sei lá.
Eu sei que eu fui com uma amiga minha fazer uma entrevista num convento de freiras carmelitas descalças. Cheguei na porta de madeira maciça, com uma pequena portinhola engradada na altura do rosto. Estava fechada com a portinha pequena de madeira. Ainda parei em frente uns 20 segundos, perguntando "Bato ou não bato"?? Bati.
Nada. Nenhum som de passos.. não se ouvia um ruído sequer. Bati novamente, desta vez mais alto, e por mais tempo. Deu certo. Sons atrás da porta maciça mostravam que elas haviam ouvido.
Nhec..fez a portinha. Meu coração batia forte..que emoção...uma freira carmelita descalça.. Esta ordem eu sabia que havia sido criada para clausura. Elas entravam na ordem, se consagravam freiras e nunca mais veriam o mundo exterior.
"-Sim??"
Achei que fosse encontrar uma freira velha, encarquilhada, monumento antigo de uma ordem já falida. Ledo engano. A portinhola aberta me mostrou uma senhora jovem, sem nenhum traço de ruga ou problema.
"-Sou da escola tal. Me chamo tal e gostaria de saber se voces podem me daruma entrevista para a escola sobre a ordem de voces e de como é sua vida ai dentro."
A portinha se fechou e eu aguardei longs minutos pela resposta. A porta grande e pesada então se abriu silenciosamente, e eu fui convidada a entrar em um recinto grande, com o chão limpo demais. Quase nenhum móvel no local.
Apenas uma porta aberta nos fundos da sala, que dava para outra sala, desta vez com uma separação no meio. Era uma cela. Eu ficava do lado de fora, sem chance de entrar na cela. E por outra porta, entraria uma freira da ordem, sem chance de sair da cela.
Ficaríamos sentadas, uma de frente para a outra, sem podermos trocar de lugar.
A irmã que me conduziu á cela me disse para aguardar um pouco que a irmã "tal" (esqueci o nome da moça, faz tanto tempo já) estava se preparando para a entrevista.
Sentei e aguardei com meu caderninho e caneta em punho. Eu estava preparada.
Dali a pouco a irmã tal entrou. Vestida de preto, com o hábito conhecido pelos filmes. Sentou-se no banco, dentro da cela.
Perguntei porque ela estava lá. Estava lá porque havia recebido o chamado de Jesus. Aceitou de bom grado o "telefonema divino" (palavras minhas), e casou-se com o Cristo, vindo a morar na santa residência das Carmelitas descalças, depois de doar absolutamente tudo o que tinha. dinheiro, sapatos, roupas, brincos e colares, pertences pessoais, lembranças do passado, tudo ficou para trás.
Não saía do convento há alguns anos.
Perguntei das compras. Quem comprava escovas de dentes? comida? quem saía?? funcionários do convento, foi a resposta.
Quem pagava a conta?? A igreja, é claro.
E o que faziam o dia todo?? todos os dias?? rezavam.
Só?? Faziam também trabalhos manuais para ajudar na caridade.
E o que mais?? rezavam mais.
Estourei.
Ali sentada eu pensava nas crianças abandonadas no centro da cidade, sem caridade alguma de ninguém. Nem de mim, nem de ninguém.
Nem delas. Elas não punham as mãos em ninguém. Não se sujavam com nada. Eram mantidas na clausura, longe do mundo, ajudando à distância com suas rezas.
Eu era menina. Aquela força louca de vida explodia em mim, e a visão da entrega silenciosa daquela mulher me doeu. Que pena, eu pensei. Agradeci e levantei, pensando o que faz com que uma pessoa escolha, por vontade própria, isolar-se do mundo, numa caixa de cimento, no meio de uma metrópole, sem ver mais seus semelhantes nas ruas, sua familia...
Pensei nas escolhas que fazemos e como levamos vida afora o peso destas escolhas nas costas.
O que comer, o que vestir, o que seguir de profissão, o que fazer de nossas vidas preciosas esta em nossas mãos.
Respeito pela opção alheia. Difícil este respeito. Demora mais para surgir em mim quando é nestes casos.
Hoje eu respeito, embora não aceite.
Hoje eu sei que cada um segue aquilo que pode, que sabe e que escolhe.
Eu não quero clausura... quero usar tudo, brincar em todos os brinquedos.
Quero viver minha vida de modo que, quando eu morrer, não cantem para mim Epitáfio, com os Titãs... Eu vou amar, chorar, ver o sol nascer..até o fim.
sábado, 11 de dezembro de 2010
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Tryvertising - O Clube da Amostra Grátis!!
Fazia tempo que eu havia lido numa reportagem, na net mesmo. Adoro fuçar por aí.
Voce já imaginou levar para casa produtos que ainda não saíram nas prateleiras??
Pagando R$50,00 por ano, um pouco mais
de R$4,00 reais por mês.
Fica na Vila Magdalena, lugar gostoso demais de ir.
Na rua Harmonia, 213, lá embaixo.. E lá fui eu, Fiat Uno modelo antigo, sujo de barro, por todo lado. Inclusive dentro dele.
Não que eu não lave meu carro. Eu lavo, muito esporádicamente. Para mim é desperdício de água, sabão, braço e tempo. Não gosto de alisar lataria, de polir metal, de deixar borracha preta brilhante. E vivendo na roça, em época chuvosa, é quase piada de interior falar de carro sujo de lama... Todo mundo exibe seu carro vermelho de terra grudada ... off-road da roça.
Parei numa vaga, meu cristo redentor, na frente da loja... "-Isso é sorte demais..Vila Magdalena depois das 10 hr, que é quando a loja abre, não tem lugar pra pensar em estacionar...e os pequenos espaços vazios se transformam em pequenos estacionamentos que se lotam de carros. Na roça, o pessoal constrói as varandas para receberem os carros. Fica lá, no mesmo espaço que a rede de descanso, que o vaso na varanda...chique..
Lá dentro tem ar-condicionado.. Thanks God...um calor danado, que vem do chão cimentado, do lado, do vento parado, dos 31º.
Mas prateleiras não tem tantos produtos como os anunciados. Mas mesmo assim, tinha coisas novas nas prateleiras. Shampoos, cremes para cabelo, Condicionadores, comidas, para gente e para pets, coisas para casa e cozinha, lazer, aparelhos eletro eletronicos, revistas, e coisas para artesanato..
Foi uma novidade em minha vida. Peguei o que eu queria, seguindo as regras da casa:
podemos pegar 5 produtos ao todo. Destes 5, um pode ser vermelho, dois podem ser amarelos e três podem ser verdes. São os códigos da lója nos produtos. Os mais caros tem tarja vermelha, portanto os amarelos tem preço médio e os verdes são os mais baratos.
Vou fazer uma experiência de um ano. Minha obrigação é responder aos questionários on-line sobre os produtos que levei. Coisa fácil de fazer, que vira festinha de um dia, sabe??
Comer as bolachas em um lindo platôô, de cabelos lavados e tratados com cosméticos novos, vendo minha irmã com a roupa que ela pintou com a tinta que pode ser usada em água fria....Foi demais!! Gostei.
Vou brincar um ano deste brinquedo. Vou ver o que vai dar....
Voce já imaginou levar para casa produtos que ainda não saíram nas prateleiras??
Pagando R$50,00 por ano, um pouco mais
de R$4,00 reais por mês.
Fica na Vila Magdalena, lugar gostoso demais de ir.
Na rua Harmonia, 213, lá embaixo.. E lá fui eu, Fiat Uno modelo antigo, sujo de barro, por todo lado. Inclusive dentro dele.
Não que eu não lave meu carro. Eu lavo, muito esporádicamente. Para mim é desperdício de água, sabão, braço e tempo. Não gosto de alisar lataria, de polir metal, de deixar borracha preta brilhante. E vivendo na roça, em época chuvosa, é quase piada de interior falar de carro sujo de lama... Todo mundo exibe seu carro vermelho de terra grudada ... off-road da roça.
Parei numa vaga, meu cristo redentor, na frente da loja... "-Isso é sorte demais..Vila Magdalena depois das 10 hr, que é quando a loja abre, não tem lugar pra pensar em estacionar...e os pequenos espaços vazios se transformam em pequenos estacionamentos que se lotam de carros. Na roça, o pessoal constrói as varandas para receberem os carros. Fica lá, no mesmo espaço que a rede de descanso, que o vaso na varanda...chique..
Lá dentro tem ar-condicionado.. Thanks God...um calor danado, que vem do chão cimentado, do lado, do vento parado, dos 31º.
Mas prateleiras não tem tantos produtos como os anunciados. Mas mesmo assim, tinha coisas novas nas prateleiras. Shampoos, cremes para cabelo, Condicionadores, comidas, para gente e para pets, coisas para casa e cozinha, lazer, aparelhos eletro eletronicos, revistas, e coisas para artesanato..
Foi uma novidade em minha vida. Peguei o que eu queria, seguindo as regras da casa:
podemos pegar 5 produtos ao todo. Destes 5, um pode ser vermelho, dois podem ser amarelos e três podem ser verdes. São os códigos da lója nos produtos. Os mais caros tem tarja vermelha, portanto os amarelos tem preço médio e os verdes são os mais baratos.
Vou fazer uma experiência de um ano. Minha obrigação é responder aos questionários on-line sobre os produtos que levei. Coisa fácil de fazer, que vira festinha de um dia, sabe??
Comer as bolachas em um lindo platôô, de cabelos lavados e tratados com cosméticos novos, vendo minha irmã com a roupa que ela pintou com a tinta que pode ser usada em água fria....Foi demais!! Gostei.
Vou brincar um ano deste brinquedo. Vou ver o que vai dar....
terça-feira, 30 de novembro de 2010
O Dia do Saci
Se já contei, foi de relance... vai aqui a estória toda.
Que começa como muitas das estórias daqui. Foi num dia comum, faz um tempo já, que eu saí do sítio pra fazer compras no supermercado principal da cidade. Mas era segunda-feira, e eu esqueci que "de segunda eles fecham, porque abriram de domingo". Que fazer? Pão na padaria, quitanda tem legumes e verduras e frutas..e tá muito bom.
Mas no caminho topei com o Bambuíra, e ele me conta, feliz, que foi com sua turma da escola (Bambuíra, durante o dia, é professor Gilson, de Geografia) para a mata fotografar sacis.
Vim morar na cidade certa, pensei comigo mesma.
Contou a estória de um amigo que, em São Luiz do Paraitinga, fundou a ONG Sousaci, que esta promovendo uma campanha para Mascote da copa de 2014. SACI-Mascote é a idéia.
Tem site com abaixo-assinado, e lei que dá ao nosso Saci um dia de comemoração:
"GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Lei nº 11.669, de 13 de janeiro de 2004
Projeto de lei nº 1128/2003, do deputado Afonso Lobato - PV
Institui o "Dia do Saci"
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Artigo 1º - Fica Instituído o "Dia do Saci", a ser comemorado, anualmente, no dia 31 de outubro.
Artigo 2º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Palácio dos Bandeirantes, aos 13 de janeiro de 2004.
Geraldo Alckmin
Cláudia Maria Costin - Secretária da Cultura
Arnaldo Madeira Secretário - Chefe da Casa Civil
Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 13 de janeiro de 2004".
E o Prof. Gilson garante que as fotos não desmentem o que ele já sabia: que saci existe.
Me prometeu as fotos, assim que ficassem prontas.. este dia já se perdeu no tempo.
As fotos eu nunca vi.
Mas quer saber de uma coisa? Por que raios eu preciso de fotos, se seu já sei que Saci existe??
Que começa como muitas das estórias daqui. Foi num dia comum, faz um tempo já, que eu saí do sítio pra fazer compras no supermercado principal da cidade. Mas era segunda-feira, e eu esqueci que "de segunda eles fecham, porque abriram de domingo". Que fazer? Pão na padaria, quitanda tem legumes e verduras e frutas..e tá muito bom.
Mas no caminho topei com o Bambuíra, e ele me conta, feliz, que foi com sua turma da escola (Bambuíra, durante o dia, é professor Gilson, de Geografia) para a mata fotografar sacis.
Vim morar na cidade certa, pensei comigo mesma.
Contou a estória de um amigo que, em São Luiz do Paraitinga, fundou a ONG Sousaci, que esta promovendo uma campanha para Mascote da copa de 2014. SACI-Mascote é a idéia.
Tem site com abaixo-assinado, e lei que dá ao nosso Saci um dia de comemoração:
"GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Lei nº 11.669, de 13 de janeiro de 2004
Projeto de lei nº 1128/2003, do deputado Afonso Lobato - PV
Institui o "Dia do Saci"
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Artigo 1º - Fica Instituído o "Dia do Saci", a ser comemorado, anualmente, no dia 31 de outubro.
Artigo 2º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Palácio dos Bandeirantes, aos 13 de janeiro de 2004.
Geraldo Alckmin
Cláudia Maria Costin - Secretária da Cultura
Arnaldo Madeira Secretário - Chefe da Casa Civil
Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 13 de janeiro de 2004".
E o Prof. Gilson garante que as fotos não desmentem o que ele já sabia: que saci existe.
Me prometeu as fotos, assim que ficassem prontas.. este dia já se perdeu no tempo.
As fotos eu nunca vi.
Mas quer saber de uma coisa? Por que raios eu preciso de fotos, se seu já sei que Saci existe??
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Crianças peludas
Não há nem deve haver explicação para este cartaz. As imagens falam por si.
Crianças, peludas ou não, não deveriam ser abandonadas.
Humanos, bons ou não, não deveriam ter esta liberdade de dispor de outros seres, humanos ou não.
Pessoas de mau coração, de má índole, cretinos e idiotas, monstros, descuidados e sem o mínimo de consideração não deveriam criar nada. Não são capazes disso.
A criação, seja ela de uma flor ou de um animal, é para os dadivosos, para seres especiais, com ligação no divino.
Criar algo ou alguém é um ato de amor, de doação de vida e carinho, de sustento físico e espiritual.
Conviver com animais é um prazer que deveria ser reservado naturalmente pela Mãe Divina. Apenas os de energia verde poderiam se aproximar e cuidar de animais.
Mas a Mãe é Divina.
Deixa que o solbrilhe sobre todos.
Deixa que a vida prolifere no bem ou no mal.
Deixa que os seres humanos passeem sobre sua superfície como reis.
Mas a Mãe também cuida. Só que a velocidade dela é dferente da nossa. Mas funciona melhor do que a nossa.
E é com isso que eu, milhares de pessoas como eu e todos os animais, extintos ou em extinção, contamos. Nós confiamos na Vida, na Justiça e na força do Bem.
Malditos seres humanos que abandonam e ferem crianças, peludas ou não..
Malditos seres humanos que não respeitam nem dão valor à vida.
No inferno, a única criatura que voces verão será um animal...e será pelas patas dele que voces sairão do inferno..ouviu?? Pela bondade de um dos animais que vcs abanonaram.
Terão que pedir um favor a um animal.
e eu vou querer tirar uma foto.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Depressão verde II - a Romântica e um dia de cada vez
Quando se está com depressão o mundo parece que pára. Não gira mais comigo dentro. As coisas acontecem do lado de fora, sem que o deprimido se dê conta.
Mas gente deprimida também sente. E sente muito fortemente. Pelo menos comigo é assim...É um sentir diferente do "normal". Eu sei que amo, mas não sei onde ou como acessar esta parte do sentimento. Eu sei que eu gosto daquilo, desta comida, daquela roupa..de determinado gesto... mas no momento em que a depressão toma conta, é como se tudo isso se escondesse em alguma parte de meu ser que eu não sei onde fica. E como foi que eu quebrei esta ponte?? esta conexão com meus sentimentos??
E como saber quando eles voltarem?? Como saber se, no meio desta nuvem negra, meus sentimentos não foram se modificando, e agora eu não sinto mais como sentia antes?
Como eu vou saber se ainda amo, ou se ainda não amo isso ou aquilo??
Como saber que a depressão foi embora e o que eu estou sentindo é mesmo a falta ou o excesso de um sentimento?? Amor ou outra coisa??
Como saber se quem esta sentindo é realmente eu ou algo transmutado pela dor? pelo não sentir??
Aí a mente pode ajudar, ou atrapalhar.
Porque mentalmente posso dizer para quem quer que seja, que eu amo fulano por isso e aquilo, e que eu não gosto de siclano por este ou aquele motivo. E serei capaz de jurar que tudo é real e verdadeiro.
Posso dizer, agorica mesmo, se amo você ou não, mentalmente, isso é, com todos os raciocínios que me diferenciam dos macacos, sabe aqueles 2% que fazem toda a diferença??
Mas tem uma coisa que a depressão não tira: minha capacidade de pensar.
Então, eu penso assim: eu estou com determinado problema...então vamos ver quem pode me ajudar? como podem me ajudar? quem não está ajudando? De quem eu espero ajuda, e de quem eu não espero nada?
Fico impotente quando vejo pessoas que eu amava antes disso, não faz muito tempo, que não me ajudam em nada.
No silêncio que cobra uma atitude "normal" de quem não pode viver normalmente. No momento que não há uma ressonância no outro ser, quando não retorna nada do outro lado, eu penso na minha importância para estas pessoas, ou na importância que eu dei a elas.
Sabe aquela frase que diz que é na adversidade que se conhece um amigo?
Mesmo com depressão, minha capacidade de pensar ainda está lá..e eu penso nisso. No amor que um dia foi tão vital, tão importante como o ar que eu respirava, e na dor do silêncio que se fez depois. É como se eu não fizesse parte da vida destas pessoas, como se eu nunca tivesse sido importante ou vital para elas.
Querer demais?? Fantasias minhas que caem por terra, por causa da depressão??
Então foi isso?? Inventei tudo?? Senti á mais o que não era tão grande?? me deixei levar por sonhos de menina?? Numa hora de problemas, de fraquezas, é mais ou menos isso o que as pessoas fazem...se enganam para não sofrerem mais.
Mas não adianta. Não sabem elas que acabam sofrendo ainda mais??
Acabei caindo nesta armadilha?? amar sem ser amada..querer ardentemente sem recíproca??
Pode ser amor realmente?? O que é engano: o amor que eu sentia ou o amor que eu achava que recebia??
Pode a depressão me afastar assim do meu coração?? Foi ela quem me fez enganar?? Meu romantismo??
Putz..eu não sei.
Só sei que aquele que amei não está do meu lado.
Descubro que eu tenho que me amar.
Descubro que eu tenho que me querer bem.
Faz tempo que não pinto meus cabelos de vermelho.
Faz tempo que não passo lápis nos meus olhos.
Faz tempo que não sinto prazer.
Faz tempo que eu não sentia tanta vontade de estar comigo mesma.
...e aquele que amei (amo...) .. bem... não é justo cobrar nada.
Cada um faz seu melhor.
Certamente ele também faz o melhor que pode.
No silêncio dele, eu ouço meu próprio respirar.
Dói.
Mas não saber da verdade me dói mais.
Por isso a resposta deve estar em mim mesma.
Se nada pode quebrar o silêncio dele, então não há nada que eu possa fazer.
Viver meu momento, minhas dores, meus dramas, minha depressão..um dia de cada vez.
Romântica?? sou sim..descobri..e faz parte do tratamento muito colo, muito carinho, bons tratos, risos e trocas de amor.
Um dia de cada vez?? Claro, mas sorvido aos goles, aproveitado, desde o momento que durmo ate o momento que durmo..24h por dia, 365 dias por ano.
É assim que eu quero..e é assim que vai ser.
Mas gente deprimida também sente. E sente muito fortemente. Pelo menos comigo é assim...É um sentir diferente do "normal". Eu sei que amo, mas não sei onde ou como acessar esta parte do sentimento. Eu sei que eu gosto daquilo, desta comida, daquela roupa..de determinado gesto... mas no momento em que a depressão toma conta, é como se tudo isso se escondesse em alguma parte de meu ser que eu não sei onde fica. E como foi que eu quebrei esta ponte?? esta conexão com meus sentimentos??
E como saber quando eles voltarem?? Como saber se, no meio desta nuvem negra, meus sentimentos não foram se modificando, e agora eu não sinto mais como sentia antes?
Como eu vou saber se ainda amo, ou se ainda não amo isso ou aquilo??
Como saber que a depressão foi embora e o que eu estou sentindo é mesmo a falta ou o excesso de um sentimento?? Amor ou outra coisa??
Como saber se quem esta sentindo é realmente eu ou algo transmutado pela dor? pelo não sentir??
Aí a mente pode ajudar, ou atrapalhar.
Porque mentalmente posso dizer para quem quer que seja, que eu amo fulano por isso e aquilo, e que eu não gosto de siclano por este ou aquele motivo. E serei capaz de jurar que tudo é real e verdadeiro.
Posso dizer, agorica mesmo, se amo você ou não, mentalmente, isso é, com todos os raciocínios que me diferenciam dos macacos, sabe aqueles 2% que fazem toda a diferença??
Mas tem uma coisa que a depressão não tira: minha capacidade de pensar.
Então, eu penso assim: eu estou com determinado problema...então vamos ver quem pode me ajudar? como podem me ajudar? quem não está ajudando? De quem eu espero ajuda, e de quem eu não espero nada?
Fico impotente quando vejo pessoas que eu amava antes disso, não faz muito tempo, que não me ajudam em nada.
No silêncio que cobra uma atitude "normal" de quem não pode viver normalmente. No momento que não há uma ressonância no outro ser, quando não retorna nada do outro lado, eu penso na minha importância para estas pessoas, ou na importância que eu dei a elas.
Sabe aquela frase que diz que é na adversidade que se conhece um amigo?
Mesmo com depressão, minha capacidade de pensar ainda está lá..e eu penso nisso. No amor que um dia foi tão vital, tão importante como o ar que eu respirava, e na dor do silêncio que se fez depois. É como se eu não fizesse parte da vida destas pessoas, como se eu nunca tivesse sido importante ou vital para elas.
Querer demais?? Fantasias minhas que caem por terra, por causa da depressão??
Então foi isso?? Inventei tudo?? Senti á mais o que não era tão grande?? me deixei levar por sonhos de menina?? Numa hora de problemas, de fraquezas, é mais ou menos isso o que as pessoas fazem...se enganam para não sofrerem mais.
Mas não adianta. Não sabem elas que acabam sofrendo ainda mais??
Acabei caindo nesta armadilha?? amar sem ser amada..querer ardentemente sem recíproca??
Pode ser amor realmente?? O que é engano: o amor que eu sentia ou o amor que eu achava que recebia??
Pode a depressão me afastar assim do meu coração?? Foi ela quem me fez enganar?? Meu romantismo??
Putz..eu não sei.
Só sei que aquele que amei não está do meu lado.
Descubro que eu tenho que me amar.
Descubro que eu tenho que me querer bem.
Faz tempo que não pinto meus cabelos de vermelho.
Faz tempo que não passo lápis nos meus olhos.
Faz tempo que não sinto prazer.
Faz tempo que eu não sentia tanta vontade de estar comigo mesma.
...e aquele que amei (amo...) .. bem... não é justo cobrar nada.
Cada um faz seu melhor.
Certamente ele também faz o melhor que pode.
No silêncio dele, eu ouço meu próprio respirar.
Dói.
Mas não saber da verdade me dói mais.
Por isso a resposta deve estar em mim mesma.
Se nada pode quebrar o silêncio dele, então não há nada que eu possa fazer.
Viver meu momento, minhas dores, meus dramas, minha depressão..um dia de cada vez.
Romântica?? sou sim..descobri..e faz parte do tratamento muito colo, muito carinho, bons tratos, risos e trocas de amor.
Um dia de cada vez?? Claro, mas sorvido aos goles, aproveitado, desde o momento que durmo ate o momento que durmo..24h por dia, 365 dias por ano.
É assim que eu quero..e é assim que vai ser.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Depressão verde
MANHÃ:
Acordou as 9:22 da manhã com os ruídos da faxineira que limpava o quarto de baixo. Dava pra ouvir o arrastar de móveis, a vassoura batendo na parede, ao passar rápida para tirar o pó. Ela sabia como fazer, pois já tinha feito isso várias vezes, por isso, acompanhava os sons com as imagens em sua mente, começando a despertar da longa noite de sono.
Mas acordada percebe que a longa noite de sono poderia ter sido mais longa. Poderia ter durado mais. Era como perceber de repente, que estava acordando tão cansada como quando se deitou na noite anterior. E pior do que isso, além do cansaço sentia uma vontade enorme de se enfiar nos lençóis, se embolar e sumir ali debaixo das cobertas, torcendo para que ninguém mais no mundo se lembre de que ela existe.
Mas o relógio com ponteiros vermelhos indicam um tempo que não pode ser real...se move muito depressa e ela esta acostumada com um tempo lento, que se arrasta pelos minutos afora, combinando com o calor já alto logo cedo de manha.
"-Levante...vamos..primeiro um pé.. não precisa por os dois de uma vez... vai no seu tempo, mas vai...". A frase se repete para cada movimento, que vai, aos poucos, içando o corpo para fora da cama, pesado, como uma baleia ao sair do mar que a sustentava.
Ela se dirige á porta do banheiro, cansada, arrastando os pés, apoiando as mãos nas paredes ásperas de tijolo rústico. O banheiro esta chegando. A luz que vem lá de dentro mostra um dia ensolarado, e a visão do sol vai animar a criatura que agora entra triunfante. No banheiro as coisas parecem melhorar. Não olhando para o espelho, lava as mãos, a boca amarga, escova os dentes, penteia o cabelo sujo, e marca para a noite um banho mais demorado.
"-Vamos, vista-se". Qualquer coisa serve..qualquer coisa serve..."...
TARDE:
"-Calor infernal, sol forte, nada de energia para andar, mexer os dedos, rir ou bocejar. Está se arrastando pela casa, achando que tudo vai mudar. Isso é bom, ela pensa. Mudar é bom. Mudar é a ordem do universo. "Todo lo cambia", diz a música.
Eu também vou mudar. Amanhã tudo vai ser diferente.
Não há vontade de comer..de cozinhar..ai meu deus..cozinhar é um drama, onde tudo dói, tudo perde controle..o sal e o açúcar comandam as colheres..
quando é mesmo a hora de dormir?? Vai mais cedo pra cama hoje. Quem sabe amanhã melhora...
Quando o remédio fizer efeito, tudo muda.
Sono.
NOITE:
Silêncio.Ela dorme pesado, as vezes com dificuldades de acordar.
Amanhã tudo ficará melhor.
Quando o remédio fizer efeito.
Tudo vai mudar.
amanhã.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Maluá, curvas de rio
Fui andar. É bom caminhar pela estrada do sítio. Dá pra ver os seres pequenos que habitam no mato, dá pra acompanhar o crescimento dos pinheiros que brotaram todos em linha reta, como soldados de madeira. Dá pra brincar com os cães, que adoram brincar no rio e chegam molhados e cheirando mal...
E por falar em cheirar mal, roça também tem bezerro morto no meio a estrada, cujo dono largou lá apodrecendo porque dá trabalho recolher bicho morto. O povo aqui costuma jogar tudo no rio. Coisa medonha de ser fazer. O cadáver vai afastando , se enroscando nos galhos e pára, invariavelmente, numa curva de rio.
E eu com isso??? É que eu tenho uma curva de rio na minha propriedade. E isso quer dizer que tudo pára lá. Mas isso é outra estória.
E lá fui eu, andando pela roça, quando viro a esquina de terra e vejo quem?? Silvio e Vivi, meus queridos amigos e Maluá e Cristiane.
Ai começa minha estória;
Coisa de gente diferente, de amigos que se misturam na natureza e inspiram outros a dar valor ao verde e à vida.
Maluá é dedo verde. Caboclo rústico, anda descalço, pegou uma preá morta do chão com os dedos e foi jogar na mata. Já tava cheirando mal. Ufa, pensei. Rústico.
Eles moram em casa simples, casa de gente da roça. Mas já foram pra Suíça, plantar cerejas. A Cris, quando chegou lá, teve um AVC. Veio de maca pro Brasil. Perderam tudo pra voltar pra casa. Sabe como é...gente sem documentos, em hospital da Suíça, acaba pagando muito. Aí voltaram pra roça, aqui na terra brasilis.
E foram morar perto do sitio do Pica-pau amarelo. Por isso eles acham que moram num vortex de maluquice, fruto da aproximação com o Sítio, local já conhecido pelas maluquices.
Maluá e Cris é um casal comum, só que não são comuns em sua vida comum. São seres diferentes dos outros que caminham pelo asfalto ou terra.
Quer ver?? Eles tem uma ovelha, a Méh, que anda com os cães como se fosse um deles. Quando os cães se agitam, correndo atrás de carros ou motoqueiros pela roça afora, a Méh sai quicando nas 4 patas, durinha, correndo aos pulos com os cães, engrossando o caldo da gritaria.
Quando a Cris e o Malúa chegam de carro, é a Méh quem chega primeiro pra festa no pelo macio e branco.
O galo adora um pato, que se entrega feliz aos prazeres com o galináceo, que procura pelo amante pato no meio dos animais. Se adoram.
Tem também um bode que adora as vacas. Não pode ver uma no cio, que sai feito doido atrás da tal, achando que é um boi dos bons. E aí do boi que for reclamar da diferença de espécies... aí do boi, que leva chifrada na barriga. O Bode já quase matou um assim.
Ninguém comenta estas coisas, porque aqui é assim..tem passagens para locais e pessoas diferentes do normal, tem lugar pra bode trepar com vaca, pra bater em boi. Tem lugar pra galo trepar com pato sem problema de consciência. Tem lugar pra ovelha que pensa que é cachorro.
Tem lugar pra sentar na varanda e pitar um pitinho da roça, destes que fazem figuras de fumaça no ar.
Tem lugar e tempo pra viver, e viver bem...
Vem, vem pra roça você também.
E por falar em cheirar mal, roça também tem bezerro morto no meio a estrada, cujo dono largou lá apodrecendo porque dá trabalho recolher bicho morto. O povo aqui costuma jogar tudo no rio. Coisa medonha de ser fazer. O cadáver vai afastando , se enroscando nos galhos e pára, invariavelmente, numa curva de rio.
E eu com isso??? É que eu tenho uma curva de rio na minha propriedade. E isso quer dizer que tudo pára lá. Mas isso é outra estória.
E lá fui eu, andando pela roça, quando viro a esquina de terra e vejo quem?? Silvio e Vivi, meus queridos amigos e Maluá e Cristiane.
Ai começa minha estória;
Coisa de gente diferente, de amigos que se misturam na natureza e inspiram outros a dar valor ao verde e à vida.
Maluá é dedo verde. Caboclo rústico, anda descalço, pegou uma preá morta do chão com os dedos e foi jogar na mata. Já tava cheirando mal. Ufa, pensei. Rústico.
Eles moram em casa simples, casa de gente da roça. Mas já foram pra Suíça, plantar cerejas. A Cris, quando chegou lá, teve um AVC. Veio de maca pro Brasil. Perderam tudo pra voltar pra casa. Sabe como é...gente sem documentos, em hospital da Suíça, acaba pagando muito. Aí voltaram pra roça, aqui na terra brasilis.
E foram morar perto do sitio do Pica-pau amarelo. Por isso eles acham que moram num vortex de maluquice, fruto da aproximação com o Sítio, local já conhecido pelas maluquices.
Maluá e Cris é um casal comum, só que não são comuns em sua vida comum. São seres diferentes dos outros que caminham pelo asfalto ou terra.
Quer ver?? Eles tem uma ovelha, a Méh, que anda com os cães como se fosse um deles. Quando os cães se agitam, correndo atrás de carros ou motoqueiros pela roça afora, a Méh sai quicando nas 4 patas, durinha, correndo aos pulos com os cães, engrossando o caldo da gritaria.
Quando a Cris e o Malúa chegam de carro, é a Méh quem chega primeiro pra festa no pelo macio e branco.
O galo adora um pato, que se entrega feliz aos prazeres com o galináceo, que procura pelo amante pato no meio dos animais. Se adoram.
Tem também um bode que adora as vacas. Não pode ver uma no cio, que sai feito doido atrás da tal, achando que é um boi dos bons. E aí do boi que for reclamar da diferença de espécies... aí do boi, que leva chifrada na barriga. O Bode já quase matou um assim.
Ninguém comenta estas coisas, porque aqui é assim..tem passagens para locais e pessoas diferentes do normal, tem lugar pra bode trepar com vaca, pra bater em boi. Tem lugar pra galo trepar com pato sem problema de consciência. Tem lugar pra ovelha que pensa que é cachorro.
Tem lugar pra sentar na varanda e pitar um pitinho da roça, destes que fazem figuras de fumaça no ar.
Tem lugar e tempo pra viver, e viver bem...
Vem, vem pra roça você também.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Telefone na roça
Pena que eu joguei a carta fora. Sei agora que não deveria ter feito isso.
A coisa é que de vez em quando resolvo jogar fora tudo o que está parado, tentar arrumar o que está quebrado, dar o que ainda pode ser usado..e quando se joga aquilo que não vai mais usar é justamente quando se abre as portas para o Universo enviar alguém ou alguma coisa para pedir ou precisar daquilo que se foi lixo abaixo.
Bem, o assunto era a tal carta perdida para sempre. Mas para dizer o que havia nesta carta, eu preciso contar uma estória antes.
E a estória começa com minha vinda pro Shire. Entre outras coisas, na bagagem eu trazia uma linha telefônica recebida de herança, ainda da época em que se comprava ações da Telefônica. Vim pra roça com estas ações, e liguei pra tal empresa pedindo que a linha fosse ligada aqui em casa. Eu sabia que não havia telefone por cá, mas achei que pela expansão e por necessidade, logo teríamos o tal aparelho funcionando no mato.
A atendente me disse que meu pedido havia sido feito, que o técnico faria uma visita no local.
E assim foi feito.
Recebi algumas semanas depois a tal da carta, dizendo que o técnico havia visitado o local (meu sítio) e constatado que, para puxar uma linha telefônica era preciso eu comprar 4mil metros de cabos telefônicos e 8 postes, fazendo uma carta doando esse material para a tal empresa. E deveria depois pagar a quantia de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para a dita.
Liguei pra empresa, pedindo explicações do montante. Não houve nenhuma. Assim fica fácil fazer expansão, às custas do assinante... que vergonha.
Agora me deu vontade de fazer o mesmo pedido. Vou ligar pra pedir uma visita técnica, e ver por quanto fica colocar uma linha telefônica aqui no sítio...quando eu receber uma carta deles, eu posto aqui pra todo mundo ver que isso não é conversa de pescador.
A coisa é que de vez em quando resolvo jogar fora tudo o que está parado, tentar arrumar o que está quebrado, dar o que ainda pode ser usado..e quando se joga aquilo que não vai mais usar é justamente quando se abre as portas para o Universo enviar alguém ou alguma coisa para pedir ou precisar daquilo que se foi lixo abaixo.
Bem, o assunto era a tal carta perdida para sempre. Mas para dizer o que havia nesta carta, eu preciso contar uma estória antes.
E a estória começa com minha vinda pro Shire. Entre outras coisas, na bagagem eu trazia uma linha telefônica recebida de herança, ainda da época em que se comprava ações da Telefônica. Vim pra roça com estas ações, e liguei pra tal empresa pedindo que a linha fosse ligada aqui em casa. Eu sabia que não havia telefone por cá, mas achei que pela expansão e por necessidade, logo teríamos o tal aparelho funcionando no mato.
A atendente me disse que meu pedido havia sido feito, que o técnico faria uma visita no local.
E assim foi feito.
Recebi algumas semanas depois a tal da carta, dizendo que o técnico havia visitado o local (meu sítio) e constatado que, para puxar uma linha telefônica era preciso eu comprar 4mil metros de cabos telefônicos e 8 postes, fazendo uma carta doando esse material para a tal empresa. E deveria depois pagar a quantia de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para a dita.
Liguei pra empresa, pedindo explicações do montante. Não houve nenhuma. Assim fica fácil fazer expansão, às custas do assinante... que vergonha.
Agora me deu vontade de fazer o mesmo pedido. Vou ligar pra pedir uma visita técnica, e ver por quanto fica colocar uma linha telefônica aqui no sítio...quando eu receber uma carta deles, eu posto aqui pra todo mundo ver que isso não é conversa de pescador.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Nada demais
Hoje não tenho nada demais pra dizer. Não que eu não tenha feito nada; ao contrário, trabalhei, e muito, o dia todo.
E como foi meu dia? Maravilhoso.
Acordei cedo, e fui ver na janela o ar lá fora..se chuva, se sol...e tinha neblina, e isso é sinal de dia com sol forte, abrasante, na verdade. As 9 da manhã, 8 no horário normal, já estava quente aqui na roça.
Aí, como é de praxe, um café pretinho, na porta da cozinha.
Depois, ração dos gatos.
Roupa de guerra. Tá quente, então, roupa leve, mas não vestido, porque eu vou sentar no chão, pintar, subir escada...melhor calça curta, blusinha leve, cabelo preso porque ontem eu deixei ele solto e ficou cheio de fios manchados de tinta.
Desci a montanha. Enquanto minha casinha lá embaixo não fica pronta, eu durmo aqui na casa sede. Ela um dia já foi minha, mas agora não é mais.
Ração dos cães.
A montanha não é alta, mas a descida é brava. O chão estava úmido por causa do sereno da noite. Ainda tinha muito mato molhado, meu carro saiu da fita de concreto da estrada interna e "puff" bati numa pedrinha, que, se olhar pelo lado positivo, impediu que meu carro saísse deslizando montanha abaixo.
Seja lá como for, cheguei na minha casinha, que aqui no sítio Santa Roça recebeu o nome de "casinha da Curva", porque foi construída numa curva...(erghhh!!)
E aí, pintei uma porta, quatro janelas, patinei um aparador, uma janela, arrumei caixas e mais caixas, fui pra Monteiro, 11 km daqui. Fui olhando pro ponteiro do combustível, que estava cada vez mais perto do zero. Acho que imaginei as "tocidas" que o carro deu, perto da cidade. Foi perto. Cheguei no bafo.
Lá eu fui ver se meus caixotes de feira tinham chegado..nãooooo..buááááááá...
Mas peguei a roçadeira, enchi o tanque e fiz compras.
Entrei no carro e fui pra outra cidade, São Chico, que fica do lado de Monteiro.
Lá fui direta no depósito de material de construção. Comprei mais tinta, avisei que meu caseiro iria sair depois do almoço. Eu sabia que isso cancelaria o caminhão que estava pronto pra sair e fazer uma entrega lá no sítio. Marquei para amanhã de manhã cedo.
Voltei correndo pra casa. Deixei Dona Francisca arrumando a roupa da casa sede e já estava atrasada para juntar-me a ela lá na casinha da curva.
Era hora do almoço, mas nem eu nem ela paramos para comer.
A casinha da curva durante um bom tempo serviu de moradia para os caseiros que trabalharam aqui. E o estado das paredes, do banheiro, do chão, dos móveis..nossa. Que lixo, que sujeira, que nhaca. E tanto trabalho numa casinha tão pequenina.
Móveis reformados, alguns sem chance de reforma foram dados. Aqui na roça, o que não serve pra alguns pode muito bem servir para outros. Mas acho que isso não é privilégio da roça.
No final da tarde, descobrimos que as vacas do vizinho entraram pela porteira aberta...que droga. Dona Francisca me ajudou. Chamou meus cachorros e lá foi ela, pulando feito uma gazela pelo mato, tocando as vaquinhas fedidas que saíram correndo quando Melão e Zica saíram correndo atrás delas.
Fechei a casinha da curva. Eu já não aguentava mais. Meu celular, que não pega na roça, marcava 19:17 quando eu entrei no meu super cupê fiat way economic e subi a montanha, morta e louca pra tomar um banho.
Depois do banho, lazanha Sadia 4 queijos, enquanto falava com minha irmã pela net, MSN.
Aí, a hora do descanso.
Beijei meus gatos, desliguei todas as luzes da casa, desliguei os aparelhos das tomadas e fui dormir.
Bem, antes, é claro, sentei aqui pra escrever, nada demais.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Qual sua primeira lembrança??
Qual a sua primeira lembrança?? A primeira lembrança...Depois que se vive muito, quase como se várias vidas em uma só, lembrar a primeira memória é quase um desafio da alma.
Pensar em memórias guardadas quimicamente também é um desafio de alma para mim. Resgatar estas memórias através de um elemento químico, ou deixar de faze-lo por falta de oxigenação no cérebro..tudo isso é muito louco pra mim.
Por incrível que pareça, para mim fica bem mais fácil acreditar que, em algum lugar no cosmos, existe espíritos e mundos alternativos em outras dimensões. E que guardamos nossas memórias em alguma caixinha sagrada em algum cofre nestas dimensões. um coração talvez.
A minha primeira lembrança é clara.
Eu estava sentada no chão. Na altura dos meus olhos, uma tesourinha de plástico cor-de-rosa em cima de uma mesa baixa. Eu lembro de olhar para a parede e ver a janela fechada com persianas, embora fosse dia ainda e eu visse o sol passando pelas frestinhas de madeira.
Lembro da minha alegria em cortar pedaços de uma revista ou algo feito de papel que eu achei sobre esta mesa. Passar a tesoura quase sem mexer os dedos, deslizando rapidinho pelo papel.
Lembro do som dos passos de minha mãe e alguns gritos que eu não entendi. Mas para mim estava tudo bem. Eu tinha me divertido pacas com aquela tesourinha.
Contei para minha mãe, minha companheira nesta lembrança. Ela esteve comigo e saberia dizer se eu estava mesmo lembrando ou inventando.
Conforme fui contando com os detalhes do sol pela janela, cor da tesoura, persianas, minha mãe ia arregalando os olhos: Putz..era verdade. Eu havia ganhado esta tesoura de uma tia, que mora no Rio de Janeiro. Enquanto minha mãe trancava a casa e fechava as janelas para sair, ela me deixou no chão da sala, com minha tia e a tesoura, mas colocou também o seu título de eleitor, pois estava se preparando para votar para presidente. Eu picotei o título dela...
Colou com durex e o mesário entendeu.
Eu tinha um ano e meio.
Hoje, ainda tenho viva a sensação das persianas ensolaradas e o prazer de picotar o título da minha mãe.
Química?? Em que elemento químico ficou grudado aquele sol pela janela?? Em que neurônio eu guardo as sensações daquela tarde de votação??
Eu não sei nada disso... Vocês guardem suas memórias onde quiserem... ... eu guardarei numa caixa, guardada num cofre, guardado numa dimensão onde os espíritos vivem.
Pensar em memórias guardadas quimicamente também é um desafio de alma para mim. Resgatar estas memórias através de um elemento químico, ou deixar de faze-lo por falta de oxigenação no cérebro..tudo isso é muito louco pra mim.
Por incrível que pareça, para mim fica bem mais fácil acreditar que, em algum lugar no cosmos, existe espíritos e mundos alternativos em outras dimensões. E que guardamos nossas memórias em alguma caixinha sagrada em algum cofre nestas dimensões. um coração talvez.
A minha primeira lembrança é clara.
Eu estava sentada no chão. Na altura dos meus olhos, uma tesourinha de plástico cor-de-rosa em cima de uma mesa baixa. Eu lembro de olhar para a parede e ver a janela fechada com persianas, embora fosse dia ainda e eu visse o sol passando pelas frestinhas de madeira.
Lembro da minha alegria em cortar pedaços de uma revista ou algo feito de papel que eu achei sobre esta mesa. Passar a tesoura quase sem mexer os dedos, deslizando rapidinho pelo papel.
Lembro do som dos passos de minha mãe e alguns gritos que eu não entendi. Mas para mim estava tudo bem. Eu tinha me divertido pacas com aquela tesourinha.
Contei para minha mãe, minha companheira nesta lembrança. Ela esteve comigo e saberia dizer se eu estava mesmo lembrando ou inventando.
Conforme fui contando com os detalhes do sol pela janela, cor da tesoura, persianas, minha mãe ia arregalando os olhos: Putz..era verdade. Eu havia ganhado esta tesoura de uma tia, que mora no Rio de Janeiro. Enquanto minha mãe trancava a casa e fechava as janelas para sair, ela me deixou no chão da sala, com minha tia e a tesoura, mas colocou também o seu título de eleitor, pois estava se preparando para votar para presidente. Eu picotei o título dela...
Colou com durex e o mesário entendeu.
Eu tinha um ano e meio.
Hoje, ainda tenho viva a sensação das persianas ensolaradas e o prazer de picotar o título da minha mãe.
Química?? Em que elemento químico ficou grudado aquele sol pela janela?? Em que neurônio eu guardo as sensações daquela tarde de votação??
Eu não sei nada disso... Vocês guardem suas memórias onde quiserem... ... eu guardarei numa caixa, guardada num cofre, guardado numa dimensão onde os espíritos vivem.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
A índia e a ayuasca
Não que eu goste de novidades. Puxa, no horóscopo chinês eu sou coelho, ou gato. Isso quer dizer que ou gosto de me enfiar na toca, medrosa de novidades, ou gosto muito de almofadas, dentro da toca, com pouca novidade, por favor. No mundo de Tolkien, eu seria uma ótima hobbit, com nome de flor, feliz por ter minha toca de porta redonda, cheia de flores no jardim, horta no quintal.
Mas a vida tem grandes novidades para quem nem pensa em ter experiências diferentes, com grandes aventuras.
E, como se algum Gandalf da vida tivesse batido na minha toca de porta redonda, eu fui levada a viver estas aventuras.
E lá fui eu para uma reunião em Ubatuba, com pessoas amigas, com o intuito de tomar a bebida feita pela junção de um cipó com uma folha. E eu bebi a ayuasca, em um lindo ritual no meio da mata, numa casinha linda feita de vidros. Esta foi a primeira vez.
Depois desta, mais algumas aconteceram. Em cada uma, uma estória.
A que eu venho contar se deu em uma propriedade em Piedade, na casa de uma amiga, depois de algumas horas da ingestão da ayuasca. Eu me deitei, e fechei meus olhos..e tudo aconteceu.
Uma linda floresta foi se formando bem na minha frente, com árvores que nasciam de pequenas sementes e que, em segundos, já estava gigantesca..e assim eu ia andando, e a floresta ia se formando. Quando já estava bem fechada a mata , uma clareira se abriu e eu estava nela, vendo o céu estrelado lá em cima, na brecha redonda que a floresta me abria.
Com a luz que vinha da lua, eu pude ver, no meio de uma casca de árvore (eu sei que parece estranho, ma eu estava tendo uma alucinação provocada pelo dimetil..alguma coisa), dois olhos, finamente pintados como os egipcios pintavam..e juro, estavam no meio da casca da árvore..aí aproximei meus olhos e ví sua boca, e depois o contorno do rosto..e assim, uma índia foi surgindo do meio da casca da árvore...e foi crescendo, como se ela fosse uma árvore gente, agigantando-se até ficar bem maior do que qualquer uma daquelas árvores. E aí eu voltei, quando minha amiga entrou na casa, convidando-me para um lanche para esperar o sol nascer..é claro que eu fui. Café preto, pão torrado com manteiga derretendo na fatia cheirosa, e o sol nascendo, com a cabeça cheia de ayuasca..foi realmente interessante.
Mas não foi isso o interessante. É que semanas depois, outro amigo, de Atibaia, convidou-me para uma exposição de quadros que ele havia pintado ao longo de alguns anos. Seu retorno ás artes. Claro que fui. Estacionei o carro numa praça deliciosa perto do casarão que a prefeitura havia reformado para estes eventos. Fui subindo as escadas e bem lá no alto, posto para receber os convidados da vernisage, estava um quadro grande, com uma índia pintada. Estava nua, sentada pudicamente numa pedra num curso raso de água. Ela segura uma espada, que divide o quadro em 2 triângulos. E dando a volta na cena, a figura do Ouroboros, a cobra que morde o próprio rabo, indicando um ciclo finito, quando a cobra por fim entende que pode quebrar o ciclo vicioso e mudar..Como a roda das encarnações..várias vidas, várias vidas até que o ser enfim entende que pode parar com isso..melhorar..quebrar o erro que o faz repetir incontáveis vezes porque ainda nao havia entendido.
E lá estava eu meditando sobre tudo isso quando vi seus olhos.Os mesmos que eu havia visto na "viagem" com ayuasca. Pintados como na visão...me olhando.
O quadro hj esta em cima da lareira, no centro da sala. Eu estou me separando. Mas o quadro vai comigo.
Vou levar este quadro em cada toca de hobbit que eu for morar. Ninguém precisa conhecer a estória toda do quadro. Só eu.
Mas a vida tem grandes novidades para quem nem pensa em ter experiências diferentes, com grandes aventuras.
E, como se algum Gandalf da vida tivesse batido na minha toca de porta redonda, eu fui levada a viver estas aventuras.
E lá fui eu para uma reunião em Ubatuba, com pessoas amigas, com o intuito de tomar a bebida feita pela junção de um cipó com uma folha. E eu bebi a ayuasca, em um lindo ritual no meio da mata, numa casinha linda feita de vidros. Esta foi a primeira vez.
Depois desta, mais algumas aconteceram. Em cada uma, uma estória.
A que eu venho contar se deu em uma propriedade em Piedade, na casa de uma amiga, depois de algumas horas da ingestão da ayuasca. Eu me deitei, e fechei meus olhos..e tudo aconteceu.
Uma linda floresta foi se formando bem na minha frente, com árvores que nasciam de pequenas sementes e que, em segundos, já estava gigantesca..e assim eu ia andando, e a floresta ia se formando. Quando já estava bem fechada a mata , uma clareira se abriu e eu estava nela, vendo o céu estrelado lá em cima, na brecha redonda que a floresta me abria.
Com a luz que vinha da lua, eu pude ver, no meio de uma casca de árvore (eu sei que parece estranho, ma eu estava tendo uma alucinação provocada pelo dimetil..alguma coisa), dois olhos, finamente pintados como os egipcios pintavam..e juro, estavam no meio da casca da árvore..aí aproximei meus olhos e ví sua boca, e depois o contorno do rosto..e assim, uma índia foi surgindo do meio da casca da árvore...e foi crescendo, como se ela fosse uma árvore gente, agigantando-se até ficar bem maior do que qualquer uma daquelas árvores. E aí eu voltei, quando minha amiga entrou na casa, convidando-me para um lanche para esperar o sol nascer..é claro que eu fui. Café preto, pão torrado com manteiga derretendo na fatia cheirosa, e o sol nascendo, com a cabeça cheia de ayuasca..foi realmente interessante.
Mas não foi isso o interessante. É que semanas depois, outro amigo, de Atibaia, convidou-me para uma exposição de quadros que ele havia pintado ao longo de alguns anos. Seu retorno ás artes. Claro que fui. Estacionei o carro numa praça deliciosa perto do casarão que a prefeitura havia reformado para estes eventos. Fui subindo as escadas e bem lá no alto, posto para receber os convidados da vernisage, estava um quadro grande, com uma índia pintada. Estava nua, sentada pudicamente numa pedra num curso raso de água. Ela segura uma espada, que divide o quadro em 2 triângulos. E dando a volta na cena, a figura do Ouroboros, a cobra que morde o próprio rabo, indicando um ciclo finito, quando a cobra por fim entende que pode quebrar o ciclo vicioso e mudar..Como a roda das encarnações..várias vidas, várias vidas até que o ser enfim entende que pode parar com isso..melhorar..quebrar o erro que o faz repetir incontáveis vezes porque ainda nao havia entendido.
E lá estava eu meditando sobre tudo isso quando vi seus olhos.Os mesmos que eu havia visto na "viagem" com ayuasca. Pintados como na visão...me olhando.
O quadro hj esta em cima da lareira, no centro da sala. Eu estou me separando. Mas o quadro vai comigo.
Vou levar este quadro em cada toca de hobbit que eu for morar. Ninguém precisa conhecer a estória toda do quadro. Só eu.
sábado, 9 de outubro de 2010
Sabe a emoção da primeira vez??
Todo mundo já teve suas "primeiras vezes" em tudo, isso é claro. Mas tem "certas" primeiras vezes que ficam na mente, pelo menos na minha..ficam numa região de fácil acesso, inclusive. Memória fácil de recuperar.
Eu estava em Ubatuba, passando uns dias na casa de amigos. Conversávamos no deck amplo da casa de madeira no alto de um morro, cheio de árvores e com vista pro mar..puxa, casa linda a deles.
Falávamos sobre livros. Perguntei pra Lígia: "-Você já leu "O Senhor dos Anéis", do Tolkien??". Ela me dirige um olhar meio triste, meio safadinho e diz"-Ai, menina..infelizmente sim..eu nunca mais vou ter aquela sensação de quando eu o lí pela primeira vez..entende??".
Eu entendi, na hora. Concordei. Não poderia ter dito melhor. Nas outras vezes, quando relí suas obras, eu sabia que aquela sensação estava lá..já era minha conhecida. Na primeira vez, eu não tinha com que comparar minha sensação..era novinha em folha..magia pura.
Eu adoro sentir esta sensação..São raras, é claro. Mas por isso mesmo, são esperadas com alegria..e quando chegam..ahhhhh..que delícia, deixar-me levar nas ondas novas deste descobrir, do contentamento..do prazer.
Rarindra Prakarsa, um fotógrafo indonésio, me deu este presente estes dias.
Fotos que traduzem poemas,milhões de palavras que se calam diante daquelas imagens do cotidiano de crianças, senhores de pele em papiro, pescadores em lugares paradisíacos, raios de luz entre árvores gigantes, ents que falam aos ventos suas memórias e seus medos...
Lindo..vale a pena compartilhar gente assim..aliás, só gente assim se vale compartilhar..
Eu estava em Ubatuba, passando uns dias na casa de amigos. Conversávamos no deck amplo da casa de madeira no alto de um morro, cheio de árvores e com vista pro mar..puxa, casa linda a deles.
Falávamos sobre livros. Perguntei pra Lígia: "-Você já leu "O Senhor dos Anéis", do Tolkien??". Ela me dirige um olhar meio triste, meio safadinho e diz"-Ai, menina..infelizmente sim..eu nunca mais vou ter aquela sensação de quando eu o lí pela primeira vez..entende??".
Eu entendi, na hora. Concordei. Não poderia ter dito melhor. Nas outras vezes, quando relí suas obras, eu sabia que aquela sensação estava lá..já era minha conhecida. Na primeira vez, eu não tinha com que comparar minha sensação..era novinha em folha..magia pura.
Eu adoro sentir esta sensação..São raras, é claro. Mas por isso mesmo, são esperadas com alegria..e quando chegam..ahhhhh..que delícia, deixar-me levar nas ondas novas deste descobrir, do contentamento..do prazer.
Rarindra Prakarsa, um fotógrafo indonésio, me deu este presente estes dias.
Fotos que traduzem poemas,milhões de palavras que se calam diante daquelas imagens do cotidiano de crianças, senhores de pele em papiro, pescadores em lugares paradisíacos, raios de luz entre árvores gigantes, ents que falam aos ventos suas memórias e seus medos...
Lindo..vale a pena compartilhar gente assim..aliás, só gente assim se vale compartilhar..
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Uma odisséia na roça
Tudo bem..
Vivo numa área de proteção ambiental..não posso passar trator pra arrumar 600 metros de estrada interna..tem que fazer na enxada...mas pra quem nunca tentou, enxada em estrada de terra, depois de uma madrugada de chuvas, é um tesão..a terra tá macia e a enxada desliza como faca na manteiga. E o cheiro então?? Putz.."parece que eu to abrindo um presente" (esta frase foi dita pelo pedreiro mais lindo que eu já vi..pele bronzeada, cabelos negros, olhos azuis, cavando uma fossa aqui ao lado da casa..me disse "Dona, que cheiro de terra bom aqui em baixo...parece que eu to abrindo um presente"...vê se pode isso?? Não é louco??
Tenho comunicação via rádio, ainda precária aqui no alto da montanha, nos meses de fortes chuvas e raios e trovões e ventos fortes...mas quando o espetáculo da Natureza acaba, o homem se põe a correr e a religar o que caiu e pronto..algumas horas depois, tudo aceso novamente.. :D
Para comprar uma aspirina tenho que rodar kms de estrada para chegar numa farmácia pequena, cujo dono é deputado e tem uma pequena pousada nos fundos da farmácia, única da cidade..ainda corro o risco de não ter.. :D Chás ajudam e terra não me falta...eu resolvo com a natureza em volta.
Se alguma coisa queimar, tipo a minha geladeira, bem..não vou encontrar ninguém pra arrumar...ai fico semanas usando a dita cuja só como armário..e estranhamente deu certo...não estragou nada nestas semanas...e água gelada aqui tá garantida sempre..vem da mina..fria como Deus gosta.
Sou da roça..descobri meu mundo..mas..e daí??
como qualquer ser desde os tempos das cavernas, meu olhar se ergue aos céus em êxtase quando vê tanta estrela lá em cima..adoro astronomia..olha só isso:
o veículo se chama Lunar Eletric Rover (LER) e será testado agora em setembro no deserto do Arizona.. que é isso?? que maravilha..parece 2001- Uma Odisséia no espaço..estamos chegando lá, Kubrick, estamos chegando lá...
Mankiller
Tem dias que as coisas vão acontecendo e me levando para lugares diferentes, inusitados e portanto, fortes candidatos à serem interessantes para mim.
Domingo na televisão é um lixo, e mesmo nos canais à cabo tem momentos negros, gaps de lixo..deixei de ver em que canal estava e fui simplesmente zapeando , ouvindo um pouco do programa, vendo s gostava...e assim, achei um programa que falava sobre uma mulher, índia cherokee, chamada Wilma Pearl Mankiller.
Que nome maravilhoso, eu pensei. Que presença forte e linda desta mulher. Pérola e matadora de homens... :D
Ela foi chefe da Nação Cherokee por 10 anos, lutando pelo seu povo junto a nação "branca"...
Filha de índio nativo e holandesa..combinação perfeita... Tudo bem, vou puxar um pouco pro meu lado holandês.. sou fã destes malucos.
Morreu em abril deste ano.
Lutou para que homens e mulheres construissem juntos um mundo melhor, literalmente... Conseguiu os canos para fazer o sistema de esgoto das casas cherokee, mas quem cavou, arrastou, colou, uniu e tapou de volta foram os moradores..juntos...
Putz..forte exemplo do que pode ser feito quando no unimos...
é mágico ver como a realidade desperta em mim as mesmas sensações de prazer e felicidade que os livros quando falam de heróis e gente diferente da massa...não é bom saber dos heróis reais??
domingo, 12 de setembro de 2010
Deus na roça
Sabe, nesta cidade tem mesmo tudo.
Ontem fui convidada para um jantar num sítio na estrada da Santa Bárbara, no quilometro lá longe mantiqueira acima comer pizza feita em casa.
E lá fui eu. Noite já. Logo depois de passar o trevo de São Chico eu já sabia que eu ia me perder. è diferente de cidade. Na cidade vc tem mapa, tem guia on-line que te da a direção certa, as ruas á esquerda e direita pra se entrar.
Putz... na roça não tem mapa..as ruas são de terra, os números são longas seqüências de números, mostrando que os quilometros estão a passar. As casas, geralmente, estão longe da porteira e perguntar fica impossível. Então, com o presentinho no banco ao lado, é pisar no acelerador e se perguntar se , da última vez, aquela lixeira, ou aquele poste, ou aquela porteira, estava lá... se é conhecido o terreno...aiii. Segue em frente com o coração na garganta, aquela escuridão com o céu mais estrelado do que nunca.
E sobe montanha. Sobe. Sobe. Sobe. Vira à direita na lixeira depois do bar e vai subindo.
Depois de um tempo, virei na igreja. Era óbvio, naquele momento pelo menos ficou, que eu havia me perdido outra vez.
Desci..e na lixeira depois do bar, virei à esquerda. E subi, subi, subi, e subi mais um tanto.
Á direita ví a porteira dos amigos.
Casinha de caboclo, pequenina. Fogão á milhão, com torradas, vinho..bom papo..e papo vem e papo vai, um amigo da roda conta que foi visitar o atelier de um vizinho. Ele faz máscaras venezianas, lindas e coloridas, naquele visual chique do carnaval da cidade italiana.
Meu amigo disse que ficou um bom tempo lá, batendo papo com o artista, que é budista. Falaram sobre os vários caminhos de Budha.
Poxa, eu tava gostando tanto de ouvir, que até levei um susto quando o amigo disse que o artista levantou a blusa e mostrou um revolver calibre 38 que estava na cintura. E apontou para detrás da cortina mostrando uma escopeta calibre 12, encostada na parede. E ai meu amigo notou os dois rotweillers na porta, parte da mesma estratégia de "segurança".
Budista.
Roça escura, estrada vazia de gente, com casas distantes. Na floresta em torno, só escuridão.
Não culpei o budista fajuto.
Pensei em mim mesma, na solidão da montanha.
Deus na roça é para os corajosos e os ingênuos.
Deus é confiar no Universo, que tudo vai dar certo.
Deus é se jogar do despenhadeiro de braços abertos e acreditar que lá embaixo é tudo rosa.
E é.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Zica Wicca Kuíka
O nome é complicado, mas ela é bem simples. Na verdade, a estória é simples. Ela chegou toda cheia de cortes, bernes, magra com os ossos aparecendo. Eu chegava perto e ela fazia xixi, com o rabo no meio das pernas, morrendo de medo. Eu chorava, de dó.
Ela tinha medo de humanos... e eu fiquei com vergonha. Desculpa, cachorrinha, porque tem gente bem ruim por ai..e ai eu não agüentei. Peguei a cadelinha magrela, e pronto.
Fim da estória.
Mas não é bem assim, né??
Depois dos bernes tirados, do banho tomado, da injeção contra doenças, da cirurgia pra tirar uma bola enorme de pus..cirurgia esta feita na minha lavanderia mesmo...
Ai, pensei, vou chamar o Fernando. O dr. Fernando, vet aqui da região. e lá veio ele, com seu fusquinha montanha acima, com tudo dentro do carro. Anestesia, esparadrapos, seringas, bisturi, tudo. Eu ajudei. Foi lá na mesa mesmo. Ela nem percebeu. Eu que achei o máximo. Deu tudo certo..êta roça!!
E depois da cirurgia veio os sapatos comidos..tantos sapatos, perdi até a conta. Roupas rasgadas...até meu vizinho subiu a montanha a cavalo, bravo que doía ver o homem ali da cela dele...
"-Tua cadela matou uma das minhas vacas".
"-Não pode ser..como foi isso??".
"-Ela mordeu as patas da vaca que correu e rolou a montanha, morrendo lá embaixo. Foi por causa da cadela, que morde as patas das minhas vacas"..
"-Moço, não vai mais acontecer".
E fazer cumprir a palavra não é fácil.
Ela mordia mesmo. Eu gritava, não adiantava.
Tive que dar a cadela...e lá se foi a Zica, montada na caçamba do carro, tremendo novamente.
Dei a Zica pra minha vizinha, que tem muitos cães. Dei porque tinha a promessa de devolver caso não desse certo... e é claro que não deu. A Vizinha ligou, brava:
"- Não quero mais tua cadela. Ela já matou uma das minhas galinhas. Vem já buscar esta cachorra".. e lá fui eu, buscar a Zica, mais feliz do que outra coisa.
Sou "mãe" mas não sou cega..tenho uma cadela que só da problemas..mas que eu amo de paixão.
Final do ano passado me deu 9 cachorrinhos. 2 morreram de verme, um morreu afogado numa chuva forte que deus mandou logo na noite que eles nasceram.
O restante eu dei. Fui na praça da cidade vizinha, com eles no colo. E fui de pessoa em pessoa, sentada nos bancos, nos balcões dos bares, nos portões de suas casas, entrei até no supermercado da dona Maria, minha amiga.
Dei todos.
A última foi a Totóca, depois adotada pela turma do acampamento. Era a mais doentinha... ficou boa, mas parte do pescoço se foi com os vermes que comeram ela, dentro do ninho na mata..tiramos com pinça, todos... e passado a fase..ficou boa.
Deu dó quando eu dei. Eu queria ela para mim... mas tudo bem.
Agora to com a Zica por ai. Depois que voltou da vizinha me obedece mais. Eu grito o nome dela e ela vem correndo.
Acho que viu que humanos são "bichos" estranhos. E eu vou aprendendo a conviver com a Zica Kuíka...
Alguém quer uma cadela?? Nãoo douuuuuu!! :D
domingo, 1 de agosto de 2010
Wicca Cuíca
Eu nunca tinha tido cachorro. Muito menos me interessei em estudar as raças antes de escolher. Fui num shopping de bairro e lá estava a feirinha de animais. Num "chiqueirinho" eu vi umas bolinhas de pelos brancos, pulando uns com os outros, dando gritinhos de alegria "infantil". Rusky Canadense, foi a resposta sobre que raça era. Preço de mil reais, com pedigree e tudo. Barato, eu pensei, ainda ganha a vacina aqui no shopping mesmo.
Ego nas alturas, porque ao sair do shopping, a roda de gente querendo saber da bola branca era grande e crescia se eu não saísse andando.
Filhotes comem tudo. Tudo bem. Wicca comeu tudo. Comeu meu manacá do vaso. Comeu minhas roseiras e acabou com meu jardim, que parecia antes dela um éden pequenino e suave no meio do concreto da casa, na vila mariana. Comeu sapatos e corria atrás dos gatos. Foi um inferno.
Na noite de inauguração de uma grande loja de livros na cidade de São Paulo, eu enfrentei o engarrafamento com ela no colo, sofrendo por causa da noite quente. Liguei o ar condicionado e deixei a Wicca no meu colo, tomando vento frio no rosto. Uma menina que pedia dinheiro numa esquina parou na janela, nariz no vidro. Ela ria. Abri a janela, e ela disse com grandes olhos arregalados: que linda, enfiando as mãos para acariciar o pelo macio e alto da Wicca, que adorou o carinho inesperado.
Na foto Wicca segura uma bola verde, que assumia vezes de filhote, nos momentos em que Wicca sofria de gravidez psicológica. Ela agarrava a bola e ninguém chegava perto. Só eu.
No calor, gelo no quintal.
Pra passear, só um homem forte. Eu não tinha forças para segurá-la.
Paguei um ano e meio de handler. Foi ótimo. O Paulo é um moço maravilhoso, e as aulas fizeram bem. Não nego. Mas não ajudaram muito com ela. Selvagem, auto suficiente, mandona e ciumenta.
Quando viemos pro mato, ela foi dada para um casal.
Um dia, tomando café em São Paulo numa padaria de esquina, passou o novo dono com um envelope nas mãos. Nos viu de relance e entrou na padaria atrás da gente. Ai, pensei, ele vai querer devolver a Wicca, que eu chamava carinhosamente de Wicca Cuíca.
Mas foi o contrário. Ele abriu o envelope e me deu as fotos dela, linda, penteada, com um laço enorme cor-de-rosa. Os olhos do homem se encheram de lágrimas e ele nos disse: "-Não foi voce que me deu a Wicca, foi Deus".
Sabe aquilo que te pega sem esperar? Até hj eu agradeço o milagre da Wicca.
Cães eu tenho e vou falar deles mais na frente.
Como a Wicca nunca mais.
Ruskies?? jamais é muito tempo, mas se depender de mim, não mais.
Wicca foi unica.
Eutanásia R$ 80,00
Eu me sinto privilegiada quando penso na convivência com meus animais.
Tudo bem..Diversidade... tem gente que não gosta de bicho, que prefere bichos longe, na natureza..tem gente que não gosta de limpar "sujeira", que não quer ter trabalho.
Tem gente alérgica, e outros tantos motivos pra não se ter bichos por perto.
Eu vivi muitos anos da minha vida sem bichos.
Quando peguei meus dois gatos, eu sabia que, depois daquele dia, eu jamais ficaria sem animais. Não posso mais me imaginar vivendo sem eles.
Minha gatinha Pretagil foi uma estrelinha preta que passou na minha vida..linda, falante, amorosa e linda, gente... Muito linda. Era de roça mesmo. Caçava tudo... comia todos.
Quando saiu pelo mato aos 8 meses eu bem sabia: aii meu deus, pensei, bobeei... Pretagil vai voltar barriguda..e dito e feito..voltou com 4 bebes na barriga, que quando nasceram, ela fez questão de me levar no dia seguinte ao nascimento, para a caixinha de cordas lá em cima na garagem... e lá estavam eles. Nasceram no final do ano.
Quando ela tirou eles de lá fez questão de apresentar um a um para os cães da casa, Melão e Neco. Veio como nos filmes, com um bebe na boca, colocando no chão e rosnando pros amigos caninos, indicando que aquele bebe era dela e que não podia morder. Eles entenderam. Aliás, verdade seja dita, eles tinham o maior respeito pela Preta. Ela é que dava as ordens no barraco.
Um dia subiu a montanha com um preá enorme na boca. Levou ate a varanda, onde as "crianças" estavam. Ela levou o bichinho vivo, e ensinou a matar. E os 4 comeram a preá inteirinha, deixando o intestino.. O resto foi tudo.
Eu digo que sou privilegiada de ver tudo isso.
Quando ela ficou doente, eu sabia que era o fim da Preta. Doeu demais deixar ela lá, pra matar. Nunca mais vou me esquecer disso.
Paguei R$ 80,00 (oitenta reais) pra ela morrer.
Obrigada Preta.
Amei ter voce.
Te amo, viu?
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Tufão na Roça
"Vivo a enebriante liberdade de escrever sobre o que vivo"..esta frase permeia meu universo interior.. A lí em um blog, perdão por nao lembrar mais onde foi...
Sou uma privilegiada. Num universo de analfabetos, semi-analfabetos, cegos que não veem o mundo ao redor,eu me sinto rainha em terra de cegos.
Sentada de costas para a porta de vidro, eu só ouvi o barulho. Olhei pela porta e vi a chuva chegar, mas levei alguns segundos para descobrir de onde vinha o barulho..um barulho que eu nunca ouvi antes..até agora, escrevendo estas linhas, eu me arrepio com a lembrança daquele som. Talvez seja uma das coisas que eu jamais esquecerei.
Deu tempo de pegar o pote da ração dos gatos, fechar a porta de vidro e sair pela casa, fechando o resto.Mas foi só o que eu consegui fazer.
O vento veio..e com ele a destruição como nunca havia visto.
As cadeiras e redes da varanda se foram pelo ar, junto com arvores e pedaços de galhos enormes..tudo voava ao som daquele barulho louco..e a chuva..pouca agua, mas violenta..louca..a janela quebrou e junto com os vidros, levou os apetrechos da lareira,,molhou quadros, sofá, instrumentos musicais.
E aquele som, maravilhoso, louco, me assustava e encantava...não somos nada..nada..tentei abrir a porta, sair de casa, e não consegui abri-la..achei que havia alguém fazendo força pra ela ficar fechada..era a força do vento, que me impediu de abri-la. Não deu. Não consegui fazer mais nada..parei no meio da sala, achando que restaria pouco pra limpar depois do tufão ter passado.
Deve ter durando poucos minutos.
Mas foram intensos. As arvores estão lá..fiquei pensando nos passaros que, há pouco, eu havia visto voarem com pedras nas patinhas para fazer o ninho aqui na minha porta de entrada..tem um nicho lá, e eles todo ano, nesta época, vem aqui para nidificar...
Agora chove. Coloquei uma lona no lugar da janela quebrada, e estou catando os destroços de arvores e outros itens que voaram pela sala afora.
Minha gata miava grosso..eu tb miaria grosso se pudesse soltar algum som pela boca aberta de medo.
Vivo a inebriante aventura de escrever sobre o que vivo.
Sou uma privilegiada, num mundo de poluição e cinza...eu sobrevivi a um tufão na roça...
o resto..o resto é conversa para depois, no fogão a lenha, já com a casa seca.
e viva a roça, minha gente...
O Planeta Talira
Naqueles dias do acontecimento, eu trabalhava com computadores Era uma empresa pequena, quase caseira, que desenvolvia os primeiros pcs, com um sistema operacional que permitia rede, era um avanço.
Eu trabalhava com o Software da máquina e dava os cursos de operação. Requisitei um ajudante.
Foi ai que o Ronaldo entrou na estória. Era programador e tínhamos muito trabalho. Ficávamos a maior parte de nossas vidas naquele cpd gelado. E ele foi, aos poucos se abrindo. Mostrou-me dezenas de mapas inter-galáticos, feitos por ele, marcando trajetórias de viagens. Livros manuscritos com milhares de páginas, contando a estória de um planeta chamada Talira, de povo pacífico. Foram atacados por planeta belicoso. Estória manjada, mas os descritivos das famílias, dos costumes, das escritas, dos números, alfabeto, brasões, arvores genealógicas, tudo absolutamente detalhado. Uma outra dimensão. Ele trazia cada vez mais coisas ao cpd, amontoando uma riqueza no canto frio, me dando o que pensar. Era tudo muito rico...
E um dia, eu sonhei. Sonhei que me colocavam na frente de uma mesa em forma de lua crescente num rico salão de mármore. Na mesa sentavam 13 homens. Um bem no meio, que lembrava o Galdalf, e seis de cada lado dele, todos anciãos. E o do meio me chamou de um nome estranho (que eu não me lembro) e disse "Fulana...nós somos do 13º Conselho de Anciãos de Talira" e você esta aqui ..." e acordei.
Acordei, escrevi o nome que me chamavam no sonho num papel, junto com o nome do Conselho,
tomei banho e saí correndo pro trabalho. Estava louca pra chegar e contar pro Ronaldo,
embora soubesse que ele só chegava, sempre, depois das 10:00 da manhã...Por isso assustei
quando vi o Ronaldo, de costas pra porta de vidro, já debruçado numa listagem de programa em cobol, procurando por uma vírgula fora do lugar.
E o diálogo a seguir conta bem próximo da realidade o que aconteceu:
"-Ronaldo, tenho uma coisa pra te contar, vc nem vai acreditar!
-Eu sei- disse ele.
-Como assim "eu sei"...pois acaba de acontecer...
-Mas eu já sei."
Virou-se para mim e com os olhos cheios de água ele foi se aproximando de mim e dizendo:
"-Voce sonhou com o 13º Conselho de Anciãos de Talira".
E quando chegou bem perto de mim, ele disse olhando nos meus olhos:
"-Fulana (o mesmo nome do sonho), voce esta se lembrando".
E ai, eu fiquei muitoooooo assustada. Meu coração veio parar na boca, não havia área do meu corpo que não tremesse, e no meio do medo, eu só consegui rasgar o papel onde havia anotado o meu nome ( o que hj me arrependo) e lembro de ter pedido a ele que nunca mais tocasse no assunto.
Nunca mais ouvi falar sobre Talira, sua saga, sua viagem ate o planeta Terra, suas naves mães estacionadas em Io, Saturno. e nossas naves de pouso ainda escondidas debaixo das areias escaldantes do Egito. A riqueza de material foi aos poucos desaparecendo do cpd, até que não tivesse mais nada.
Semanas depois, o Ronaldo desapareceu e nunca mais ouvi falar do Ronaldo.
Bem, é quase nunca mais...Mas uma pena que meu medo me paralisou.
Perdi uma grande oportunidade na minha vida de viajar em outra dimensão.
Aprendi que o medo paralisa a alma...
Como eu li no livro "Duna", "..o medo é a pequena morte da mente..."
E minha mente morreu um pouco naquele dia.
Pena pra mim...
Pintura da alma
Eu trabalhava com computadores, depois mudei de vida. Aprendi pintura e fui dar aulas..por mais de 18 anos.. e foi maravilhoso. Pelas centenas de quadros que passaram pelo meu atelier, eu conheci dezenas de pessoas por dentro, na intimidade desconhecida ate de quem pinta. Casos tão interessantes de transformações radicais, depois que a janela da alma mostrou alguma
informação da casa interior.
Eu tinha uma aluna que só pintava casario. Acabava ano, entrava ano, e la estava ela pintando paredes e janelas retas, telhados com telhas em detalhes, tudo certinho, tudo simétrico, nada fora do lugar. De vez em quando, arriscava uma natureza morta, pelos mesmos motivos: tudo certo, tudo no lugar.
E ai eu disse: "-Próximo quadro vai ser abstrato". Não ouve um momento de silencio, não. Foi eu terminar a frase, ela começou a dizer em voz alta que não dava, que eu estava sendo louca de querer isso, que ela ia passar muito mal, de pintar algo sem contornos precisos....e eu disse: próximo quadro vai ser abstrato. Voce escolhe o motivo.
Ai eu ajudei.
Fiquei com dó da expressão assustada da mulher. Um fundo de mar, arrisquei. Nem tão abstrato, assim, mas mais impalpável, mais mutável...eu queria que ela saisse do quadrado. Ela veio na proxima aula nervosa, cabeça doía, não sabia porque estava lá.
Usamos massa corrida, objetos diversos pra colar na tela, lúdico, macio, gostoso, diverso da dor imaginada pela falta de contornos. As aulas foram passando...Ela foi me contando que desde que
começou a pintar aquele quadro, ela estava mudando.
Percebia o corte novo no cabelo, a cor mais pro ruivo...ela passou a responder as críticas mais prontamente..estava mais segura. No final, seu quadro estava lindo. Um belo fundo de mar, escuro no fundo, mas com a promessa de luz vinda de raios por cima..e nadando no mar lindos peixes coloridos. E ela também estava radiante. Eu sabia que lá dentro, o pincel havia dito ao espírito que poderia ousar sem medo.
Eu ficava maravilhada. Nunca mais pintou casarios. Agora estava voando em outras expressões.
Fazer coisas novas, por mais pequenas que sejam , podem transformar a alma..
Que coisas novas você fez hj?? E eu??
O ano em que Jimmy morreu
Naquele ano fui passar as ferias na casa da minha tia no Rio de Janeiro.
Eu não gostava muito porque lá não tinha nada pra fazer. Minha prima tem 10 anos a mais do que eu, e eu detestava ficar naquele apto sem fazer nada. Eu tinha 6 anos na época e praia só com "as velhas"...acabei ficando doente.
Uma gripe forte, daquelas que derrubam mesmo. fui pro quarto da prima, deitar nas almofadas, enquanto as "velhas" ficavam na sala, conversando.
Tava quase dormindo quando ouvi a porta do quarto abrir e minha prima entrou com uns amigos. Sentaram-se num canto da sala, em roda. Ela veio ver se eu estava realmente dormindo...eu finji que sim...atriz de qualidade inegável, enganei a todos.
Ela foi sentar-se na roda dizendo que eu estava adormecida profundamente.
Assim camuflada, pude abrir meus olhos bem lentamente ate um ponto em que conseguia enchergar sem dar bandeira, sabe???
E percebi que rodava algo, que cheirava forte, entre eles...Fumavam maconha, rindo e chorando juntos. Falavam do sentido da vida, da certeza da morte, de aproveitar as oportunidades, do medo de enfrentar as conseqüências, da juventude e velhice...e fumaram muito, e riram e choraram muito. E um nome era ouvido de vez em quando: Jim Morrisom.
Na época eu não entendia nada...
Depois eu cresci, e soube que naquele dia morria Jim Morrisom.
Conheci The Doors alguns anos mais tarde, e juntei dois mais dois.
Hoje sou fã de carteirinha deste lizard que era fã de tolkien e viagens psicodélicas.
Engraçado que ainda ouço os mesmos questionamentos...ainda hoje, choro e dou risada com amigos falando sobre os mesmos assuntos que circularam junto com a maconha naquele círculo de amigos, há tanto tempo atrás...
Nada mudou. Bem, muito mudou nestes anos, mas a essencia do humano continua lá, um mistério...e essa busca pelo desconhecido interior move muitos.
No fim, subir minha montanha tem muito a ver com isso..me conhecer, saber meus medos, limites, fraquezas e forças.
Dizer pra Vida: common baby and let my fire!!!
Floresta Encantada
Minha terra era pasto. Já foi Floresta da Mata Atlântica, mas caiu pra fazer carvão. Porque as pessoas precisam comer, precisam comprar roupas e remédios, precisam se alimentar. Mas, como disse Bertrand Russell, "Precisamos cuidar do mundo que não veremos".
E aqui na Santa Roça, nada disso acontece. A árvore não tem valor. Não se pensa no mundo futuro, por que??Porque simplesmente ninguém sabe que a árvore faz parte do futuro. Que sem elas, não tem futuro.
Meu vizinho jogou mata-mato na beira do rio, no lado da margem dele. Fui lá falar com ele. Isso ja faz dois anos. Ele continua a fazer isso, e não fala mais comigo. Tudo bem. Eu não teria assunto a tratar com este homem.
Mas acontece que eu preciso falar. Primeiro porque dói na minha alma, e depois porque eu sofro as conseqüências deste desmatamento da margem esquerda do Rio do Peixe. Este lindo Rio tem cheias constantes na época das chuvas, época que já está acabando. Estas cheias invadem minhas terras, e todas as ribeirinhas.
Até ai, nestes quatro anos de Shire, sempre foi um show da Natureza. Jim Morrison que me perdoe, mas um tesão de show...só que este ano, o açoreamento foi demais de ruim. Encheu minha terra de areia, levou boa parte do terreno do vizinho, espalhando grande quantidade de terra no fundo do rio, tornando esta passagem estreita, fazendo as águas subirem mais.
Ou seja, mais áreas sendo devastadas pela enorme quantidade de água que sobe.
E o que tem tudo isso com Floresta Encantada? Tudo, eu digo. Final do ano passado, reflorestamos as terras com a ajuda de uma ONG. 3.400 mudas plantadas, que serão cuidadas por dois anos. Com estas enchentes, estas mudas estão cheias de areia e barro, e outras tantas foram arrastadas pelas recentes cheias...
Minha Floresta Encantada...sendo arrastada pela força do Rio do Peixe...bem, parte dela!
Mas eu sei semear. Colocar uma semente num montinho de terra e água. Paciência. Mais água. Mais paciência. Broto.
Mais água e paciência...e quando menos se espera a muda cresceu e esta pronta pro replantio. E ai, mais paciência, por que é assim que se encantam florestas...
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